Valor econômico, v. 16, n. 3764, 27/05/2015. Brasil, p. A2

 

Alta do déficit quase dobra necessidade de financiamento externo até abril

 

Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De São Paulo

As necessidades de financiamento externo quase dobraram no primeiro quadrimestre, mostram dados divulgados ontem pelo Banco Central, devido à queda acelerada dos investimentos diretos e da relativa estabilidade do déficit em conta corrente. Em abril, no entanto, os investimentos diretos vieram acima das expectativas, com entrada líquida de US$ 5,8 bilhões, embora abaixo dos US$ 8,5 bilhões de abril de 2014.

De dezembro a abril, as necessidades de financiamento externo subiram de 0,34% do Produto Interno Bruto (PIB) para 0,64% do PIB, nos dados acumulados em 12 meses. O indicador, que representa a diferença entre o déficit em conta corrente e os investimentos diretos, mede o quanto o país deve atrair de capitais mais voláteis para cobrir o resultado negativo nas suas contas externas.

 

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O déficit em transações correntes aumentou levemente, de 4,47% do PIB em dezembro de 2014 para 4,53% do PIB em abril, sempre nos dados em 12 meses. Já o volume de investimentos estrangeiros no país (IDP) encolheu de 4,13% do PIB para 3,89% do PIB no período.

A diferença entre o comportamento dessas duas variáveis fica mais clara quando são analisados os dados do primeiro quadrimestre. O déficit em conta corrente caiu 12,4%, para US$ 32,462 bilhões, enquanto o IDP teve recuo de 36,3%, para US$ 18,912 bilhões. Visto de outra forma, o IDP financiou apenas 58% do déficit em conta corrente no primeiro quadrimestre deste ano, ante 80% em igual período de 2014.

Apesar da queda mais pronunciada dos investimentos diretos, há os primeiros sinais positivos de uma eventual queda nominal do déficit em conta corrente, refletindo a desvalorização recente da taxa de câmbio e o menor nível de atividade. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, o déficit na conta de serviços teve relativa estabilidade no primeiro trimestre deste ano, interrompendo trajetória de alta observada nos anos anteriores. Desde abril, porém, passou a recuar - e os dados parciais referentes a maio confirmam essa tendência.

Em abril, o déficit em conta corrente somou US$ 6,901 bilhões, bem abaixo dos US$ 9,190 bilhões observados em igual período de 2014. O resultado da balança comercial se manteve basicamente estável, oscilando de superávit de US$ 327 milhões em abril de 2014 para também superávit de US$ 280 milhões em abril deste ano.

Já as despesas líquidas com serviços tiveram um recuo expressivo, de 18%, fechando em US$ 3,514 bilhões em abril deste ano. O destaque foi a queda 33% nas despesas líquidas com viagens internacionais, que somaram US$ 1,2 bilhão em abril. O item transportes recuou 22,3% no mês, para US$ 638 milhões, em virtude sobretudo da redução das importações.

A conta de rendas primárias também teve uma queda importante. O destaque foi um menor volume de remessas de lucros e dividendos, que ficou 42% menor em abril comparado ao mesmo mês de 2014, somando US$ 2,358 bilhões. Maciel explicou que as remessas se reduziram em função da desvalorização cambial, que diminui o valor em dólar dos resultados obtidos em reais por multinacionais, e tambem à menor atividade econômica, que reduz a lucratividade das companhias.

Segundo Maciel, a tendência de redução de gastos com viagens internacionais e nas remessas de lucros e dividendos prossegue em maio, pelo menos nos dados parciais apurados até o dia 22. Isso confirmaria as previsões do BC de que o déficit em conta corrente, que atingiu US$ 105 bilhões em 2014, irá cair para US$ 84 bilhões neste ano. O BC também projetava um recuo nos investimentos diretos, embora num ritmo menor do que o observado neste ano. Pelas contas da autoridade monetária, os investimentos diretos recuariam de US$ 96 bilhões em 2014 para US$ 80 bilhões neste ano.

Como os investimentos diretos estão mais fracos, o país está se valendo de capitais mais voláteis para financiar o seu déficit em conta corrente. É o caso dos investimentos em ações, que somaram US$ 7,023 bilhões líquidos no primeiro quadrimestre, dos quais US$ 3,153 bilhões apenas em abril. Os investimentos estrangeiros em renda fixa, dos quais se destaca a aquisição de títulos públicos, somaram US$ 16,3 bilhões no quadrimestre - US$ 2,847 bilhões em abril.

 

Acordos com México agradam setor produtivo

 

Por Sergio Lamucci | Da Cidade do México

A decisão de ampliar as negociações comerciais e a assinatura de um acordo para facilitar investimentos com o México atendem em grande medida demandas do setor produtivo e dos empresários brasileiros por uma atitude mais ousada do Brasil nas relações com outros países. Os principais documentos acertados ontem entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente Enrique Peña Nieto buscam intensificar as trocas comerciais entre os países com tarifas reduzidas e dar mais estabilidade e segurança às empresas para investir, pleitos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) - embora a instituição também queira outros passos, como crédito para empresas que investem no exterior e medidas que evitem a bitributação.

Entre os documentos firmados ontem, o mais importante foi o acordo de cooperação e facilitação de investimentos (ACFI), para dar mais estabilidade às companhias brasileiras e mexicanas e tentar evitar controvérsias. A expectativa do governo é que isso dê mais segurança aos investimentos já existentes e ajude a atrair mais recursos para os dois países. O México tem US$ 23 bilhões investidos no Brasil, havendo US$ 2 bilhões de investimentos brasileiros na economia mexicana.

Ao falar das relações com o México, Dilma disse que é fundamental uma aproximação maior entre os dois países, as duas maiores economias da América Latina, que contam com grandes populações e grandes territórios. "Brasil e México não podiam ficar de costas um para o outro", afirmou ela.

O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, afirmou que os dois países estão reinventando as suas relações, e que os acordos assinados "modernizam e atualizam o marco regulatório" do relacionamento.

Na visita de Estado da presidente Dilma, os dois governos firmaram ainda um acerto sobre serviços aéreos, para aumentar o número de voos entre os dois países. México e Brasil assinaram ainda memorandos de entendimento nas áreas de cooperação turística, de pesca e aquicultura, de conservação e uso sustentável de recursos naturais e um documento entre o BNDES e o Banco de Comércio Exterior do México.

Por fim, os dois países acertaram o reconhecimento mútuo da cachaça e da tequila como designações próprias e produtos típicos do Brasil e do México. Um dos objetivos do acordo é prevenir "o uso indevido dessas designações", segundo nota do Itamaraty.

Leia mais sobre a visita ao México em:

Levy "quer nosso pescoço?", questiona presidente da CNI