Áudio mostra divisão em conselho da Petrobrás sobre afilhado de Renan

Andreza Matais

Fábio Fabrini

 

Gravações de reuniões do Conselho de Administração da Petrobrás, obtidas pelo Estado, revelam o clima tenso entre os integrantes do colegiado por causa da suposta interferência política do governo nas decisões.
Num encontro de mais de três horas, em 31 de outubro do ano passado, conselheiros acusaram o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a ex-presidente da estatal Graça Foster de agir para segurar a demissão do então presidente da Transpetro, Sérgio Machado, apadrinhado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),e suspeito de envolvimento no esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato.
Na ocasião, a Price Water house Coopers( PwC), auditora dos resultados financeiros da Petrobrás, se recusava a aprovar o balanço do terceiro trimestre da petroleira e exigia providências da companhia em relação aos desvios.
Uma delas era o afastamento Machado. Em depoimento à Justiça Federal, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa havia dito que recebeu R$ 500 mil em propina de Machado, mas ele permanecia no cargo. Nessa condição, seria um dos signatários do balanço, embora acusado de corrupção. Mantega e Graça se esforçavam para adiar o afastamento,ao menos em alguns dias, o que abriria caminho para negociações do governo com o grupo político de Machado. “Se ele é irresponsável, tem que ser demitido”, disse um dos conselheiros na reunião. “Não me parece que seja necessário isso.
Eu posso tentar resolver isso segunda, terça, quarta-feira”, propôs Mantega, que presidia o conselho, ante pedidos de afastamento imediato. “Vou dizer uma coisa aqui que o presidente não vai gostar. Eu acho que isso é porque, primeiro, tem de pedir autorização ao Renan Calheiros.
Se a gente não tem poder aqui para tirar uma pessoa que está complicando a situação da Petrobrás, quem é que manda nessa empresa?”, questionou o conselheiro Sílvio Sinedino. “Tem que afastá-lo com o consentimento dele ou não”, afirmou o conselheiro Sergio Quintella.
Mantega argumentou que, ao afastar Machado, os conselheiros estariam ratificando a acusações contra ele sem a conclusão das investigações. Mas ouviu que, diante de situação muito menos“dramática”, a estatal demitira, meses antes, o ex-diretor financeiro da BR Distribuidora Nestor Cerveró, responsabilizado pela compra desastrosa da Refinaria de Pasadena, nos EUA. “Temos de fazer as coisas de forma razoável. Vamos acolher todas as acusações que foram feitas?”, rebateu Mantega, que chegou a propor férias para Machado.“ Férias,não.Têm de ser afastados os poderes que ele tem”, protestou Sergio Quintella.
Machado só deixou a estatal no início de fevereiro deste ano. Na segunda-feira, a Petrobrás entregou à CPI que investiga corrupção na empresa na Câmara gravações das 12 últimas reuniões do seu Conselho de Administração, a partir de setembro do ano passado. A companhia informou oficialmente à comissão que os áudios e vídeos de outros encontros do colegiado foram apagados.