O doleiro Alberto Youssef afirmou, em delação à Justiça Federal, que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam do esquema que desviou dinheiro da Petrobras. Porém, o Ministério Público Federal entendeu que o doleiro não apresentou provas desse fato e considerou que essas declarações foram "meras ilações decorrentes de suposições do colaborador". Por essa razão, o MPF decidiu não haver razões para abrir investigações contra Lula, Dilma e outras pessoas que ocuparam postos importantes no Palácio do Planalto e que foram citadas pelo doleiro, como José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, ex-secretário-geral da Presidência, e Ideli Salvatti, ex-ministra de Relações Institucionais.

Ex-ministros da Casa Civil de Dilma, Antonio Palocci e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) também foram citados pelo doleiro como possíveis conhecedores do esquema, assim como Edison Lobão, ex-ministro das Minas e Energia. A investigação contra eles não foi aberta por conta dessas "ilações", mas por outros indícios coletados ao longo das investigações.

De acordo com depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, quando era deputado federal, em 2010, Palocci pediu R$ 2 milhões para a campanha de Dilma. O ex-diretor disse que o pagamento foi feito por Youssef. "O valor saiu do caixa comum dos valores provenientes de propina de contratos da Petrobras, e não de um contrato específico", escreveu o Ministério Público Federal no resumo do depoimento de Costa.

Os trechos das delações de Costa e de Youssef foram disponibilizados, ontem, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Costa afirmou que o PT ficava com 2% do valor de cada um dos contratos de sua diretoria. Já o PP teria obtido 1% de participação no esquema de desvio de recursos da área do Abastecimento da estatal.

Segundo o ex-diretor de Abastecimento, houve o pagamento de recursos do esquema para as campanhas de três senadores do PT, em 2010. Gleisi e Humberto Costa (PT-PE) teriam recebido repasses de igual valor - R$ 1 milhão. Já a campanha de Lindbergh Farias (PT-RJ) teria obtido R$ 2 milhões.

No caso de Humberto Costa, Costa afirmou que o dinheiro não foi requisitado diretamente pelo senador, mas sim, por um intermediário (Mario Beltrão) e o pagamento teria sido feito pelo doleiro Alberto Youssef. Costa afirmou que a contribuição à campanha de Humberto Costa acabou entrando na conta do PP, pois, se fosse na do PT haveria o risco de ele ser destituído do cargo de comando na área do Abastecimento.

O mesmo ocorreu com a colaboração para a campanha de Gleisi. Costa disse que o pagamento foi feito por Youssef na conta do PP, mas divergiu do doleiro ao afirmar que o pedido de "doação para campanha" foi feito pelo então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, marido da senadora. Em sua delação, Youssef negou que o pagamento de R$ 1 milhão tenha sido feito a Bernardo. Mas Costa tem uma agenda com a indicação das iniciais de Bernardo e o valor a ser pago: "1,0 PB".

No caso de Lindbergh, Costa disse que recebeu a visita dele, em 2010, e autorizou Youssef a "doar" R$ 2 milhões para a sua campanha ao Senado. Novamente, o valor foi incluído na cota do PP.

O ex-diretor de Abastecimento ressaltou que Renato Duque, então diretor de Serviços, seria o responsável pelos 2% que eram desviados para o PT e que a ele cabia a cota de 1% para o PP.

Youssef disse que cerca de 30 políticos do PP, incluindo parlamentares e ex-integrantes do Congresso Nacional, receberam dinheiro desviado de contratos da Petrobras. Os pagamentos variavam de R$ 30 mil a R$ 300 mil por mês.

Os depoimentos de Youssef foram concedidos entre 2 de outubro e 24 de novembro de 2014. No primeiro deles, o doleiro afirmou que o pagamento de comissões e a organização de um cartel para desviar dinheiro em obras da Petrobras teve início a partir de um acordo com José Janene, deputado federal do PP morto em 2010, e Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da estatal.

Youssef disse que conheceu Janene, em 1997, e quatro anos depois o político do PP pediu US$ 12 milhões para campanhas políticas que foram providenciados a partir de operações de câmbio feitas pelo doleiro. Antes de ser preso pela operação da Polícia Federal que investigou desvio de dinheiro no Banestado, em 2003, Youssef fez a mando de Janene um repasse de US$ 300 mil a Costa que, na época era dirigente na empresa TGB Gasoduto. Em 2005, quando o doleiro foi solto, Costa já havia assumido a Diretoria de Abastecimento da estatal por influência política de Janene, que ameaçou Lula a retirar o apoio do PP ao governo se não fosse atendido.

Youssef disse que se reunia de duas a três vezes por semana com Costa, Janene e diretores de empresas que faziam contratos com a Petrobras. O objetivo dos encontros, que ocorreram em hotéis e na casa de Janene, seria o de organizar um cartel nas licitações da estatal. Segundo o depoimento do doleiro, os diretores, os donos e os acionistas majoritários das empresas tinham conhecimento do esquema.

A seleção das empresas a serem convidadas para participar dos certames era feita pela Diretoria de Duque. Youssef disse que Duque recebeu ordens de João Vaccari, tesoureiro do PT, "sendo que pagamentos de comissões de empreiteiras teriam se dado através de doações oficiais ao PT". O doleiro afirmou que os pagamentos ocorriam em espécie, com a emissão de notas fiscais para serviços fictícios e através de depósitos no exterior. Ele ressaltou que "o governo federal (PT) tinha conhecimento desse esquema de comissões de contrato da Petrobras para o financiamento político".