Prestes a lançar o livro Quatro & outras lembranças, com poemas escritos na prisão, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha vê com angústia os rumos do governo, que chama de "bipolar", e a encruzilhada do PT, em meio à crise política e ao escândalo da Petrobrás.

 

 

 

 

"O PT será sempre condenado, por ter cachorro e por não ter cachorro. No caso do mensalão, o PT foi condenado por ter feito caixa 2. Agora, no caso da Petrobras, tentam condená-lo por fazer caixa 1", disse João Paulo ao jornal O Estado de S. Paulo, na primeira entrevista exclusiva após deixar o cárcere. Condenado a 6 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva e peculato no processo do mensalão, o petista cumpre pena em regime aberto desde fevereiro e cursa o 5º ano de Direito.

 

 

 

Na entrevista concedida no escritório de advocacia onde trabalha, João Paulo resistiu o quanto pôde a entrar na seara política e só queria falar do livro, que será lançado na terça-feira, 7, em Brasília. Uma prosa aqui e outra ali, porém, e ele se rendeu. "A minha impressão, aqui de fora, é a de que o governo tem um comportamento bipolar", afirmou. "Às vezes, faz tempestade em copo d?água. Outras vezes, diante de uma grande tempestade, pensa que é uma garoa."

 

 

 

Por que Cunha decidiu escrever poemas enquanto estava na prisão? Ele diz que foi uma forma de extravasar o sentimento. Contou ter escrito outras coisas também, tudo a mão. Ter lido quase 60 livros e feito resenha de 21, publicado numa seção do meu blog chamada Janelas do Cárcere. A editora (Topbooks) se interessou mais pelos poemas. "É o primeiro livro que vou publicar, mas haverá outros", conta.

 

 

 

Questionado sobre se o livro continha poemas políticos, Cunha explica que o nome Quatro é uma referência ao dia em que foi preso, 4 de fevereiro (de 2014). "Foi um choque não ter a chave da porta que me permitiria entrar e sair". E que, assim, a leitura e a escrita lhe permitiram andar e viajar por outros lugares e realidades. "A partir desse Quatro pensei ''quatro músicas, quatro beijos, quatro suicidas, quatro peças de roupas, quatro linhas das mãos''.

 

 

 

Em relação a eventuais erros cometidos e a um possível mea-culpa na prisão, Cunha diz que os erros políticos que cometemos são passíveis de conserto. Do ponto de vista do processo propriamente dito, afirmou que não há mea-culpa porque não há crime cometido. Disse ter sido condenado injustamente. "Isso não se confunde com as ações e o desenvolvimento da prática política do partido", avalia.

 

 

 

Perguntado se a atual crise, agravada com o escândalo dos desvios de recursos da Petrobrás seria pior do que o mensalão para o governo do PT, o ex-deputado fala que a história se repete e coloca ao PT um drama. O drama de que o PT será sempre condenado, por ter cachorro e por não ter cachorro. No caso do mensalão, o PT foi condenado por ter feito caixa 2. E agora, tentam condená-lo por fazer caixa 1.

 

 

 

Lembrado pela reportagem de que há quem diga que a apuração na Petrobras tornou o mensalão "fichinha" em irregularidades, Cunha diz que, no caso do mensalão, a história reporá a injustiça. Aquele comentário de que foi o maior escândalo político da história do Brasil é bobagem. Será que foi maior do que a privatização? Claro que não. Entregaram a Vale do Rio Doce por um valor de quitanda... (O mensalão) Foi o maior escândalo econômico? Estamos vendo que não. Só um cara da Petrobras (Pedro Barusco, ex-gerente) devolveu duas vezes mais do que o mensalão todo. (O mensalão) foi um ponto de divisão na disputa política. Foi um erro político do PT, mas não foi o que falaram. Não acharam uma fazenda, uma conta no exterior, um carro importado. Não tem acusação de enriquecimento pessoal, porque não era isso. Para pagar a dívida de R$ 536 mil (imposta pela Justiça, como ressarcimento de recursos que teriam sido desviados), eu hipotequei minha casa, em Osasco, junto ao Bradesco."

