Um estudo recente, feito pelas três principais universidades da Venezuela, comprova que a maior promessa do chavismo - a de acabar com a pobreza no país - não foi cumprida. Mais do que isso: graças ao "socialismo do século 21" implantado pelo caudilho Hugo Chávez, a pobreza aumentou, mesmo depois de um período de pelo menos cinco anos em que a Venezuela foi bafejada por altos preços do petróleo.

 

 

O retrato desse fiasco está no estudo Condições de Vida da População Venezuelana 2014, elaborado pela Universidade Católica Andrés Bello, a Universidade Central da Venezuela e a Universidade Simón Bolívar. O trabalho, realizado entre agosto e setembro de 2014, avaliou as condições de moradia, saúde, trabalho, educação e nutrição, além dos efeitos dos programas sociais, em 1.500 residências. A metodologia utilizada foi a mesma empregada pelo órgão oficial de estatísticas da Venezuela quando realizou a última pesquisa com esse alcance, em 1998 - justamente o ano em que Chávez chegou ao poder. Assim, é possível comparar os dois períodos.

 

Segundo o novo estudo, 48,4% das famílias da Venezuela podiam ser classificadas como pobres no final de 2014. Em 1998, eram 45%. Em números absolutos, significa que hoje há 3,5 milhões de famílias em situação de pobreza. Destas, 1,7 milhão encontra-se em situação de pobreza extrema - isto é, não conseguem nem comprar uma cesta básica de alimentos por mês para que cada integrante da família ingira ao menos 2.200 calorias diárias.

 

A situação tende a piorar, como anotam os pesquisadores, graças à prolongada manutenção dos preços do petróleo em um nível baixo e à alta acelerada do custo de vida. Os números oficiais indicam que, nos últimos 13 meses, a inflação acumulada chegou a 150%. Os alimentos, item de maior impacto entre os mais pobres, ficaram 227% mais caros - isso quando o consumidor consegue encontrar o que precisa, algo cada vez mais difícil ante o crônico desabastecimento.

 

A espiral inflacionária está diretamente relacionada à derrubada dos preços internacionais do petróleo, pois tornou-se impossível satisfazer as demandas de consumo por meio de importações baratas, como se fez durante boa parte do governo Chávez. Ao mesmo tempo, para manter as aparências da "revolução bolivariana", o governo de Nicolás Maduro seguiu o receituário suicida de seu padrinho: ampliou os gastos públicos e arruinou o valor da moeda local.

 

Assim, por causa da inépcia chavista, o número de pobres aumentou mais de 30%, conforme mostra o estudo. Os pesquisadores alertam que uma parte desses "novos pobres", que poderiam sair dessa condição se a economia reagisse de alguma forma, corre o risco de cair na chamada "pobreza estrutural", da qual é muito mais difícil se recuperar.

 

Ainda que apresentem números diferentes, as próprias estatísticas oficiais apontam para o crescimento da pobreza na Venezuela. Segundo o governo, o número de pobres saltou de 25,4% em 2012 para 32,1% em 2013. A pobreza extrema passou de 7,1% para 9,8%. Ainda não foram publicados os números relativos ao ano passado - e o atraso na divulgação dá a entender que, para o governo, talvez seja melhor não tocar nesse assunto.

 

O estudo das universidades alerta que a Venezuela entrou em um ciclo de convulsão semelhante ao dos períodos de forte ajuste econômico ou de comoção social, que resultaram em violência e tentativas de golpe entre a década de 1980 e o início de 2000. E a pobreza vai aumentar ainda mais, com resultados imprevisíveis.

 

Tudo isso mostra que políticas econômicas baseadas na hostilidade ao capital privado, na ampla interferência do Estado e no voluntarismo como fórmula de redistribuição de renda podem até dar a impressão, num primeiro momento, de que são capazes de melhorar a vida dos mais pobres. Cedo ou tarde, porém, chega a conta para pagar - e é justamente sobre os ombros dos mais pobres que recai o maior custo dessa irresponsabilidade.