Um dia depois de virar réu no processo da Operação Lava-Jato, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, enfrenta a convocação para prestar depoimento na CPI da Petrobras e a pressão de grande parte dos petistas para que deixe o partido a fim de evitar mais sangramento. Denunciado à Justiça por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, Vaccari constrange a legenda, a presidente Dilma Rousseff e aliados. Um dos temores é que ele chegue a ser preso em novas fases da investigação. A permanência dele é defendida, porém, pelo presidente da sigla, Rui Falcão.

A convocação do tesoureiro foi aprovada ontem pelos parlamentares, que referendaram 96 requerimentos, entre eles, cerca de 50 convocações, pedidos de oitivas e quebras de sigilos. Além de Vaccari, a comissão aprovou a vinda do empresário da Toyo Setal Augusto de Mendonça; do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho; da ex-gerente de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa e a reconvocação do ex-gerente de Serviços da estatal Pedro Barusco. As datas dos depoimentos ainda precisam ser encaixadas no calendário.

Apesar do alto número de depoimentos, o colegiado não votou requerimentos para ouvir políticos e empreiteiros investigados naLava-Jato. Acusado de blindar os colegas, o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), alegou que não havia acordo. Nos mais de 400 requerimentos, havia a solicitação para ouvir o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, também suspeito de participar do esquema de pagamentos de propinas na estatal, o senador Fernando Collor (PTB-AL) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Cinco deputados defenderam a oitiva de Vaccari: Carlos Sampaio (PSDB-SP), Ônix Lorenzoni (DEM-RS), Eliazine Gama (PP-MA), Júlio Delgado (PSB-MG) e Ivan Valente (PSol-SP). Eles esperam que o tesoureiro dê detalhes sobre os recursos que a legenda recebeu da Petrobras. Até mesmo o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), defendeu ouvi-lo na comissão.

Próxima a se explicar ao colegiado, a ex-presidente da estatal Graça Foster estará amanhã na CPI. Ela substituirá o representante da empresa holandesa SBM Offshore no Brasil, Julio Faerman, que mora nos Estados Unidos e não foi localizado para ser intimado. Depois de Graça, a comissão pretende ouvir o ex-gerente-geral de Implementação de Empreendimentos da estatal, Glauco Legati.

Convocado no ano passado pela CPI mista, Legati não compareceu e justificou a ausência com um atestado médico. Para o início de abril, a previsão é ouvir o novo diretor de Gás e Energia da Petrobras, Hugo Repsold. Ontem, o colegiado aprovou requerimentos que pedem contratos da Sete Brasil, empresa criada em 2011 para executar 28 contratos de construção de sondas de perfuração da Petrobras.

Os contratos entre a Sete Brasil e a Petrobras eram de US$ 500 mil por dia para as primeiras sete sondas e de US$ 530 mil para as outras 21. O BNDES financiou o projeto de criação da Setebrasil, que contou com recursos dos fundos de pensão Petros, Previ (Banco do Brasil), Valia (Vale do Rio Doce), Funcef (Caixa Econômica), Petrobras e dos bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander. Representantes legais dos fundos de pensão foram convocados.

Compra suspeita de carro para Cerveró
A Justiça Federal investiga a compra de um carro pela mulher do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, Patrícia. De acordo com a vendedora, o veículo, que custou mais de R$ 200 mil, teria sido pago em espécie por Fernando Soares, o Baiano, em 2012. Segundo o Jornal Nacional, a polícia investiga de quem era o dinheiro e em que circunstâncias o negócio foi feito.

Agripino investigado
A ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia autorizou a abertura de inquérito para investigar o senador José Agripino Maia (DEM-RN). A apuração será feita a pedido da Procuradoria-Geral da República, que suspeitade corrupção passiva. Um empresário acusou o presidente do DEM de receber R$ 1 milhão de propina para implantar um sistema de inspeção veicular no Rio Grande do Norte, governado à época pelo partido. Em nota, Agripino nega a acusação.