Alta da gasolina deve elevar IPCA em 0,2 ponto

Arícia Martins 

01/10/2015

A fraqueza da atividade econômica, que tem reduzido o consumo de combustíveis - só em agosto, houve redução de 11,2% no consumo de gasolina comum-, não deverá evitar o repasse para os consumidores do aumento da gasolina anunciado pela Petrobras para as refinarias. Na avaliação dos economistas consultados pelo Valor, o reajuste virá e deverá adicionar pressão à inflação. Um outro fator que contribui para essa visão é que o início do período de entressafra da cana-de-açúcar deverá pressionar os preços do etanol hidratado e do álcool anidro, que têm participação de 27% na composição do combustível fóssil.

O último reajuste da gasolina, de 3%, tinha sido feito no início de novembro do ano passado. Em vigor desde ontem, a correção de 6% da gasolina aos distribuidores deve chegar com intensidade de 4,5% às bombas e adicionar 0,21 ponto percentual ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, nos cálculos da LCA Consultores. Segundo o economista Fabio Romão, o maior impacto, de 0,17 ponto, ocorrerá sobre o mês de outubro, e não deve ser mais fraco em função do cenário de recessão econômica.

"A gasolina não tem uma elasticidade tão grande em seu consumo como, por exemplo, o veículo automotor. É difícil imaginar que o aumento da gasolina vá reduzir de maneira importante a demanda pelo combustível", diz Romão, que elevou de 0,54% para 0,71% sua estimativa para a alta do IPCA neste mês, após a decisão da Petrobras.

A projeção para a inflação oficial de 2015 foi mantida em 9,7%, porque a LCA esperava uma correção mais forte da gasolina aos distribuidores no fim do ano, de 7%, mas a surpresa foi compensada pelo reajuste de 4% do diesel, que não estava no cenário. Ao consumidor, esse aumento deve ser de 2,7%, mas o impacto direto no IPCA é muito pequeno, afirma Romão.

Flávio Serrano, economista-sênior do Haitong, aumentou sua estimativa para o avanço do IPCA no ano em 0,2 ponto, para 9,6%, devido ao reajuste da gasolina. A previsão para outubro também mudou. O indicador deve subir entre 0,65% e 0,70% neste mês, avalia Serrano, enquanto a projeção anterior era de alta de 0,50%.

Se considerada somente a correção nas refinarias, a gasolina teria alta de cerca de 4,5% dentro do IPCA de outubro, calcula o economista do Haitong. O aumento, no entanto, deve ficar entre 5% e 6%, porque, além do reajuste da Petrobras, a redução da oferta de álcool em meio ao período de entressafra também representa uma pressão sobre os preços da gasolina.

Cada aumento de 10% do álcool anidro eleva a gasolina em 1,2%, estima Serrano, e, daqui até o fim do ano, a expectativa é que o etanol usado na mistura do combustível fóssil fique cerca de 20% mais caro. "Em sua maioria, os preços de produtos agropecuários são mais determinados pelas condições de oferta. Mesmo com a demanda em baixa, o etanol vai subir", disse.

Para Serrano, a recessão até pode mitigar um pouco o avanço da gasolina que ocorre em função da sazonalidade mais desfavorável no fim do ano, mas não há como o reajuste nas refinarias ser totalmente absorvido pelos distribuidores, principalmente depois de todos os aumentos de custos do setor nos últimos anos.

Valor econômico, v. 16 , n. 3853, 01/10/2015. Brasil, p. A4