Criticados, 6 ministros se equilibram no poder

12 jul 2015

FERNANDA KRAKOVICS

Temer, que assumiu a articulação política, também é alvo de ataques

-BRASÍLIA- Em meio à crise política e econômica, ao menos seis ministros do governo Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer, que cuida da articulação política, estão sem sustentação partidária ou sob forte ataque da base aliada. José Eduardo Cardozo ( Justiça), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Manoel Dias (Trabalho) e Temer são pressionados por seus próprios partidos a deixarem seus cargos. Já Aloizio Mercadante ( Casa Civil), Joaquim Levy (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, têm políticas e ação questionadas.

Reclamando de sabotagem do PT, setores do PMDB pressionam Temer a deixar a articulação. Eles reclamam que Mercadante não honra os acordos fechados pelo vice para preenchimento de cargos e liberação de emendas parlamentares. A saída de Temer da função simbolizaria um desembarque do PMDB do coração do governo, mesmo que o partido mantenha seus ministros. Um dos principais defensores dessa tese é o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O vice-presidente, no entanto, resiste.

— Eu já fiz a observação que eu tinha que fazer, no momento que eu tinha que fazer. Agora, não vou fazer todo dia a mesma observação. Ele tem que concluir o processo dele de aprovação do ajuste fiscal. As Casas (Câmara e Senado) vão entrar em recesso no final da semana que vem — disse Cunha, apostando que a saída de Temer da articulação política é questão de tempo.

O PDT está dividido entre manter o ministro Manoel Dias, substituí-lo por um deputado do partido ou desembarcar do governo. A Executiva Nacional se reunirá terça-feira, mas o presidente do partido, Carlos Lupi, em jantar com a bancada da Câmara na última quarta-feira, implodiu a tese da independência:

— A gente considera um risco a saída do PDT, que pode significar abrir a porteira para que outros partidos façam o mesmo. Temos que pensar no Brasil. O governo precisa de toda a força para evitar golpes — disse o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE).

CARDOZO E ROSSETTO NA MIRA

Acusado de “não controlar” a Polícia Federal, o ministro da Justiça tem sido bombardeado pelo PT devido à Operação Lava-Jato, que investiga corrupção na Petrobras. O escândalo chegou às portas do gabinete de Dilma após Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, ter afirmado, em delação premiada, que doou para a campanha à reeleição R$ 7,5 milhões provenientes de esquema de propina na estatal.

Outro na mira do PT é Miguel Rossetto. Ele pertence à ala petista Democracia Socialista, minoritária e crítica à direção partidária. Responsável pela relação do governo com movimentos sociais, tem sua atuação questionada pelo partido. A Executiva Nacional do PT aprovou convocação tanto de Rossetto quanto de Cardozo para dar explicações ao partido, mas não foi marcada data.

Também petista, Mercadante é praticamente uma unanimidade negativa em seu partido e na base aliada. Conhecido pela falta de traquejo político, é citado como responsável por grande parte dos erros do governo. O ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de substituí- lo pelo ministro Jaques Wagner (Defesa).

Persona non grata no PT e nos partidos mais à esquerda, Levy teve seu ajuste fiscal desfigurado pelo Congresso e tem seu receituário econômico questionado pela base aliada. Integrantes do PT afirmam, e comemoram, que Dilma teria passado a “peitar” Levy. Um exemplo seria a edição da medida provisória que permite a redução da jornada de trabalho com redução de salário, o que contrariou Levy.

Além do ministro da Fazenda e seu ajuste fiscal, o PT e a base aliada atacam a política de juros do Banco Central, comandado por Alexandre Tombini. Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou os juros básicos para 13,75% ao ano, a maior taxa desde janeiro de 2009. O indicativo é que a trajetória de alta continuará, apesar da retração do Produtor Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) e do aumento do desemprego.

Apesar das pressões, Dilma não pretende trocar nenhum auxiliar, principalmente no que se refere a Mercadante, seu braço- direito; Levy, considerado um esteio para recuperar a credibilidade das contas públicas; e Cardozo, o que soaria como interferência na Lava-Jato.