O rebaixamento da Petrobras para grau especulativo pela agência de classificação de risco Moody" s já era esperado pelo governo. Segundo fontes do Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vinha sendo avisado desde dezembro de que haveria uma redução da nota de crédito da estatal em função do escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava-J ato. Por isso, ele tentava minimizar os estragos. O Palácio do Planalto, entretanto , não vê risco de a decisão sobre a Petrobras contaminar a nota do Brasil. Para analistas de mercado, porém, a nota soberana brasileira também pode ser alterada a curto prazo.

Eles ressaltam que, além da frágil situação fiscal do Brasil, as projeções de crescimento podem ser afetadas pela situação da petrolífera, que lidera os investimentos no país. Com isso, será cada vez maior a cobrança pela implementação do ajuste fiscal. Levy, afirmam as fontes , vinha conversando com a Moody" s — considerada a agência com avaliação mais agressiva em relação à Petrobras — para tentar fazer com que o rebaixamento só ocorresse depois da publicação das demonstrações contábeis referentes a 2014. O balanço do terceiro trimestre do ano passado, por exemplo, foi divulgado pela Petrobras no fim de janeiro sem incluir as perdas decorrentes do esquema de corrupção , sem o aval dos auditores da PwC.

MAIS EMPECILHOS PARA O BALANÇO

Agora, a dificuldade da Petrobras é negociar com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a publicação do balanço de 2014 auditado o mais rápido possível. Segundo as fontes do governo , a expectativa era que isso ocorresse até o fim do mês que vem. Mas o rebaixamento dificultará ainda mais a tarefa da petrolífera. Amanhã, haverá uma reunião do Conselho de Administração da estatal, e um dos assuntos a serem discutidos é a adoção de uma nova metodologia para efetuar a baixa contábil das perdas com corrupção . Segundo essas fontes, para tentar demover a Moody"s, Levy chegou a oferecer uma carta na qual a União se comprometia socorrer a empresa em caso de dificuldade. Mas nada adiantou. A agência reduziu a nota da Petrobras de "Baa3" para "Ba2" , citando o escândalo de corrupção, o atraso na divulgação do balanço e o elevado endividamento.

Ainda assim, para interlocutores do Planalto, não há risco de a decisão sobre a Petrobras contaminar a nota do país. — A entrada do Levy no comando da Fazenda deu ao Brasil mais tempo para colocar a casa em ordem. As conversas do governo com as agências mostraram que elas estão dispostas a dar um voto de confiança — disse uma fonte. Economistas, no entanto, lembram que, ao entrar no grupo de empresas com grau especulativo , a estatal irá pagar mais para captar recursos. Com custo maior, alguns projetos deixam de ser interessantes . E um corte nos projetos da petrolífera acaba afetando o nível de investimento no Brasil e, consequentemente , as projeções de crescimento .

—A relação não é direta, mas tem uma ligação. E dada a deterioração dos fundamentos brasileiros nos últimos anos, bem como a situação complicada para fazer ajuste fiscal, com risco de racionamentos, o Brasil pode mesmo ser rebaixado — avaliou Rodolfo Oliveira, economista da Tendências Consultoria. Avaliação semelhante tem o Bank of America Merrill Lynch. "Dada a importância da Petrobras para a economia brasileira, acreditamos que o risco de um rebaixamento da nota soberana pela Moody" s parece mais provável, mas com o Brasil ainda mantendo o grau de investimento ", afirmara m, em rela tório , analistas do banco . Segundo eles, o rating cairia a "B aa3" , o menor grau de investimento .

Em nota divulgada ontem, o analista sênior da Moody" s para risco soberano, Mauro Leos, explicou que, embora a agência acredite em uma melhora da política fiscal no Brasil, continuará atenta aos níveis de dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). "O rating e a perspectiva atual do Brasil refletem nossa avaliação de vários cenários possíveis, incluindo os mais adversos, como alguma forma de suporte financeiro para a Petrobras. Em nenhum desses cenários , o nível de dívida do Brasil excederia os 70% do PIB", afirmou — em dezembro de 2014, essa relação estava em 63,4%. E Leos ressaltou que pode haver corte se a dívida ultrapassar esse teto. "Um choque para cima desse nível certamento colocaria uma pressão adicional sobre o governo e, portanto , sobre a nota "Baa2" ."

OUTRAS ESTATAIS PODERIAM SOFRER

Interlocutores do Planalto também não acreditam que as outras duas grandes agências de risco, Fitch e Standard & Poor"s (S&P), rebaixem a Petrobras: — A Moody" s sempre foi a mais mal-humorada. Não há, por enquanto , sinais de que as outras farão o mesmo. O banco alemão Deutsche Bank, no entanto, afirmou ontem esperar que S&P e Fitch também rebaixem a nota da estatal. Nessas duas agências, a Petrobras continua tendo grau de investimento (uma chancela de boa pagadora), ainda que, na S&P , ela esteja a apenas um degrau do nível especulativo . Segundo o banco, "a forte ação da Moody" s levanta a exigência ", afirma o relatório do banco. O analista Raphael Figueredo, da Clear Corretora, ressaltou ainda que há risco de contágio da Petrobras em relação a outras empresas, em especial as estatais, como o Banco do Brasil.

Refletindo o rebaixamento , as ações da Petrobras registraram forte queda ontem e puxaram para baixo a Bolsa de Valores de São Paulo . As ações preferenciais (PN , sem direito a voto) da estatal caíram 4,87%, a R$ 9,38, e as ordinárias (ON , com voto) recuaram 4,52%, a R$ 9,30. O Ibovespa teve queda de 0,12%, aos 51.811 pontos , e o dólar avançou 1,19%, a R$ 2,868. O corte da Moody" s ainda dificultou as tr ocas no Conselho de Administração da Petrobras . Dilma Rousseff pediu à equipe econômica sugestões de nomes do setor privado e já teria uma lista . Agora, o processo acabou em segundo plano.