A reunião da CPI da Petrobras para ouvir o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tornou- se um ato de desagravo ao deputado suspeito de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e serviu de palanque para o peemedebista subir o tom das críticas ao procurador-geral da RepúblicaRodrigo Janot. O peemedebista afirmou que Janot o incluiu na lista de investigados da Operação Lava- Jato de forma “leviana”. Classificou os pedidos de abertura de inquérito de “piada” e de tentativa de transferir a“crise” de um Poder para o outro. Cunha negou qualquer envolvimento nos fatos apurados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal e reclamou dos critérios que foram utilizados para elaboração da denúncia entregue por Janot ao SupremoTribunal Federal (STF). O procurador disse que não comentaria as declarações.

A maior parte dos parlamentares na CPI usou os microfones para defender o colega. “Vossa Excelência é hoje mais presidente do que antes de entrar nessa lista”, disse o ex-líder do PSDB Bruno Araújo (PE). O líder do PT, Sibá Machado (AC), também apoiou o deputado suspeito: “Confio em suas palavras”. Carlos Sampaio (PSDB-SP), Efraim Filho (DEM-PB), Arthur Maia (SD-BA) e outros parlamentares engrossaram o coro favorável a Cunha, com frases como: “Vossa Excelência deu um show”.

A atitude, entretanto, revoltou alguns. “É vergonhosa a reunião de hoje (ontem). Não cabe ao parlamentar absolver antecipadamente”, disse Clarissa Garotinho (PR-RJ). “Cabe a essa comissão fazer perguntas, inquirir. E isso foi o que eu menos vi aqui.” Antes mesmo de a sessão começar, um deputado do PMDB antecipou ao Correio que a reunião seria uma “babaquice” e um “ato político” para defender Cunha.

Em uma crítica ao PT, Eduardo Cunha relacionou vários ministros e parlamentares da base aliada da presidente Dilma Rousseff que receberam dinheiro da Camargo Corrêa oficialmente. Ele mencionou os ministros da Defesa, Jaques Wagner; da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo; da Casa Civil, Aloizio Mercadante; o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro; os deputados Odair Cunha (MG) e Newton Lima (SP); os senadores José Pimentel e Humberto Costa; além das ex-ministras Gleisi Hoffmann e Marta Suplicy.

O Ministério Público suspeita que o presidente da Câmara se beneficiou de propinas pagas no negócio de US$ 1,2 bilhão da venda de dois navios-sondas à Petrobras. Segundo o delator Júlio Camargo, a operação só se concretizou após ele repassar subornos de US$ 40 milhões a Nestor Cerveró e ao lobista Fernando “Baiano” Soares. Youssef disse que Baiano agia em favor do parlamentar fluminense, que nega ter recebido qualquer vantagem ilícita.