O mercado de trabalho e o mundo dos negócios precisam de funcionários e de empresários qualificados para exercer as funções. Nas universidades, as empresas juniores funcionam como escolas que ajudam o estudante a colocar em prática o conhecimento adquirido na graduação e atender a essa demanda. Pesquisa divulgada pela Confederação Brasileira das Empresas Juniores (Brasil Júnior) com exclusividade para o Correio mostra que o país conta com 9,8 mil participantes, a maioria com idade entre 19 e 21 anos. A Federação de Empresas Juniores do Distrito Federal (Concentro) é a 5ª maior do país, com 22 empresas federadas (veja o infográfico).

“É interessante perceber que os universitários, quando entram no movimento empresa júnior, buscam capacitação e diferenciação no currículo. Mas, com o passar do tempo, eles querem contribuir para algo maior, que dê sentido à própria vida”, diz o presidente da Brasil Júnior, Victor Casagrande.

A importância de iniciativas como as das empresas juniores foi mostrada também na pesquisa Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras, divulgada no mês passado. Apenas 14,1% dos entrevistados disseram gastar tempo aprendendo a iniciar um novo negócio. Mesmo entre os que afirmam pensar muito em empreender, apenas 22,6% se dedicam da mesma maneira a começar o próprio negócio. O levantamento foi feito pela organização de fomento ao empreendedorismo Endeavor e peloServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Foram ouvidos 5 mil estudantes e mais de 600 professores.

“Vimos que experiências como a das empresas juniores, que se aproximam do dia a dia do empreendedor, aumentam a confiança do universitário na hora de empreender”, avalia o gerente de Pesquisa e Mobilização da Endeavor, João Melhado. Para ele, as EJs funcionam como escolas onde o aluno vai viver os primeiros passos do empreendedorismo, como ter contato com o cliente, entregar produtos e fazer planejamentos.

Busca por equilíbrio
Hoje, cerca de 93% da empresas juniores pertencem a instituições de ensino superior públicas, estaduais (22%) ou federais (71%). No entanto, Victor Casagrande, da Brasil Júnior, acredita que o incentivo ao empreendedorismo tem crescido nas duas redes e que a participação de instituições privadas deve aumentar nos próximos anos. “A tendência é que toda universidade tenha uma empresa júnior”, atesta.

No DF, das 22 empresas federadas à Brasil Júnior, 20 são da Universidade de Brasília (UnB). As outras duas pertencem ao Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e à Universidade Católica de Brasília (UCB). Outras universidades e faculdades também contam com programas de empreendedorismo desse tipo, mas as empresas ainda não têm o cadastro oficial. O presidente da Concentro, Lucas Costa, explica que o processo de expansão é contínuo. Este ano, a meta é federar quatro empresas do DF, o dobro dos últimos anos.

Este ano, Brasília sediará o maior encontro de empreendedorismo universitário do país, o Encontro Nacional de Empresas Juniores (Enej). Será de 13 a 17 de agosto e a expectativa é receber mais de 2 mil pessoas.

A primeira empresa júnior da capital foi a ADM, da UnB, criada em 1992. “Realizamos mais de 450 projetos de consultoria empresarial ao longo desses 23 anos e temos mais de mil ex-membros alocados no mercado de trabalho em grandes organizações. Antes, não tínhamos nem uma sala e, agora, temos um espaço físico todo adaptado, com cerca de 100 metros quadrados”, afirma a presidente organizacional, Carolina Schwartz, 23 anos.

A consultoria internacional Domani é mais uma das empresas federadas da UnB. Ela oferece serviços para qualquer negócio que precise de apoio no processo de internacionalização, desde aqueles que querem começar a importar até os que pretendem abrir uma filial no exterior.

Além dos benefícios para a formação acadêmica e profissional, como desenvolver a liderança e aprender a fazer um planejamento estratégico, a presidente institucional da Domani, Ana Luiza Prado de Almeida, 21, destaca as vantagens para osempreendedores. “Nós oferecemos um serviço com preço abaixo do de mercado. Isso ajuda especialmente pequenos e médios empresários e incentiva muito o empreendedorismo”, afirma. “O foco da empresa é o aprendizado, e não o lucro”, completa.
A maioria dos clientes atendidos por empresas juniores do Distrito Federal em 2014 eram pessoas físicas ou microempresários. Em todo o país, 66% clientes atendidos pelas EJs também se encaixavam em uma dessas duas classificações. “Como benefício da empresa júnior para a sociedade, é bem claro o desenvolvimento de uma cultura empreendedora, de um polo deempreendedorismo universitário. Além disso, há o fomento, principalmente, para micro e pequenas empresas”, avalia Lucas Costa, da Concentro.

Integração
No UniCeub, todos os cursos que oferecem serviços ao público externo se reúnem em uma mesma empresa júnior, a Projetos Consultoria Integrada. São desenvolvidos trabalhos nas áreas de psicologia, comunicação, administração, ciências contábeis, engenharia civil e arquitetura. Alunos das áreas de formação não abarcadas podem trabalhar na empresa, com exceção dos núcleos de engenharia civil e de arquitetura, que só aceitam estudantes matriculados nos respectivos cursos.

“Quando eu passei na faculdade, fiz um acordo comigo mesmo de que iria aproveitar todas as oportunidades que ela me desse. Assim que entrei na Projetos, vi que era a melhor forma de me desenvolver”, relata Pedro Polenz Muller, 23 anos, estudante do 6º semestre de administração e presidente institucional da empresa.

O crescimento profissional e pessoal também foi observado por Matheus de Araújo, 19, presidente institucional da Conex, consultoria em negócios exteriores da UCB. Para ele, participar do movimento empresa júnior aumenta a preocupação dos jovens com a ética e com a responsabilidade pelo futuro do país. “Além de me proporcionar competências técnicas da área de relações internacionais, pela execução de projetos, desenvolvi aptidões gerenciais por meio de uma experiência real de liderança e internalizei o real papel transformador do empreendedorismo.”



Selo de qualidade

O primeiro passo para se tornar uma empresa júnior federada é entrar em contato com a federação local e começar a participar dos eventos que ela promove. Anualmente, a Brasil Júnior lança editais para concessão do selo empresa júnior, que avalia 18 critérios no total, desde o estatuto da organização até a certidão negativa de débito. Esses requisitos estão disponíveis no link seloej.brasiljunior.org.br