Após governo anunciar corte de R$ 26 bilhões, dólar recua 1,54%

 

RENNAN SETTI

O globo, n. 29989, 15//09/2015. Economia, p. 22

 

Foi a cotação de fechamento do dólar, em baixa de 1,54%, após o governo anunciar corte de gastos de R$ 26 bilhões. Trata- se da maior queda da moeda americana desde 10 de agosto, quando havia recuado 1,9% O dólar comercial registrou ontem sua maior queda em mais de um mês, refletindo o corte de gastos de R$ 26 bilhões anunciado pelo governo. A divisa americana recuou 1,54%, a R$ 3,818. O dólar não caía tanto desde 10 de agosto, quando fechou em baixa de 1,91%. A Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa) também se favoreceu do bom humor dos investidores com o corte, registrando alta de 1,90% no índice de referência Ibovespa, aos 47.281 pontos.

XAUME OLLEROS/ BLOOMBERG/ 20- 7- 2015Câmbio. Decisão do BC americano também pode influenciar o dólar

— Os cortes vieram em linha com o que o mercado estava esperando. Agora, aparentemente, o governo está cortando despesas efetivas. O mercado talvez esteja acreditando que o governo está, finalmente, sentindo na pele toda essa situação — afirmou Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

BANCOS PUXAM BOLSA DE SP

Na Bovespa, puxaram o pregão as ações do setor bancário. O Banco do Brasil subiu 4,15%, o Bradesco avançou 4,46%, e o Itaú Unibanco, 4,03%. A BM& F Bovespa saltou 3,56%, enquanto a Itausa teve alta de 4,86%.

— O corte ficou até um pouco acima da nossa expectativa, que era por volta de R$ 22 bilhões. Os bancos foram os primeiros a reagir porque são os papéis com maior liquidez e são ações consideradas defensivas pelos investidores. Além disso, haviam sofrido muito com o downgrade ( pela Standard & Poor’s, no dia 9) — disse Rafael Ohmachi, da Guide Investimentos. — O anúncio fez o mercado se animar um pouco, mas ainda é cedo para marcar uma posição.

Mas, refletindo a desvalorização do dólar, os papéis de companhias exportadoras fecharam em queda. A JBS recuou 1,98% enquanto a Suzano teve baixa de 2,32%, e a Fibria, de 2,23%.

Pela manhã, o mercado havia sido influenciado por dados da economia chinesa. A produção industrial da China em agosto avançou 6,1% na comparação com o mesmo mês de 2014 — abaixo das estimativas de economistas, de alta de 6,5%. Os investimentos nos oito primeiros meses do ano, por sua vez, registraram a menor alta desde 2000, subindo 10,9%, contra a expectativa de 11,2% dos analistas. Com isso, o índice Shanghai Composite, da Bolsa de Xangai, recuou 2,7%.

EUROPA E NY EM BAIXA

Na Europa, as ações fecharam em queda. Os investidores ficaram em compasso de espera sobre a reunião do Federal Reserve ( Fed, o banco central dos EUA) que termina na quintafeira. No encontro, o mais aguardado dos últimos anos, o Fed decidirá se vai ou não elevar os juros básicos do país, que estão no intervalo entre zero e 0,25% ao ano desde dezembro de 2008.

O índice de referência Euro Stoxx fechou em baixa de 0,39%, enquanto a Bolsa de Londres recuou 0,54%. Em Paris, o pregão registrou desvalorização de 0,67%, enquanto a Bolsa de Frankfurt encerrou em alta de apenas 0,08%.

Em Wall Street, o Dow Jones caiu 0,38%, enquanto o S& P 500 teve baixa de 0,41% e o Nasdaq, de 0,34%.

— Os mercados devem se comportar assim até saber o que acontecerá com os juros dos EUA — disse Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest.

 

Mercado prevê inflação de 5,64% no ano que vem

 

Após o anúncio de que o Brasil perdeu o grau de investimento, os analistas do mercado financeiro pioraram as projeções para a economia neste ano e no ano que vem. O principal impacto é no comportamento do dólar. A estimativa para a moeda americana no fim de 2015 subiu de R$ 3,60 para R$ 3,70, e no fim do ano que vem passou de R$ 3,70 para R$ 3,80. O dólar é visto como um dos maiores perigos para o controle da inflação. Segundo a pesquisa que o Banco Central faz com instituições financeiras, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) para o ano que vem aumentou de 5,58% para 5,64%. É a sexta alta consecutiva da aposta, apesar de o BC reiterar que quer alcançar a meta de 4,5% para a inflação no ano que vem.

O pessimismo é ainda mais disseminado entre as instituições que mais acertam suas estimativas. A previsão do grupo chamado Top 5 para a inflação no ano que vem deu um salto de 5,28% para 5,98%. E, para 2017, a aposta passou de 4,48% para 4,80%. Tudo isso reflexo da queda do rating e da crise política.

Os analistas acham que a retração será mais profunda do que o previsto. A projeção para a queda do PIB passou de 2,44% para 2,55%, a nona semana seguida de piora. A indústria deve amargar uma queda de 6,2%, ante perspectiva anterior de 6%.