A Polícia Federal começou a abrir ontem os inquéritos contra operadores de estaleiros e outras empresas acusados na nona fase da Operação Lava-Jato, a "My Way". De acordo com os investigadores, eles agiam pagando propinas para a Diretoria de Engenharia da Petrobras, antes comandada por Renato Duque, para que as empresas obtivessem negócios bilionários com a estatal. Um desses operadores, dizem os delegados, bancou subornos na BR Distribuidora em favor da fábrica de tanques e caminhões Arxo. 

Enquanto isso, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a força-tarefa do Ministério Público estiveram nos EUA buscando informações para subsidiar as investigações. Janot foi ao FBI, a Polícia Federal norte-americana. Os procuradores foram à SEC, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários brasileira. Com eles, estavam analistas da Controladoria-Geral da União e da própria CVM. 

No Brasil, a PF abriu inquérito contra o operador do estaleiro Jurong Guilherme Esteves de Jesus. Segundo Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobras e ex-diretor da Sete Brasil, ele era mais um a pagar propinas em nome do estaleiro para garantir contratos para construir sondas para o pré-sal. O Jurong tem contrato para construir seis sondas, avaliadas em cerca de US$ 4,3 bilhões. 

Ele narrou à polícia que tudo começou a partir de janeiro de 2013. Esteves manteria contratos fictícios e depósitos em contas bancárias no exterior para fazer os pagamentos de propina. Barusco disse que o operador tinha uma empresa offshore chamada Opdale Industries, que enviou US$ 8, 21 milhões para a empresa Natiras, do próprio ex-gerente, para a Drenos, de Duque, para a Firasa, do ex-presidente da Sete Brasil João Carlos Ferraz, e para o diretor da Sete-BR Eduardo Musa. 

Ainda segundo Barusco, o operador do Jurong fazia pagamentos ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele entregou à PF planilhas com seu controle particular sobre esses repasses de dinheiro. "Extratos bancários também foram apreendidos e comprovam o depósito de valores na conta do ex-funcionário da Petrobras pela empresa controlada por Guilherme Esteves", anotou o juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Moro, em um dos despachos da "My Way". O PT, Vaccari e Duque negam as acusações. A Sete-BR diz que investigará as suspeitas. O procurador Deltan Dallagnol disse ao Correio que as afirmações e planilhas de Barusco são confirmadas por extratos bancários obtidos pelo Ministério Público, e que estão em análise pela força-tarefa. 

O advogado de Esteves afirmou ao Correio que poderia comentar o caso no fim do dia, mas não atendeu mais às ligações da reportagem. A assessoria do Jurong não prestou esclarecimentos ao jornal. 

Soltura 
Na semana passada, a PF prendeu temporariamente os sócios da Arxo João Gualberto e Gilson João Pereira e o diretor financeiro, Sérgio Ambrósio Marceneiro. De acordo com os delegados, o operador Mário Góes atuou em favor da empresa para que ela obtivesse contratos com a BR Distribuidora. O delegado Igor Romário afirma que houve repasse de informações privilegiadas, "serviço" pago por meio de propina. No ano passado, a Arxo acertou com a subsidiária da Petrobras um negócio de R$ 85 milhões para fabricar 80 caminhões-tanque para abastecer aviões. 

Mas ontem o juiz Sérgio Moro mandou soltar os três suspeitos. Eles "colaboraram sobremaneira com as investigações, prestando todas as informações e auxílio necessário" à PF, sustentaram os advogados. O juiz concordou: "Esgotadas as diligências de busca e apreensão e colheita de depoimentos, não há mais necessidade da prisão temporária". 

Apesar disso, os três não poderão deixar suas casas por mais de 30 dias. Também não poderão ter contato ou fazer "qualquer espécie de intimidação" sobre a ex-funcionária do setor financeiro da empresa que fez uma das denúncias contra a Arxo. 

Genoino pede perdão da pena 
O ex-deputado federal José Genoino (PT-SP) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a extinção da pena de 4 anos e 8 meses referente à condenação no processo do mensalão por corrupção ativa. Atualmente, o petista cumpre a punição em regime domiciliar. O pedido usa como base o decreto de 24 de dezembro da presidente Dilma Rousseff, que concede indulto natalino a presos que se enquadrem nos critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Política Penitenciária. De acordo com a defesa de Genoino, ele cumpre os requisitos, como bom comportamento.