Título: De temporários a moradores fixos
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 02/08/2011, Brasil, p. 8

Ipatinga (MG) ¿ Quando vinculada à contratação de mão de obra qualificada, a vinda de estrangeiros para o Brasil pode ter a permanência definida, mas que vai se perdendo à medida que o migrante conhece o novo lar, mesmo que seja no interior do país. Em Ipatinga (MG), por exemplo, para a instalação de uma unidade da Unigal, braço da Usiminas que produz aços galvanizados, foram contratados 80 japoneses, sendo a maior parte engenheiros. Eles começaram a chegar no fim do ano passado. Quando a obra foi concluída, em maio, muitos retornaram ao Japão. Mas a Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANPBI), que tem um clube na cidade, tem cerca de 60 famílias associadas. O lugar é um espaço para os japoneses praticarem esportes populares na terra do sol nascente, como beisebol, e uma variante: o softball. Segundo o presidente da ANPBI, Yoshiro Togura, um reflexo da presença japonesa em Ipatinga é a busca grande por tradutores, o que tem levado alguns japoneses aposentados a voltarem a ativa como intérpretes.

A pujança econômica também tem feito com que os brasileiros espalhados pelo mundo voltem para a terra natal. Gonzaga, no Vale do Rio Doce (MG), com quase 6 mil habitantes, reflete esse movimento. De acordo com estimativa de Edilcéia Maia Teixeira dos Santos, assistente social da prefeitura, até 2008, quando estourou a crise americana, cerca de 600 pessoas de Gonzaga estavam no exterior. Hoje, o contigente é bem menor, estimado em 200 pessoas.

O pedreiro Jamir Souza retornou em 2008, após ficar quase quatro anos na Flórida. Jamir foi via México, valendo-se do trabalho dos coiotes para cruzar a fronteira. "Antes da crise, eu ganhava até US$ 150 por dia, mas ficou muito difícil de conseguir serviço", lamenta Souza. Em Gonzaga, o pagamento é menor, cerca de R$ 60 diários, mas a presença da família compensa o rendimento inferior. "Estou pensando em ir trabalhar em Belo Horizonte. Lá, posso conseguir ganhar até R$ 200 por dia", almeja Souza.

A vizinha de Gonzaga, Governador Valadares, cidade mais populosa do Vale do Rio Doce, com 290 mil moradores, é famosa pela exportação de mão de obra para os EUA. O fluxo econômico das remessas dos migrantes é chamado informalmente de "valadólares". Mas, com o retorno dos valadarenses após a crise de 2008, os "valadólares" também minguaram. De acordo com o Banco Central, o volume de transferências legalizadas caiu muito. Nos cinco primeiros meses de 2008, antes do estouro da crise americana, o volume foi de US$ 1,152 bilhão (para todo o país). No mesmo período de 2009, houve queda para US$ 951 milhões. A redução continuou em 2010 (US$ 870 milhões) e neste ano (US$ 837,7 milhões).