Título: Brasileiro na lista do grampo
Autor: Sabadini, Tatiana ; Lobato, Paulo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 15/07/2011, Mundo, p. 16

Brasília e Belo Horizonte ¿ O escândalo dos telefones grampeados no Reino Unido atingiu os familiares do eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia britânica depois de ter sido confundido com um terrorista islâmico, em 22 de julho de 2005. Ontem, foi divulgado que o número do celular de Alex Pereira, primo de Jean que também vivia em Londres, estava em posse de Glenn Mulcaire, o detetive particular contratado pelo tabloide News of the World. A família Menezes enviou carta ao primeiro-ministro, David Cameron, para pedir que o caso seja investigado e cogita iniciar uma ação legal. As escutas telefônicas feitas pelo extinto tabloide News of the World aconteceram em 2007, quando as investigações sobre a morte de Jean Charles estavam em andamento.

Em entrevista à reportagem, o mecânico Alex Pereira afirmou que vai processar o grupo do magnata Rupert Murdoch, do qual o tabloide fazia parte. "Minha advogada, doutora Harriet (Wistrich), me comunicou, via e-mail, que conversou com um policial envolvido nas investigações. Ela contou que o número que eu usava entre 2005 e 2008 estava na lista. Depois disso, troquei de chip. Vou tomar a mesma atitude que (outras vítimas): processar. O que você faria se grampeassem o seu telefone?", questionou, por telefone. "Dei entrevista de graça. O News of the World nos ofereceu 10 mil libras (cerca de R$ 40 mil) por uma exclusiva, na época da morte do Jean, e nós recusamos. Pela falta de respeito, com certeza não vou deixar barato. Por que invadiram meu telefone? Vão ter que pagar pela falta de respeito", acrescentou. Em 2009, Alex retornou a Gonzaga para viver com a mãe, Lúcia, de 54 anos. Hoje, Alex prefere não usar celular: "É fácil encontrar as pessoas em cidade pequena". Situada no Vale do Rio Doce, a cerca de 300km de Belo Horizonte, Gonzaga tem aproximadamente 7 mil habitantes.

Glenn Mulcaire chegou a passar seis meses na cadeia depois que os primeiros casos de telefones grampeados apareceram em 2006. A família de Jean Charles foi avisada pela polícia na quarta-feira e já enviou à Scotland Yard uma lista com nomes de outras pessoas que poderiam ser alvos da ação, incluindo parentes, representantes da organização Justice4Jean e seus advogados. "A família Menezes ficou muito abalada ao descobrir que seus telefones foram grampeados em um momento em que se encontrava mais vulnerável. Eles temem que a polícia possa estar tentando encobrir mais uma vez suas falhas relativas a este caso", afirmou Yasmin Khan, porta-voz do grupo de apoio ao brasileiro.

Na carta enviada a Cameron, os parentes de Jean Charles demonstram preocupação com os constantes vazamentos sobre o caso da morte do brasileiro na imprensa e como isso pode ter influenciado as decisões tomadas no tribunal. "Nós estamos conscientes de que os jornais do grupo News International tiveram uma das mais virulentas e errôneas coberturas da morte de Jean e suas consequências. Durante toda a investigação, informações incorretas continuaram a ser divulgadas na imprensa, na tentativa de manchar o caráter dele", apontou a família. O documento foi assinado por três primos de Jean Charles, Alessandro Pereira (irmão de Alex), Patrícia Silva Armani e Vivian Figueiredo, que estão em Londres.

Privacidade O irmão do brasileiro, Giovani da Silva, aguarda notícias de Londres e espera que a verdade venha logo à tona no caso dos grampos de telefone. Ele também crê que a descoberta da invasão de privacidade talvez possa trazer novidades sobre a morte do brasileiro, mas não sabe se a família entrará com uma ação contra o tabloide britânico. "Ainda é muito cedo para decidirmos alguma coisa. Estamos aguardando a solução disso para ver se temos algum recuso para trabalhar. Vamos primeiro analisar as informações da polícia para saber tudo o que ocorreu. Estamos em contato direito com o pessoal que está lá. De qualquer forma, um dia essa bolha tinha que estourar e vamos saber se vai mudar alguma coisa", disse Giovani.

A morte de Jean, que foi considerado suspeito pelo atentado terrorista no metrô de Londres, completará seis anos em 22 de julho. O escândalo do News of the World revelou que os telefones dos familiares das vítimas da tragédia também foram grampeados. Os primos do brasileiro pediram a Cameron que investigue o policial aposentado e colunista do The Times, Andy Hayman, que comandou a investigação sobre o grampo telefônico. A suspeita é de que o ex-comissário-assistente da Polícia Metropolitana de Londres tenha vazado informações falsas para a imprensa sobre o caso do brasileiro.

Colaborou Rodrigo Craveiro