Uma mistura de ansiedade, expectativa e reivindicação. As aulas na Universidade de Brasília (UnB) começaram ontem com uma série de sentimentos e ações. A instituição de ensino superior recebeu todos os 45 mil estudantes matriculados nos cursos de graduação e pós-graduação, entre eles, 4.120 calouros. Primeiro governador do DF formado pela UnB, Rodrigo Rollemberg (PSB), graduado em história, foi convidado a abrir o semestre com uma aula magna, na qual contou como a universidade influenciou na trajetória dele. Antes de iniciar o discurso, o chefe do Executivo presenciou uma manifestação dos estudantes a favor da permanência dos comerciantes lotados no Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão.

O evento realizado no Centro Comunitário Athos Bulcão faz parte da Semana de Boas-Vindas, que vai até sexta-feira com atividades nos quatro câmpus: Ceilândia, Planaltina, Gama e Plano Piloto. Rollemberg chegou por volta das 11h e assistiu ao protesto dos estudantes. Com faixas e cartazes, eles pediram para que os donos de lanchonetes, xerox e livrarias sejam mantidos no Minhocão. A previsão de mudança foi exposta aos comerciantes em fevereiro.

Os estabelecimentos devem ser transferidos para os Módulos de Apoio e Serviços Comunitários (Mascs), construídos na antiga gestão com recursos do Programa de Apoio e Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A maior reclamação dos alunos seria a distância dos módulos. “Temos 15 minutos de intervalo, não dá para andar até lá. Além disso, alguns comerciantes estão no ICC há 30 anos. É necessário haver mais discussão”, ressaltou o integrante do Centro Acadêmico de Sociologia João Marcelo Marques Cunha, 18 anos, estudante do 3º semestre.

No entanto, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que os estabelecimentos nos ICCs Sul e Norte estariam em área pública de forma irregular e precisam se adequar. Para as lanchonetes, a situação é ainda pior. Há um documento da Vigilância Sanitária considerando a situação insalubre. “Ali é espaço acadêmico. Estamos com problemas de ratos, pombos e até pulgas foram encontradas nas salas de aula. Tivemos 12 reuniões para debater o assunto com os permissionários, mas eles não querem sair”, afirmou o assessor do reitor e diretordaCasadaCulturadaAmérica Latina, Ebnézer Nogueira.

O imbróglio atinge comerciantes como Francisco Joaquim de Carvalho, o Chiquinho da livraria. Há 26 anos no mesmo ponto, ele é um dos poucos a não ultrapassar o espaço concedido no início do contrato. “O Chiquinho é querido por todos. Mas a intenção é que haja a migração para o espaço destinado ao comércio. O principal argumento de alguns alunos é a distância, mas o Masc Central, por exemplo, fica a menos de 20 metros da saída do ICC Norte”, completou Nogueira. No entanto, o convívio com cada estudante, professor ou servidor reduziria, segundo Chiquinho. “A melhor parte são as amizades, a história, o dia a dia. Tenho medo de que isso se perca”, afirmou.

Segundo João Marcelo, a CGU pede apenas adaptações nos espaços. “A questão é política. Eles querem revitalizar o ICC e pretendem tirar tudo que não é acadêmico de lá”, completou o aluno de sociologia.

Primeiro dia

Depois da implantação do sistema de cotas para alunos de escolas públicas, a cara da UnB começou a mudar. Embora ainda não existam pesquisas que informem alterações nos percentuais desde 2013,nãofoidifícilencontraraprovados no vestibular que fizeram o ensino médio fora da rede privada. As amigas Gabrielle Alves, 18 anos, e Bárbara Costa, 17, concluíram a educação básica no Centro de Ensino Médio Setor Leste, na Asa Sul. “Valeu a pena todos os dias que deixei de sair para estudar em casa. Meus professores foram grandes apoiadores”, disse Bárbara, aprovada para geografia. “Da nossa sala no Setor Leste, 11 alunos passaram. Encontramos muitas pessoas conhecidas aqui. Estou muito feliz”, completou Gabrielle, aprovada para ciências sociais.