 

 

 

O jornal quer saber quem seria o responsável pela crise de hoje: Dilma, o PT, o PMDB, a economia ou tudo isso. Cunha diz que a estrutura de governo de coalizão foi mal estabelecida e a percepção do resultado eleitoral não foi adequadamente compreendida para dela se tirar as ações do governo. Minha impressão aqui de fora é a de que o governo tem um comportamento bipolar. Às vezes faz tempestade num copo d?água. Outras vezes, diante de uma grande tempestade, não sabe usar as ferramentas para enfrentá-la. Pensa que é uma garoa. Mas não quero falar de governo e de política...

 

 

 

Mas a quem estaria Cunha se referindo ao falareferindo quando fala em governo bipolar? "Por exemplo, nessa lei que trata da renegociação das dívidas de Estados e municípios. Se de fato ela criava problema para o ajuste fiscal, por que o governo não alertou prefeitos e governadores antes, restabelecendo nova base de negociação? Além disso, se foi aprovada no Congresso uma nova lei com regras mais duras para a incorporação de partidos, por que demorar tanto para promulgar?", diz.

 

 

 

Questionado sobre se o governo erra com o PMDB, Cunha diz que, após a eleição, o governo tinha de ter percebido o papel que o PMDB teve e tem, do ponto de vista institucional, para ver como deveria ser sua relação. "Não sei se errou, se acertou, mas (o governo) sempre tem de tomar cuidado aí." Deveria então o PT fazer uma autocrítica, pergunta o jornal.

 

 

 

"O PT precisa se renovar, estabelecer uma nova base doutrinária. Não só por causa dos escândalos e dos pseudoescândalos, mas porque o Brasil é outro. Temos 40 milhões de brasileiros que ascenderam na vida, nos últimos dez anos, são atendidos do ponto de vista material, mas esperam mais. Como desenvolver uma política para isso? Há um divórcio, hoje, entre a prática política, a organização partidária, as nossas bancadas e o que muitas pessoas almejam. Nesse momento é importante ter unidade, inclusive deixando que oportunistas e pragmáticos saiam. Fica quem pensa assim e vamos ver o que vai acontecer.", diz.

 

 

 

Perguntado se seria a favor da saída do tesoureiro do PT, João Vaccari, que é réu em ação ligada aos desvios na Petrobras, Cunha recolhe-se em copas: Ai, meu Deus... Vamos voltar a falar do livro, vai... As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

DEI EMPREGO E PAGUEI IMPOSTO’, DIZ YOUSSEF

 

Alvo da Lava Jato afirma não ser ‘só doleiro’, mas é contestado por juiz

São Paulo, 1/4/2015 - Após mais de um ano preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba em decorrência da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef aproveitou seu novo depoimento dado à Justiça Federal no Paraná anteontem (31) para tentar acrescentar novos elementos à própria biografia. “Na verdade, eu não sou só doleiro, sempre tive atividade lícita que era ter empresa, dar empregos, pagar impostos, e isso é o que eu sempre fiz”, disse ao juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato.

Youssef chegou a citar o escândalo do Banestado, no qual também atuou como doleiro, para justificar seu argumento. “Eu podia muito bem ter ficado com aquele dinheiro do (escândalo do) Banestado e ter ficado em casa, mas não, preferi investir esse dinheiro no mercado e correr o risco que o empresário corre no País hoje em montar empresa, dar emprego e pagar impostos”, continuou Youssef, que foi logo interrompido pelo juiz: “Está bom, né, senhor Alberto, mas o senhor se envolveu depois nesses episódios aí da Petrobrás também.” Youssef respondeu: “Infelizmente, excelência. Infelizmente”.

Profissional

Moro condenou Youssef no caso Banestado - escândalo de evasão de US$ 30 bilhões no Banco do Estado do Paraná na década de 1990. Mas o doleiro teve a pena abrandada porque, também naquele caso, fez delação premiada. Ao ser pego de novo em delito no caso da Lava Jato, Moro chegou a chamá-lo de “criminoso profissional”. Mesmo assim, Youssef obteve nova chance de ter a pena reduzida fazendo nova delação no escândalo da Petrobrás.

