O calote dos carros importados de Collor

16/07/2015 

 
 
Breno Fortes
Warner Bento Filho
Adriana Bernardes
 
Veículos de luxo apreendidos pela PF na residência do senador em Brasília devem R$ 343 mil em impostos. Político alagoano é suspeito de se beneficiar dos desvios da Petrobras.

Os três automóveis esportivos apreendidos pela Polícia Federal na residência do senador Fernando Collor (PTB-AL) em Brasília somam dívidas de R$ 343.480,48 em IPVA. O modelo com a maior pendência é a Lamborghini, que deve R$ 250.370,68. A Ferrari soma R$ 85.715,96 em atrasos; e o Porsche, R$ 7.393,84. As apreensões foram feitas na manhã de terça-feira, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no âmbito da Operação Politeia, braço da Lava-Jato.

Juntos, os três veículos estão avaliados em R$ 4,82 milhões, de acordo com a Tabela Fipe. Eles não constam da prestação de contas de campanha do senador em 2014 porque estão registrados em nome de duas empresas: a Água Branca, de propriedade do próprio parlamentar e da mulher, Caroline, com sede em São Paulo; e a Jatobá Comércio de Combustíveis, de aliados políticos, com sede em Maceió.

A declaração de bens do ex-presidente — que chamava de “carroças” os carros fabricados no Brasil — lista outros 14 veículos, incluindo mais uma Ferrari, declarada por R$ 556 mil, uma BMW (R$ 714 mil) e uma Mercedes (R$ 342 mil). No total, os carros declarados somam R$ 2,84 milhões (veja quadro). A declaração inclui uma série de empréstimos à empresa Água Branca. São 15 operações, que somam R$ 6,96 milhões em empréstimos à holding proprietária de dois veículos.

Os veículos apreendidos estavam na Casa da Dinda, propriedade de Collor no Setor de Mansões do Lago Norte. A Polícia Federal também fez apreensões em imóvel funcional do senador em Brasília e na casa dele em Maceió. As ações foram autorizadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski e fazem parte de inquéritos da Corte que investigam políticos na Operação Lava-Jato. O objetivo das buscas, de acordo com a Polícia Federal, é evitar que provas importantes sejam destruídas pelos investigados. Collor considerou as ações “invasivas e arbitrárias”.

Outros alvos

A operação deflagrada pela Polícia Federal na terça-feira também atingiu os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), além do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), o ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC) e o ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte (PP-BA). O advogado Thiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, também teve a residência e o local de trabalho vasculhados pela PF. Todos foram citados em delações premiadas como beneficiários do esquema bilionário de corrupção na Petrobras.

A denúncia contra Collor foi feita em delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa. Ele disse que o senador teria recebido R$ 20 milhões do esquema montado na Petrobras, entre 2010 e 2012, em troca de influência do político em negócios na BR Distribuidora. O senador já havia sido citado pelo doleiro Alberto Youssef, por conta de depósitos no valor de R$ 50 mil.

O senador, por meio de nota, repudiou “com veemência” a operação da Polícia Federal. Classificou a ação como “invasiva e arbitrária” e afirmou que se colocou à disposição para ser ouvido. A nota, divulgada na manhã de ontem, foi precedida por um duro discurso da tribuna do Senado, no qual Collor atacou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “A truculência da operação de busca e apreensão, sob o comando do Ministério Público Federal e envolvendo integrantes do Congresso Nacional, inclusive eu próprio, extrapolou todos os limites do Estado de direito.” O Correio procurou o gabinete do senador, mas não obteve retorno.

