Oaumento do custo de vida parece não dar trégua. A prévia da inflação, o Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) subiu 1,33% em fevereiro, a maior variação em 12 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. Em fevereiro de 2003, o indicador havia registrado alta de 2,19%. No acumulado em 12 meses, a alta do IPCA-15 foi de 7,36%, acima do limite de 6,5% ao ano previsto pelo governo. É a primeira vez, desde outubro de 2011, que o IPCA-15 fica acima de 7%. Não à toa, especialistas preveem uma pressão cada vez maior nos preços nos próximos meses, e o Indicador de Expectativa de Inflação dos Consumidores para 2015, passou de 7,2% para 7,9% de janeiro para fevereiro, conforme dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). A prévia do IPCA de fevereiro ficou acima da expectativa do mercado. “O resultado surpreendeu, estávamos esperando 1,22%”, afirmou Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. A estimativa da especialista para o mês está em 1,05%, com “viés de alta”. A falta de perspectiva de redução da carestia elevou as apostas de que o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central venha com mais força nos juros em março e aumente a Selic (taxa básica de juros) em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano. A expectativa é de nova alta de 0,50 p.p. em abril, de acordo com Alessandra. O chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, também aposta em alta de 0,50% em março e outras elevações futuras da Selic. Ele demonstrou preocupação com a pressão dos preços e sinalizou que o BC precisará ficar “extremamente vigilante” em relação à inflação. O economista Etore Sanchez, da LCA Consultores, que prevê alta de 7,5% no IPCA deste ano, acredita em elevação expressiva na inflação nos próximos meses. “A tendência é que os preços continuem pressionando a inflação porque há mais aumentos por vir”, destacou. “Haverá uma inversão: o indicador será mais pressionado pelos preços administrados do que pelos preços livres”, avisou. Pelas contas do economista, a alta desse item passará de 5,3%, em 2014, para 12,32%, neste ano. Já o percentual de aumento dos preços livres sofrerá um recuo, passando de 6,8% para 6,18%. Alessandra, da Tendências, estima que a alta dos preços de energia será de 46% este ano. Segundo ela, a consultoria prevê queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, sem considerar o impacto do racionamento de energia. “Se isso ocorrer, a economia deverá encolher 2%”, alertou. O cenário para o brasileiro, portanto, não é nada animador. Além de perder o poder de compra, ele também poderá perder o emprego. “Estamos prevendo aumento na taxa de desemprego para 6,3% e crescimento de apenas 0,2% da renda real, frente a alta de 2,8% no ano passado”, avisou. Um dos maiores vilões da carestia foi a energia elétrica, que teve elevação de 7,7% em fevereiro, com impacto de 0,23 ponto no indicador. Os preços do grupo Educação saltaram de 0,30% para 5,89%. No mesmo período, os custos com transportes, puxados pelo aumento nos combustíveis, passaram de 0,75% para 1,98%.