Com a pressão de fatores internos e externos, o dólar subiu ontem 0,96%, para R$ 2,715, mesmo com a ração diária de US$ 100 milhões do Banco Central em operações de swap cambial, que equivalem à venda de divisa estrangeira no mercado futuro. É a maior cotação desde 16 de dezembro, quando a moeda norte-americana atingiu R$ 2,73. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) fechou em alta de 1,58% em um pregão marcado por “ajuste técnico”, segundo analistas, sem grandes influências de fatores específicos.

Para o gerente de Câmbio da Fair Corretora, Mario Battistel, a alta do dólar foi resultado de informações sobre a retração da indústria chinesa e dos sinais de que o BC pode interromper ou reduzir as ações para segurar a cotação. Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o governo não tem a intenção de manter o real “artificialmente valorizado”.

Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, citou esses fatores e dois outros: a indicação de que o novo governo grego de esquerda não pretende recorrer a medidas radicais, algo que incentiva a manutenção de recursos na Zona do Euro; e números novos indicando recuperação da economia dos Estados Unidos, o que atrai capitais para o país e sugere a antecipação de um movimento mais poderoso nessa linha: a elevação da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), algo previsto pelo mercado para ocorrer entre julho e setembro deste ano.

O economista avalia que a perspectiva de alta da Selic, a taxa básica de juros, pelo BC não tem impacto hoje, caso se concretize na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no mês que vem. “Isso já está precificado”, afirmou. Velho prevê o dólar a R$ 2,80 até o fim do ano. Há apostas mais altas: o banco BTG Pactual divulgou ontem previsão de a cotação encerrar dezembro a R$ 3,05.

Fator político
A eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a Presidência da Câmara dos Deputados, no domingo, também repercutiu negativamente no mercado de câmbio, na avaliação do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. “O processo de ajuste fiscal depende do Congresso Nacional, e é possível que se criem mais dificuldades para se chegar ao que é necessário”, pontuou.

Battistel, da Fair Corretora, discorda. “O que vai prevalecer é o toma lá dá cá para a aprovação do que o governo defende”. Velho vai na mesma linha: “A eleição para a mesa da Câmara não tem impacto na curva”. Para o economista-chefe da Itaim Asset Management, Ivo Chermont, os efeitos da eleição de Cunha ainda são incertos. “O que tem maior impacto agora é a dificuldade de redução do risco Brasil, e isso é resultado da situação da Petrobras”, afirmou.

Perfeito, da Gradual, chamou a atenção para outro ponto citado por vários analistas: as incertezas sobre o racionamento de energia elétrica e, principalmente, de água. “A minha previsão é de que o PIB (Produto Interno Bruto ) tenha retração de 0,3% neste ano. Mas, se o setor financeiro parar em São Paulo com a falta de água, o resultado será outro. E não há informação precisa sobre o que acontecerá.”

Monteiro rebate
O ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, rebateu ontem as declarações de Levy. “Evidentemente, ninguém fixa artificialmente taxa de câmbio. Mas, por outro lado, o setor exportador precisa de previsibilidade; isso significa que câmbio não pode ser muito oscilante e volátil”, afirmou Monteiro depois de uma reunião com empresários, em São Paulo. Ele disse também que “gostaria de adicionar” sua opinião à afirmação de Levy, ressaltando que “o câmbio não pode ser usado também como instrumento de combate da inflação”.