A garagem do senador

Confira o valor dos veículos do ex-presidente Collor, de acordo com a declaração prestada à Justiça Eleitoral

Modelo / Valor declarado

BWW 760 IA / R$ 714.471,25
Kia Carnival EX3.8 / R$ 183.000,00
Ferrari Scaglietti / R$ 556.025,81
Toyota Land Cruiser / R$ 180.000,00
Mercedes E320 / R$ 342.810,00
Toyota Hilux / R$ 142.000,00
Gol 1.6 Rallye / R$ 27.000,00
Citröen C6 / R$ 322.804,31
Cadilac SRX / R$ 65.406,00
Hyundai Vera Cruz / R$ 139.000,00
Honda Accord / R$ 51.000,00
Toyota Hilux / R$ 14.346,06
Kia Carnival / R$ 133.810,42
Land Rover / R$ 114.608,97

Total R$ 2,98 milhões

Na Casa da Dinda...

Saiba quanto custam os esportivos apreendidos na residência do senador alagoano em Brasília e quanto os modelos devem em impostos. Os três veículos estão em nome de empresas

Modelo / Valor declarado* / Dívidas de IPVA
» Lamborghini Aventador Roadster / R$ 3.228.251,00 / R$ 250.370,68
» Ferrari 458 Italia / R$ 1.120.972,00 / R$ 85.715,96
» Porsche Panamera S / R$ 473.450,00 / R$ 7.393,84

Total R$ 4,82 milhões / R$ 343.480,48

* De acordo com a tabela Fipe

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Cardozo manda recado ao PT

JOÃO VALADARES

Em mensagem cifrada a uma ala do PT mais ligada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou ontem, na CPI da Petrobras, que, enquanto estiver à frente da pasta, não vai controlar ou instrumentalizar investigações. Ele tem sofrido críticas dentro do partido “por ter perdido o controle da Lava-Jato e permitir vazamentos seletivos”. Cardozo disse que, enquanto estiver no Ministério da Justiça, guardando estrita consonância com a orientação da presidente da República, nunca o ministro atuará na perspectiva de controlar ou direcionar investigações”.

Questionado, disse que não se sente injustiçado pelo PT. “Recebi manifesto de deputados da minha bancada. Vi que algumas pessoas estão insatisfeitas. Não creio que eu tenha errado na condução da Polícia Federal. Claro que existem críticas. Sigo o meu rumo, ditado pela minha consciência”, salientou. Em seguida, Cardozo fez referências à honestidade da presidente Dilma Rousseff e atestou que a Operacão Lava-Jato não passa perto da petista. “Eu tenho absoluta certeza de que nenhum fato relacionado a desvio de dinheiro público, corrupção e improbidade chegará próximo à presidente Dilma Rousseff.”

Em relação às escutas encontradas na cela do doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção na Petrobras, Cardozo afirmou que, se comprovada, a ilegalidade consistirá em ato gravíssimo. O ministro informou que há sindicância em andamento. “Escutas ilegais jamais podem ser feitas, e aí, podem ter absoluta certeza de que, se ficar comprovado, pouco importando a razão, haverá punições, sim, àqueles que praticaram”, assegurou. Um delegado e um agente da Polícia Federal informaram ao colegiado que as escutas encontradas na cela da corporação em Curitiba estavam ativas.

A oposição teme que a comprovação da ilegalidade na coleta de provas possa anular toda a operação. O ministro comunicou que também há uma investigação em curso para apurar a instalação de uma escuta no fumódromo da Polícia Federal de Curitiba e ressaltou que a sindicância deve ser concluída em breve.

Sobre o encontro entre Dilma, ministros e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, na cidade do Porto, em Portugal, Cardozo repetiu a versão oficial. Afirmou que, na reunião, o assunto foi apenas o reajuste do Judiciário e a Lava-Jato não entrou na pauta.

Ironias
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ironizou ontem a operação da Polícia Federal. “A porta da minha casa está aberta, vão a hora que quiserem. Pode ir a hora que quiserem. Eu acordo às 6h, que não cheguem antes das 6h, para não me acordar. Eu não sei o que eles querem buscar lá, mas se quiserem, estou às ordens”, disse o peemedebista, que é investigado no âmbito da Lava-Jato.