Pressionada pelo PT a ter uma postura mais ativa a fim de reverter a queda de popularidade, a presidente Dilma Rousseff atendeu ontem a legenda ao escolher um petista para a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) — Edinho Silva — e um filosófo ligado ao partido para o Ministério da Educação — Renato Janine Ribeiro. Havia a expectativa de a presidente confirmar também a nomeação do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo, em substituição a Vinicius Lages, mas divergências no PMDB adiaram o anúncio oficial.

Renato Janine Ribeiro é professor de Ética e Filosofia na Universidade de São Paulo, o que aproxima a sua trajetória de outro docente da USP, Fernando Haddad, que também foi ministro da Educação e hoje é prefeito de São Paulo. Ele assume no lugar de Cid Gomes, que deixou o cargo na semana passada após confirmar, no plenário da Câmara, as declarações dadas diante de alunos no Pará de que aliados que não votam com o governo são “achacadores”, incluindo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A posse será em 6 de abril.

Ao escolher Ribeiro, Dilma atende à ala do PT, e, ao mesmo tempo, opta por um perfil técnico para o ministério. O filósofo declarou voto em Dilma Rousseff no ano passado, dizendo que o PT conduz melhor as políticas públicas. Em entrevista à revista Carta Capital, depois da reeleição da petista, disse que não a conhecia e que ela teria de fazer concessões à direita e à esquerda para fazer um bom governo. Ribeiro foi diretor de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre 2004 e 2008. Ele é autor de 18 livros, entre eles A sociedade contra o social, ganhador do Prêmio Jabuti de Ensaio em 2011.

Já para a Secretaria de Comunicação da Presidência, Dilma Rousseff escolheu seu tesoureiro da campanha à reeleição em 2014, Edinho Silva (PT). Ele toma posse na próxima terça-feira no lugar de Thomas Traumann, que caiu após o vazamento de um documento interno afirmando que existe um “caos político no país” e que a comunicação do governo e do PT está “errada e errática”.

Edinho é nome de confiança também do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos meses, o PT pressionou a presidente a transferir a verba publicitária do governo — estimada em R$ 200 milhões/ano — para o Ministério das Comunicações, comandado pelo petista Ricardo Berzoini. Em reunião fechada, há 10 dias, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu uma administração mais política dessa verba. Depois de reclamar da maneira com que os veículos de comunicação cobriram as manifestações de 15 de março, ele disse que o governo deveria cortar anúncios nesses meios. A assessoria de Falcão afirmou que as palavras dele foram “mal interpretadas e descontextualizadas”.

Edinho Silva foi prefeito de Araraquara (SP) por duas vezes, além de presidente do PT-SP e deputado estadual. Durante a reforma ministerial, chegou a ser cotado para o cargo, mas a presidente recuou depois de as contas de campanha dela terem sido questionadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com a aprovação das mesmas pela Corte, Edinho passou a ser cotado para a presidência da Autoridade Pública Olímpica, órgão do governo que acompanha os preparativos das Olimpíadas de 2016. Mas desistiu por temer ser reprovado na sabatina do Senado.

Análise da notícia
PMDB deixado de lado
Se atende aos anseios do PT, a “reforma ministerial pontual” anunciada ontem pela presidente Dilma Rousseff não resolve o impasse com o mais perigoso aliado do Planalto no momento, o PMDB. Cid Gomes, antecessor de Renato Janine Ribeiro no MEC, foi derrubado pelo partido do Michel Temer, após acusar a legenda de ter achacadores, como o presidente Eduardo Cunha, e ajudar, ao lado do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, a planejar uma nova legenda — o PL — para desidratar o PMDB.

O auge do prestígio dado ao peemedebista foi a “deferência” concedida pelo Planalto de ser Cunha o porta-voz oficial, para o Brasil, da demissão de Cid. Tão logo ela foi confirmada, o PMDB desfilou uma série de nomes para o MEC: Gastão Vieira, Saraiva Felipe e, por último, Gabriel Chalita, o atual secretário municipal de Educação de São Paulo.

Pupilo do vice-presidente Michel Temer, Chalita foi sondado pelo padrinho se aceitaria o cargo, caso fosse indicado. Afirmou que, a princípio, gostaria de permanecer em São Paulo, para ser vice na chapa de Haddad em 2016. “Mas convite da presidente não se recusa”, deixou em aberto. O convite não veio e o PMDB ficou sem a pasta.