O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, anunciou ontem, na capital mineira, que a oposição já começou a reunir assinaturas para a abertura de uma nova Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o caso Petrobras, em fevereiro do ano que vem, logo após a posse dos deputados da nova legislatura. “Com uma ação tão criminosa como esta, o Congresso não pode privar-se de estar ali, com os instrumentos e prerrogativas que tem, e avançar nessas investigações. Até porque, pelo que parece, isso vai envolver também parlamentares”, disse, sem citar nomes. 

A oposição aposta que a deflagração da nova fase da Operação Lava-Jato, com a prisão de executivos das principais empreiteiras do país, renderá uma onda de delações premiadas, aumentando a tensão no Congresso e enfraquecendo em seu início o segundo mandato do governo Dilma Rousseff (PT). 

“O Congresso não deve continuar fora das investigações. Estamos defendendo isso já, colhendo assinaturas, para que no início de fevereiro, na instalação da nova sessão legislativa, nós possamos ter uma outra CPMI. Estamos contando com a opinião pública, para que não repita o desfecho vexatório que essa proporcionou ao Brasil”, declarou Aécio. De acordo com o tucano, a semana teria marcado um “fim melancólico” da CPI. “O governo conseguiu blindá-la no Congresso Nacional, mas não conseguiu blindar as investigações que continuarão ocorrendo, agora inclusive em outros países para que possamos ter no fim a punição exemplar, de todos os envolvidos no maior crime de corrupção da história do Brasil”, disse.

Aécio também fez crítica contundente ao que chamou de “rombo das contas públicas”, que, segundo ele, foi denunciado durante a campanha e que agora estaria se mostrando verdadeiro. Em referência à aprovação do PLN nº 36/2014, que autorizou o governo a mudar o cálculo da meta de superavit este ano, o senador tucano disparou: “O governo teve que cometer, a meu ver, a maior violência já praticada contra o Congresso Nacional: anistiar a presidente da República de um crime de responsabilidade, exatamente porque aquilo que denunciávamos durante a campanha eleitoral, o rombo das contas públicas, se mostrou verdadeiro”. 

Base
Pessoalmente empenhado em se manter “acesa a chama da oposição”, acenando para uma expectativa futura de poder, Aécio se reuniu ontem, em Belo Horizonte, com o governador Alberto Pinto Coelho (PP); com o presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro (PP); com 32 deputados estaduais e federais que integraram a base de sustentação nos últimos 12 anos de governos tucanos em Minas e outros cinco novos parlamentares em Minas: Noraldino Júnior (PSC), Ione Pinheiro (DEM), Thiago Cota (PPS), Tito Torres (PSDB) e Felipe Attiê (PP). 

Determinado a deter as defecções de deputados aliados que já acenam ao governo Fernando Pimentel (PT), Aécio delineou uma conjuntura política e econômica bastante pessimista. Projetou para o ano que vem a expectativa de um quadro recessivo, inflacionário e de falta de confiança na economia, com repercussão sobre estados e municípios. O tucano apelou para que todos continuem mobilizados. “Disse aos companheiros da importância de estarmos unidos cumprindo o papel que as urnas determinaram que cumpríssemos”, afirmou, garantindo que, embora tenha perdido as eleições, saiu da disputa com o que chamou de vitória política. “Hoje, há uma expectativa muito maior em relação à nossa atuação do que se poderia imaginar.”

Salário devolvido
Candidato derrotado à Presidência, Aécio Neves (PSDB-MG) devolveu ao Senado os seus salários dos meses de agosto a outubro deste ano, período em que se dedicou à campanha eleitoral. As devoluções constam nos registros de arrecadação da instituição, que repassou os valores para o Tesouro Nacional. Foram três depósitos de R$ 26,7 mil ao Senado, valor equivalente à remuneração mensal dos congressistas. No total, o tucano repassou R$ 80,1 mil. Os comprovantes de devolução estão disponíveis no Portal da Transparência do Senado. Aécio havia prometido devolver os salários porque optou por manter o mandato durante a campanha, ao contrário de outros congressistas que se licenciaram.

 

 

Entrega de relatório paralelo

 

Indignada com o parecer apresentado pelo deputado Marco Maia (PT-RS) na CPI mista que investiga irregularidades na Petrobras, a oposição prepara um relatório paralelo em que pedirá o indiciamento de políticos, delatores e outros envolvidos no esquema de corrupção na estatal. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que costura o texto, disse ontem que o documento será levado na próxima quarta-feira à reunião da CPI mista, quando está prevista a votação do relatório de Maia. 

De acordo com Sampaio, além do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, vão ser pedidos o indiciamento do deputado cassado André Vargas (sem partido – PR) e do deputado Luiz Argôlo (SD-BA). Empresários com acordo de delação premiada também entrarão na lista. O objetivo é derrubar o relatório oficial, apresentado na quarta-feira. 

Sampaio critica Maia por citar os nomes dos envolvidos no caso no documento, mas não pedir o indiciamento de nenhum deles. “O relator pegou leve demais numa investigação séria e com consequências graves”, afirmou o tucano. Para Sampaio, há “fragilidades” no relatório. O tucano afirmou que não deve pedir o indiciamento da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque não há “elementos” para isso.