Juro sobe para 13,75%, apesar da retração do PIB

Rosana Hessel

04/06/2015

Por unanimidade, diretores do Banco Central elevam Selic, que atinge o patamar de dezembro de 2008. Taxa real, descontada a inflação, é a maior do mundo. Especialistas acreditam que haverá nova alta, independentemente da desaceleração da economia.

CONJUNTURA 

Embora os indicadores de atividade econômica estejam cada vez piores e vários especialistas avisem que 2015 é um ano perdido, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve o discurso e elevou novamente os juros. Os nove diretores da autoridade monetária decidiram, ontem, “por unanimidade e sem viés”, elevar a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, para 13,75% ao ano, mesmo patamar de dezembro de 2008. O comunicado da instituição afirmou que a decisão foi tomada “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”.

Com esse resultado, o Brasil continua na contramão da maioria dos países emergentes que estão reduzindo os juros, como México, China, Índia, Chile e Peru. Ontem, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa básica da região em 0,05% ao ano.

Além disso, o país continua com os maiores juros nominais do mundo. E, se descontarmos a inflação, tem a maior taxa real em uma lista de 40 países pesquisados pela consultoria MoneYou. “Essa nova alta manterá o Brasil na primeira colocação entre os maiores pagadores de juros do mundo”, destacou o economista responsável pelo ranking Janson Vieira.

O ciclo atual de elevação da Selic foi iniciado em abril de 2013, mas teve uma breve trégua durante as eleições presidenciais. A escalada foi retomada em outubro de 2014, e deve continuar um pouco mais, pelas projeções dos especialistas. O mercado aposta que, na próxima reunião do Copom, em 28 e 29 de julho, haverá uma nova alta, de 0,25 ponto percentual, encerrando assim esse ciclo. Com isso, a taxa básica permaneceria em 14% anuais até dezembro. Para o consultor e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, no entanto, o fato de o comunicado ser idêntico ao da reunião de abril, podem levar os juros ao patamar de 15% ao ano em 2015.

Credibilidade
Com os sucessivos aumentos da Selic, o Banco Central tenta, além de controlar a carestia, recuperar a credibilidade perdida no primeiro mandato da presidente DilmaRousseff, quando houve uma queda artificial dos juros para o menor patamar do país, 7,25%, em outubro de 2012. A estratégia de redução da taxa não durou seis meses, pressionada pela carestia, que encostava no teto da meta de 6,5%.

A saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no segundo mandato da presidenteDilma, ditou uma mudança, inclusive, na postura da autoridade monetária. O presidente do BC, Alexandre Tombini, se esforça para convencer o mercado da autonomia decisória do banco. Repete em todos os discursos que o BC está “vigilante” e fará de tudo para levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro a meta, de 4,5%, no fim de 2016. 

No mercado, no entanto, é consenso de que esse objetivo não será alcançado no prazo previsto. Os especialistas consideram que com a projeção de IPCA em 8,5% no encerramento de 2015, dificilmente a autoridade monetária conseguirá seu objetivo. A mediana das estimativas do mercado para inflação no próximo ano está em 5,5%. 

Sem queda nos preços, o remédio dos juros, mesmo considerado necessário, reduzem a expectativa de retomada do crescimento econômico. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) destacou que a Selic em 13,75% “dificultará a recuperação da economia brasileira”, porque encarecem o capital de giro das empresas. A entidade afirmou que “a combinação das políticas fiscal e monetária aliviaria o custo do ajuste para as empresas e os contribuintes”, permitindo uma retomada gradual da produção.

Negligência
“A atividade continuará na berlinda com essa meta para 2016, mas enquanto o BC não conseguir entregar o que promete, ele não vai conseguir recuperar a credibilidade. Cabe ao BC controlar a inflação, mas foi negligente e agora tem que correr atrás do prejuízo”, disse o economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos. “Se o Banco Central tivesse sido mais comedido lá atrás não precisaria ter que usar um remédio tão amargo agora. Ele está colhendo o furto que plantou.”

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, considera que 2015 é um ano perdido e, por isso, a autoridade monetária buscará elevar os juros o quanto puder. “Considerando o conjunto da alta da Selic desde abril de 2013, isso passa a ser um peso grande no bolso do consumidor. E esse é o objetivo do BC neste momento, segurar o consumo. Acredito que haverá novas altas ainda em 2015”, avaliou.

O professor de Finanças do Insper Ricardo Rocha, considera curiosa a mudança de atitude do BC, no primeiro mandato de Dilma, quando baixou excessivamente os juros, e agora, no segundo, que está nessa escalada sem fim para tentar trazer a inflação para o centro da meta em 2016. “É o mesmo presidente, mas o posicionamento mudou drasticamente. Agora, ele não só quer ser sério, mas está tentando parecer sério. Além disso, me parece que o BC está preocupado que o ajuste fiscal não seja suficiente e por isso subiu ainda mais os juros”, disse.

Na avaliação da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o comunicado do Copom, sem indicação de que poderá interromper esse ciclo de alta dos juros, é positivo porque é coerente com o discurso da instituição. “É muito importante que o BC tenha esse posicionamento, dado que está nesse esforço de reconquista da reputação. Se fizesse um comunicado mais dovish (suave, no jargão do setor) seria ruim”, afirmou ela lembrando que há casas que já estão apostando em IPCA de 9% neste ano. “É preciso manter essa sinalização para que as expectativas de inflação de longo prazo caiam”, disse ela, lembrando que as projeções da carestia para 2017 estão ainda em 4,9% e precisam chegar em 4,5% para confirmar a volta da confiança no BC.