Atos pró-governo têm críticas a ajuste

 

Militantes fazem ato pró-governo em São Paulo. As manifestações aconteceram em 25 estados e reuniram 190 mil pessoas (73 mil de acordo com a PM). Houve críticas ao ajuste fiscal. -RIO, BRASÍLIA, SÃO PAULO E PORTO ALEGRE- Manifestações em defesa do governo Dilma Rousseff aconteceram ontem em pelo menos 39 cidades, de 25 estados. Segundo a Polícia Militar, 73 mil pessoas foram às ruas. Já os movimentos sociais que convocaram os atos — em resposta aos protestos contra o governo ocorridos no último domingo — informaram ao site G1 que o número de manifestantes chegou a 190 mil no país. No domingo, a manifestação contra Dilma reunira 879 mil pessoas em 205 cidades.

FLÁVIO FREIREEm São Paulo. Cartaz ironiza política econômica do governo Dilma

Em São Paulo, a manifestação convocada pelo PT começou no Largo do Batata. Foi um ato de apoio, mas também de protesto, marcado por discursos críticos ao ajuste fiscal encampado pelo governo federal. Assim como no resto do país, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi um dos alvos preferenciais. Outro alvo foi o presidente da Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), denunciado ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro.

Figuras do PT tiveram presença discreta no ato, e poucas bandeiras da legenda foram vistas em punho. O presidente do PT, Rui Falcão, ficou cerca de uma hora no local e não discursou. Aos jornalistas, disse apenas que o partido defende o voto popular como forma de rebater o movimento que pede o impeachment da presidente Dilma. Era a mesma posição dos sindicalistas:

— Quem perdeu a eleição tem que reconhecer a democracia e parar com essa ideia de golpe. Mas, para mudar isso, precisamos que o governo mude a política econômica, que é nefasta para os trabalhadores — afirmou o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, em seu discurso.

No Rio de Janeiro, houve duas manifestações. De manhã, reuniram-se aqueles que são contra o pedido de impeachment de Dilma, mas que são críticos à política econômica que ela põe em prática. De tarde, foi a vez daqueles que, além de defender o governo, se posicionam de forma contrária à redução da maioridade penal. Pedindo a taxação das grandes fortunas e a suspensão do pagamento da dívida pública, eles marcharam da Igreja da Candelária à Cinelândia.

RÉPLICA A SUGESTÃO DE FH SOBRE RENÚNCIA

Convocado por CUT, Contag, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Estadual dos Estudantes (UEE), entre outras entidades sociais, o ato contou com a presença e discursos de deputados da base aliada. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por ter pedido a renúncia de Dilma como um “ato de grandeza”.

— Ato de grandeza seria se ele respeitasse as urnas — disparou.

Em nota, a Secretaria Geral da Presidência declarou que “os movimentos sociais deram uma grande demonstração de compromisso com a democracia e com os avanços sociais” Dois petistas discursaram: Benedita da Silva e Carlos Minc. A deputada disse que não havia ido ao ato para “defender a corrupção, mas sim um projeto de país”. O deputado lembrou a ditadura militar e incitou a oposição a “se preparar para enfrentar Lula em 2018”. Nas ruas, houve quem sentisse falta do senador Lindbergh Farias.

Em Brasília, os militantes vestiram vermelho e se reuniram no Centro. Além de bandeiras, carregavam placas com frases como “Golpe não” e “#ForaTucanosCorruptos”. Apesar dos gritos de “olê, olê, olá, Dilma, Dilma”, os manifestantes pediram mudanças na política econômica, com cartazes que criticavam Levy.

Em Porto Alegre, o Movimento em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais coletou 610 assinaturas de apoio a um manifesto que pedia o fim da interferência econômica no processo eleitoral e se posicionava contra o “ataque sistemático aos direitos sociais”. ( Participaram da cobertura Juliana Castro, Cristina Tardáguila, Mariana Sanches, Sérgio Roxo, Stella Borges e Renata Mariz)

 

Dilma, Temer, Levy e Renan viram personagens de filmes

 

Numa tentativa de conciliar humor e críticas a autoridades do governo federal e do Congresso Nacional, manifestantes do Rio e de São Paulo recorreram a filmes conhecidos durante os atos de ontem. Embora tenha recebido apoio nos eventos para continuar no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff virou “Dilma Mãos de tesoura” em um dos cartazes. Abaixo, vinha o dizer “Contra os cortes e a retirada de direitos”, numa crítica ao ajuste fiscal feito pelo governo para equilibrar as contas públicas. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi lembrado como “O Lobo de Wall Street” junto à frase “Já vimos esse filme”.

Um dos principais alvos dos atos, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), virou “O Exterminador do Futuro”. Sobrou ainda para o vice-presidente Michel Temer, que apareceu como “O Poderoso Chefão”, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava-Jato, transformado no personagem Freddy Krueger num cartaz sobre o filme “A hora do pesadelo”.

Os cartazes foram elaborados pelo Movimento Rua Juventude Anticapitalista, formado no início de 2014, com inspiração nas manifestações de junho de 2013. No Rio, o grupo optou por não participar do ato em favor de Dilma, que aconteceu à tarde. Preferiu se manifestar pela manhã, justamente para não dar a impressão de apoio ao governo. Já em São Paulo, integrantes do grupo participaram do evento divulgado pelo PT.

— A nossa sede em São Paulo fez a arte, numa ideia de ser contra os absurdos que estão acontecendo. O ajuste fiscal atingiu a educação e eu, como futuro professor, acho isso a pior coisa — afirmou o estudante de Letras Marx Mascarenhas, de 19 anos, que é do movimento e passou o trajeto da passeata colando os cartazes nas paredes ao longo do caminho.

Em São Paulo, integrantes de movimentos como a Central Única dos Trabalhadores ( CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) levaram até um boneco do ministro da Fazenda, com o número 171 marcado no terno. Levy foi, junto com Cunha, um dos alvos preferenciais dos manifestantes na maioria das capitais.

A oposição não escapou e, na mesma manifestação, foram levados bonecos dos senadores do PSDB José Serra ( SP) e Aécio Neves ( MG) vestidos de presidiários. Eles traziam no peito o número 45-171. Cunha apareceu com com o 15-171. Era uma referência aos números de urna do PSDB e do PMDB, respectivamente.

Em Brasília, também havia um boneco do presidente da Câmara com uniforme de presidiário e uma placa no pescoço do boneco com o dizer “Ladrão de direitos”.