As taxas de juros do financiamento de veículos tiveram incrementos significativos nos cinco maiores bancos do  país no primeiro trimestre e em alguns bancos de montadora, fator que influencia o apetite do tomador pela  modalidade.  Na Caixa, a taxa média de juros subiu cerca de 2,7 pontos percentuais entre o começo de janeiro e o fim de março,  para 22,3% ao ano, segundo dados do Banco Central. No Banco do Brasil, o incremento foi de 2,9 pontos, para  23,8%. No Santander, o avanço foi de 1,8 ponto, para 23,8%. No Itaú Unibanco a taxa subiu 1,3 ponto, para  25,11% e no Bradesco, a alta foi de 1,7 ponto, para 26%. A taxa básica de juros (Selic) saiu de 11,75% ao ano no  começo de 2015 para 12,75% agora.  A elevação de juros, em boa parte explicada pela escalada da Selic,  segura parte da demanda pela troca de carros que poderia ocorrer  neste ano. “Um consumidor que financiou seu carro em 2012 e que  agora estaria pensando em trocar por um modelo mais novo tem  adiado essa decisão. Em  alguns casos, ele encontra hoje taxas de  juros e outras condições de empréstimo piores que as de quando  tomou naquela época”, diz o executivo de um grande banco de varejo.  O que ajuda a aliviar a pressão de um custo de captação maior nas  taxas de juros é o fato de os bancos terem conseguido, ao longo dos últimos anos, reduzir sensivelmente as  comissões pagas às concessionárias.

Mesmo as taxas médias dos bancos de montadora subiram neste ano. No Banco Volkswagen, saíram de 17,79% ao ano em janeiro para 20,09%. No Banco GMAC, da General Motors, os juros foram de 12,95% ao ano para 19,26%.  Os bancos de montadora respondem por cerca de 62% de todo o financiamento de veículos novos. Em momentos  de crise, costumam incentivar a venda se valendo de taxas subsidiadas, abaixo da média do mercado. Esse  subsídio, porém, fica mais caro conforme sobe a Selic.  Reportagem do Valor nesta semana mostrou que os automóveis subiram de preço, apesar da queda das vendas e  dos estoques encalhados. Montadoras justificam que ficou difícil absorver a pressão inflacionária.

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Ação do BC melhorou risco de crédito a veículo, diz estudo

08/04/2015 - Fonte:  Valor Online 

As medidas macroprudenciais com foco nos empréstimos para compra de automóveis, adotadas em 2010 e 2011, de fato funcionaram, elevando o custo para o tomador, esfriando a demanda e estimulando os bancos a melhorar os padrões de concessão do crédito. Esta é a conclusão de um estudo feito por pesquisadores do Banco Central (BC). A pesquisa, intitulada "Implementing Loan-to-Value Ratios: The Case of Auto Loans in Brazil (2010-11)", está disponível no site do BC e não necessariamente reflete a visão da instituição. Preocupado com o forte ritmo de crescimento do crédito no segmento e tentando resguardar o sistema financeiro de complicações futuras, o BC dobrou o fator de ponderação de risco (FPR) dos empréstimos com elevado "loan-to-value" (LTV) - a razão entre o valor do crédito e o da garantia - e prazos mais longos no fim de 2010. O que o BC fez foi exigir mais capital próprio dos bancos para empréstimos com baixa entrada e prazos superiores a 24 meses. O movimento foi uma resposta à proliferação de empréstimos de risco maior, como os créditos de 60 meses sem entrada, que praticamente desapareceram do mercado depois das medidas. Segundo os pesquisadores, todos os indicadores analisados na época que antecedeu a adoção das medidas apontavam um afrouxamento nos padrões de concessão. Além disso, as taxas de juros cobradas pareciam estar precificando de forma errada os riscos. O trabalho mostra que os juros médios do empréstimo para compra de veículos estavam em 36,5% ao ano em dezembro de 2008, enquanto a taxa do consignado era de 30,8%. Em outubro de 2010, os juros para compra de carro eram de 25,2% ao ano, abaixo dos 27,2% cobrados no consignado, modalidade notadamente menos arriscada. "Essa redução de juros parecia incompatível com o risco. Isso ocorreu, provavelmente, pela feroz competição entre os principais agentes de mercado", diz o estudo. Avaliando a garantia em relação ao empréstimo, que no caso é o próprio veículo, os pesquisadores apontam que o LTV vinha crescendo de forma constante desde 2008. Quanto maior o LTV, mais arriscado o crédito, em especial se considerada a acentuada velocidade de desvalorização de um veículo. Entre 2008 e 2010, as novas concessões com LTV acima de 80% subiram de forma constante, chegando a 48% do total de empréstimos. Após a adoção das medidas, o percentual caiu para 27% em dezembro de 2012. Já o volume de concessões com LTV abaixo de 60% subiu de 21% para 31%, em igual base de comparação. Naquele momento, a inadimplência no segmento não acenava problemas, mas o estudo aponta que o próprio crescimento da carteira, bem como a forma de cálculo dos calotes, impõe um efeito defasado a esse indicador em comparação com outros. Sinal disso é que a taxa de calote caiu até dezembro de 2010, mas já em 2011 começou um movimento de elevação até o pico de 7,2% em julho de 2012, antes de voltar a recuar. Em fevereiro de 2015, essa taxa estava em 3,89%. O estudo também aponta que a ação do BC tem forte efeito de sinalização para o setor financeiro, que capta o "recado" e muda o comportamento na originação dos empréstimos. Mesmo após um afrouxamento das medidas em novembro de 2011, o percentual de crédito com elevado LTV seguiu recuando. "O canal de sinalização foi eficaz. Após a edição da medida, os bancos revisaram suas práticas e corrigiram excessos que vinham ocorrendo. E continuaram a fazê-lo mesmo após o relaxamento da medida", diz o texto. Não custa lembrar que a escalada da inadimplência na modalidade impôs também pesadas perdas aos bancos, que precisaram aumentar as provisões - o que também contribui para que não repitam o receituário adotado no passado. O estudo demonstra e defende o poder do BC como regulador prudencial, que tem de ser capaz de atuar para evitar o acúmulo de risco sistêmico. "Atuar de maneira tempestiva é primordial quando se trata de estabilidade financeira." O estudo faz parte de um projeto do Fundo Monetário Internacional (FMI) - "Adotando medidas de Loan-to-Value e Dívida sobre Renda: Aprendendo com a experiência de outros países" - e é assinado por Tarsila Afanasieff, Rodrigo Coelho e Jaime Gregório, do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro (Desig), e por Fabiana Carvalho e Eduardo de Castro, do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial (Dereg).