Crise política pode fazer PT encolher na eleição de 2016

 

Petistas já admitem ser difícil manter o mesmo número de prefeituras no ano que vem com escândalos e economia em baixa

29 jun 2015

LETICIA FERNANDES, MARCELO REMIGIO E SÉRGIO ROXO

-RIO E SÃO PAULO- O PT terá de se reinventar nas eleições do próximo ano para manter, pelo menos, o número de prefeituras conquistadas em 2008. Enfrentando a pior crise política e de credibilidade de sua história, que começou com o escândalo do mensalão e se estende até hoje com as investigações da Operação Lava-Jato, o partido corre o risco de reduzir drasticamente o número de municípios sob seu comando em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. A avaliação parte dos próprios caciques da legenda, a começar pelo ex-presidente Lula, que disse estar o partido abaixo do volume morto.

DESGASTE MAIOR EM SP

Em São Paulo, onde os petistas avaliam que o desgaste da legenda é ainda maior, dirigentes reconhecem que será difícil manter as atuais 68 prefeituras. A principal preocupação da sigla e de Lula é com a capital, a maior cidade do país. A gestão de Fernando Haddad é reprovada por 44% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha de fevereiro. Aliados são pessimistas ao analisar as chances de reeleição.

Para agravar a situação, Haddad foi citado por Ricardo Pessoa, dono da UTC. Sua campanha teria se beneficiado das propinas do Lava-Jato. Ontem, em São Paulo, ao inaugurar uma ciclovia, o prefeito foi lacônico sobre o assunto:

— Minhas contas foram aprovadas pela Justiça eleitoral e estão à disposição de todos vocês — disse. — Quanto mais apuração, melhor, porque as pessoas de bem contam com a Justiça.

Para tentar vencer o cenário adverso, Haddad tem distribuído secretarias em troca de apoio na eleição e, assim, maior tempo de televisão. Ganharam espaço no governo PMDB, PDT e PR. Depois da capital, os petistas temem por cidades do ABC, berço do partido. Na eleição de 2012, a legenda perdeu a prefeitura de Diadema, simbólica por ter sido a primeira do país a ser governada pelo PT em 1982. Em São Bernardo, o prefeito Luiz Marinho tem uma gestão bem avaliada, mas está no segundo mandato e não pode se reeleger. A dúvida é saber se ele conseguirá transferir a sua popularidade para seu candidato. Em Santo André e Mauá, os prefeitos Carlos Grana e Donisete Braga enfrentaram problemas de popularidade, e a possibilidade de reeleição deles é vista com desconfiança no partido.

— Nas capitais, a questão nacional vai pegar mais — diz o deputado estadual Luiz Turco, presidente do PT de Santo André.

Líder do PT na Assembleia Legislativa do Rio, Carlos Minc demonstra preocupação com o risco de redução do número de prefeituras do PT. Das 92 cidades, 11 são governadas por petistas, e, segundo o parlamentar, caso o partido não retome antigas bandeiras, não conseguirá eleger nem cinco prefeitos. Minc defende a retomada do diálogo com os movimentos sociais e sindicais e as minorias. Ele ressalta que, entre erros e acertos, o partido não apoiou suficientemente seus prefeitos e deixou de desenvolver políticas públicas.

O deputado estadual Altemir Tortelli (PT-RS), vice-presidente do PT gaúcho, acredita que o partido poderá sofrer um revés nas urnas. No Rio Grande do Sul, o PT tem 73 das 497 prefeituras. Mas não governa Porto Alegre, maior colégio eleitoral, nem Caxias do Sul, o segundo.

— Não tenho dúvida de que as conjunturas econômica e política, se mantidas, criarão impacto forte nas eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades. Questões como a situação do governo e a Lava-Jato passam a ser parte da vida dos parlamentos. Se o ambiente de agora for o de 2016, o impacto será grande nas campanhas — disse Tortelli.

Segundo o vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, todas as capitais serão prioridade em 2016. Onde não for cabeça de chapa, a sigla indicará vices. Cantalice afirma que o PT trabalha com a previsão de aumento de prefeituras, tendência observada nas últimas eleições. Mas reconhece que o processo eleitoral será difícil e que precisa ser precedido da recuperação da economia. Em 2008, o PT conquistou 544 prefeituras; em 2012, 636.

— O PT vive forte pressão, mas temos militância. Nas quatro eleições suplementares que aconteceram, por exemplo, ganhamos três — diz Cantalice.

Eleito em 2012 no segundo turno, o prefeito de Niterói (RJ), Rodrigo Neves, é um dos gestores petistas que tentam se descolar do partido. Pesquisas feitas por seu grupo político mostram que ele é mais bem avaliado quando dissociado do PT. Já em 2012, durante a campanha que o elegeu, ele preferiu esconder associações diretas à legenda. Não usou, por exemplo, a cor vermelha ou a estrela símbolo da sigla. A propaganda do petista foi feita em laranja. O número 13 também foi incluído no material de campanha de forma tímida.

A um ano das eleições municipais, em que tentará se reeleger, o prefeito decidiu esconder ainda mais as menções ao PT. Recentemente, Rodrigo Neves, citado nas investigações da Lava-Jato por ligações com o empreiteiro Ricardo Pessoa, tirou o número do partido de sua conta no Twitter. Ele também excluiu o 13 de todas as mensagens e convites enviados por seu gabinete.

ALIADO DE PEEMEDEBISTA

No ano passado, Neves despertou a ira do presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, ao se aproximar do então candidato Luiz Fernando Pezão (PMDB), reeleito governador do Rio. O PT ameaçou inclusive expulsá-lo se não apoiasse o candidato derrotado do partido, o senador Lindbergh Farias, que terminou em quarto lugar. Quaquá critica a postura do prefeito de Niterói: — Se tiver medo de dizer que é do PT, que vá para outro partido. Petista tem que defender o PT, não temos que nos esconder. Em São Paulo, por exemplo, o eleitorado é conservador, mas a esquerda sempre teve uma parcela dos paulistas. Quando você deixa de ser esquerda, você não ganha os conservadores e perde os progressistas.

Para o vereador Leonardo Giordano (PT), aliado do prefeito de Niterói, é natural que governantes se distanciem do partido em um momento de queda de popularidade. Ele nega, no entanto, que este seja o caso de Neves, mas afirma que o desgaste do PT é “autoevidente”. Procurado pelo GLOBO, Rodrigo Neves não quis se pronunciar. A assessoria de imprensa do prefeito disse que ele está “focado na gestão da prefeitura de Niterói”.