A petroleira chinesa Sinopec tenta negociar uma reversão da decisão da Petrobras de rescindir contrato de R$ 3,1 bilhões para a construção de unidade de fertilizantes nitrogenados em Três Lagoas (MS). A obra é tocada pelo consórcio formado pela companhia asiática e a brasileira Galvão Engenharia, uma das empresas com funcionários e dirigentes réus na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF). As investigações apuram suposto cartel de empreiteiras contratados pela estatal, envolvendo pagamento de propinas a funcionários e políticos. 

Ao comunicar ao mercado ontem que o contrato foi rompido, a Petrobras limitou-se a acusar o consórcio de não cumprir o acertado, sem detalhar as razões. Segundo fonte próxima ao assunto, o projeto foi paralisado pelo consórcio há cerca de um mês, logo após terem se esgotado as tentativas de renegociar aditivos com a Petrobras. O contrato, assinado em 2011, sofreu modificações solicitadas pela petroleira, o que exigiria o pagamento de acréscimos em razão de custos adicionais do consórcio. 

Mas, com a deflagração da Lava-Jato, os executivos da Petrobras responsáveis pela renegociação dos contratos desapareceram, relata fontes de bastidores. Os funcionários teriam medo de assinar qualquer documento e acabar sendo envolvidos nas denúncias de corrupção. Essa situação levou o consórcio a reduzir gradualmente a velocidade das obras, demitindo pessoal nos canteiros, até que em novembro os trabalhos foram totalmente interrompidas. 

Em janeiro, quando o projeto na divisa com São Paulo estava a pleno vapor, havia cerca de 6 mil funcionários. Hoje, estariam só poucos responsáveis pela manutenção e preservação da unidade. A Petrobras informou então ao consórcio que o contrato seria rescindido unilateralmente, e que as empresas tinham até 10 dias para apresentar suas justificativas para a interrupção das obras, o que ocorreu na última quinta-feira. Agora, o grupo construtor quer esgotar as negociações administrativas antes de tomar a decisão de entrar na Justiça. 

Prejuízos 

Em nota ao mercado, a Petrobras informou apenas que está em dia com todos os seus pagamentos e compromissos previstos no contrato para a construção da usina de fertilizantes. "A companhia está atenta às consequências da inadimplência do consórcio com trabalhadores e fornecedores e está tomando todas as medidas ao seu alcance para que suas obrigações legais sejam cumpridas", afirmou. 

As obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III) se encontram 82% concluídas, segundo a Petrobras. A estatal ressaltou que está refazendo o cronograma do projeto, visando garantir a conclusão do empreendimento no menor prazo. A UFN III é considerada estratégica para reduzir a dependência do país, uma potência agrícola, das importações de fertilizantes. A unidade produzirá por ano 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil de toneladas de amônia, atendendo aos mercados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Paraná. 

Nos últimos dias, a Vale sinalizou que deve acelerar a escolha do modelo e do sócio estratégico para atuar na área de fertilizantes, dentro de sua estratégia de concentrar o foco em minério de ferro, carvão e metais básicos. A oferta doméstica de matérias-primas para a produção de adubos mingua e avança as importações, que alcançam 70% da demanda.