Os reajustes de água e luz em vigor a partir deste mês tornarão ainda mais difícil a missão dos brasileiros de ajustarem as contas em um ano de inflação e juros altos, emprego ameaçado e recessão econômica. Em casa, as famílias intensificam as ações para reduzirem o consumo e não piorarem o nível de endividamento. No Comércio, não há outra saída, por ora, a não ser planejar o repasse dos aumentos para os clientes, pressionando o já elevado custo de vida. 

Dono de um pet shop, Lucas Rios, 29 anos, no entanto, teme novo reajuste na tabela de preços. "A demanda já caiu. Se eu aumentar mais, os clientes sumirão de vez", previu.

Há seis meses, com o encarecimento da mão de obra e dos produtos usados no dia a dia, ele já havia aplicado um aumento médio de 10% nos serviços. 

O funcionamento do pet shop depende diretamente da água e da energia, cujas faturas representam quase 10% dos gastos totais do comerciante. "Estamos desesperados com esses aumentos logo no início do ano, quando a demanda cai. Vamos ter de estrangular o lucro", lamentou. Para tentar atrair mais clientes e, quem sabe, dessa forma, compensar a escalada dos custos, Lucas aposta em promoções. "Temos de usar da criatividade em momentos de crise." 

Na capital federal, a tarifa de água e esgoto, desde domingo, está 16,2% mais cara, o maior aumento desde 2005.

A correção foi definida pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), após o órgão ter recusado uma proposta de reajuste de 23,97% feita pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), que alegou necessidade de "manter a garantia e a qualidade dos serviços prestados, além de assegurar a manutenção de custos". 

Em relação à conta de luz, o reajuste extraordinário autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) passou a vigorar ontem. O tamanho da correção no DF, de 24,1%, superou a média nacional, de 23,4%. Essa alta soma-se ao aumento anual da Companhia Energética de Brasília (CEB) e à inclusão das bandeiras tarifárias nas faturas.

Desde agosto do ano passado, a energia já subiu 47,5% para os brasilienses, e o peso deve ser ainda maior. 

Reação contrária 
Embora previsto em lei, o reajuste extraordinário da conta de luz provoca reações contrárias, sobretudo diante de um ambiente econômico desfavorável. "Está havendo um grande descompasso. Todos os ônus da falta de planejamento são repassados para o consumidor, que, em troca, recebe apagão e má prestação de serviços", comentou a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci. 

A dona de casa Sheila Pereira, 43, não dorme mais antes de tirar da tomada equipamentos da cozinha e da sala.

"Estão me chamando de doida, mas é medo mesmo dessas contas. São muitos aumentos de uma vez só", afirmou. O micro-ondas passou a ser utilizado apenas em extrema necessidade e o banho das crianças não pode mais superar os 10 minutos. "Tem de ser linha-dura mesmo para economizar. Ninguém dá conta de pagar mais com o mesmo salário", acrescentou. 

Site da Receita fica instável 
Os contribuintes que tentaram prestar contas ao Fisco no primeiro dia do prazo enfrentaram dificuldades: o site da Receita Federal ficou instável durante o início da manhã, impossibilitando o download do programa necessário para preenchimento do Imposto de Renda.

Em nota, o órgão informou que a situação foi causada pelo excesso de downloads simultâneos e que o problema foi solucionado rapidamente. O Fisco também liberou na manhã de ontem os aplicativos para o envio da declaração por meio de dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Os programas podem ser baixados nas lojas Google Play e App Store. Segundo a Receita, cerca de 86 mil declarações já foram recebidas.