No diálogo do depoimento de anteontem, Moro pergunta: “Pelo que entendi, o senhor abandonou mesmo a atividade de doleiro?” Youssef responde: “Eu abandonei a atividade de doleiro”. Ao que o juiz rebate: “Mas se envolveu no negócio da Petrobrás”.

Esses trechos do depoimento ocorreram após o juiz indagá-lo sobre o dinheiro lavado no exterior em benefício de sua empresa GDF Investimentos. Diferente de outras companhias de fachada utilizadas por Youssef, a GDF foi criada para que o doleiro “esquentasse” o dinheiro de origem ilícita e também realizasse investimentos em diversas áreas, como o setor hoteleiro, no qual ele adquiriu vários empreendimentos.

Banestado

A empresa foi criada depois da saída de Youssef da prisão em 2004, após ele ser detido pela primeira vez no âmbito do caso Banestado, em 2003, e ter firmado um acordo de delação premiada.

Ao ser pego novamente na Lava Jato, Youssef perdeu as garantias que ele possuía na primeira delação, e quatro ações contra ele do Banestado que estavam paradas voltaram a tramitar na Justiça Federal no Paraná.

No ano passado, ele foi condenado a 4 anos e 4 meses de prisão em uma das ações por pagar propina para conseguir empréstimo de US$ 1,5 milhão no Banestado para o caixa 2 de campanha do então candidato ao governo do Paraná, Jaime Lerner (DEM), em 1998.

Atualmente, ele está preso em caráter preventivo e poderá ficar, no máximo, cinco anos preso como parte das 23 cláusulas de seu acordo firmado com o Ministério Público Federal. A negociação prevê ainda que ele devolva suas propriedades e participações que possui em empresas. 
 
 

CONTROLADORIA COMEÇA A INVESTIGAR MAIS 5 EMPRESAS

Chega a 29 o número de processos administrativos abertos naCGUcontra companhias suspeitas de fraudes na Petrobrás

Brasília, 1/4/2015 - A Controladoria-Geral da União (CGU) determinou ontem (1) a abertura de processos administrativos de responsabilização contra mais cinco empresas envolvidas na Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção na Petrobrás. São elas: Techint Engenharia e Construções, NM Engenharia e Construções, Construcap CCPS Engenharia e Comércio, Niplan Engenharia e Jaraguá Equipamentos Industriais. A expectativa é de que elas sejam notificadas nos próximos dias.

Se comprovada a responsabilidade, as empresas podem, entre outras penalidades, ser multadas e impedidas de celebrar contratos com o poder público.

Além dessas cinco companhias, já foram instaurados outros 24 processos administrativos, desde dezembro, contra outras 24: Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Iesa, Mendes Júnior, OAS, Queiroz Galvão, UTC-Constran, Alumni Engenharia, GDK, Promon Engenharia, Andrade Gutierrez, Fidens Engenharia, Sanko Sider, Odebrecht, Odebrecht Óleo e Gás, Odebrecht Ambiental, SOG Óleo e Gás, Tomé Engenharia, Egesa Engenharia, Carioca Christian Nielsen, Skanska Brasil Ltda., Eit Empresa Industrial Técnica, MPE Montagens e Projetos Especiais.

Polêmica

As penalidades, no entanto, podem ser substituídas por um acordo de leniência. Previstos na Lei Anticorrupção, em vigor desde 2014, os acordos permitem que empresas envolvidas em desvios livrem-se de punições na esfera administrativa em troca de informações sobre as irregularidades. Semana passada, a CGU, por meio de ofício, informou ao Tribunal de Contas da União manter negociações para acordos de leniência com cinco empresas.

Os acordos são alvo de polêmica com Ministério Público. Integrantes do órgão argumentam que as tratativas podem ser feitas com base em informações que já foram obtidas durante o processo de investigação.

Ministério Público Federal e Polícia Federal indicam a existência da formação de um cartel das empresas para fazer contratos com a Petrobrás, mediante o pagamento de uma “comissão”. O dinheiro da propina que seria paga para funcionários da estatal seria usado para abastecer partidos políticos e funcionários da própria estatal.