Os investidores celebraram na sexta-feira a indicação, ainda a ser confirmada, de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, vista como um sinal de disposição da presidente Dilma Rousseff em promover ajustes na política econômica em seu segundo mandato. A bolsa disparou enquanto dólar e as taxas de juros futuras caíram, movimento que, segundo analistas, pode se aprofundar nos próximos dias na medida em que diminui o clima de incertezas e o anúncio da equipe for oficializado pelo Planalto.

Com uma arrancada no fim do pregão, o Índice Bovespa fechou em alta de 5,02%, aos 56.084 pontos. O dólar comercial encerrou em queda de 2,11%, a R$ 2,5218, o menor patamar desde 5 de novembro. Na BM&F, o contrato futuro de Depósitos Interfinanceiros (DI) com vencimento em janeiro de 2021, mais ligado a percepção de risco, caiu de 12,43% para 11,93%, voltando a níveis vistos no fim de outubro.

O ex-secretário do Tesouro Nacional no governo Lula e atual diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (Bram) assumiria a Fazenda em substituição a Guido Mantega, depois que o presidente do banco da Cidade de Deus, Luiz Carlos Trabuco, recusou o convite da presidente Dilma para a pasta. A equipe econômica do segundo mandato ainda contaria com Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo da Fazenda, no Ministério do Planejamento e a permanência de Alexandre Tombini no Banco Central (BC).

Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e atual sócio da Mauá Sekular Investimentos, a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda representa uma sinalização de mudança do governo, podendo trazer um choque de credibilidade em um primeiro momento. Isso abre espaço para uma correção positiva tanto nos mercados de câmbio como nos de juros futuros.

A retomada da confiança dos investidores em um horizonte mais amplo, porém, vai depender de como a mudança no governo será implementada. "O Joaquim é um nome forte, um executivo experiente, que implementou o aperto fiscal no primeiro mandato do governo Lula", destaca Figueiredo.

Na visão do ex-diretor do BC, Levy deve montar uma equipe econômica de credibilidade e tem condições de promover o ajuste fiscal necessário, uma vez que tem experiência em negociar com o Congresso. "O nome de Joaquim representa um sinal de mudança, se ela vai acontecer ou não ainda precisamos ver. Precisa de um tempo para vermos como será o discurso do novo ministro, como será detalhada a execução dessas mudanças", destaca Figueiredo.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, ao escolher um técnico de renome como Joaquim Levy, a presidente dá um sinal claro de que está disposta a promover uma inflexão da política econômica, sobretudo na área fiscal. "É um nome com experiência tanto no governo quanto no mercado financeiro, com um perfil que sinaliza mudança", afirma.

Com a redução das incertezas em relação à condução da política econômica, Gonçalves vê espaço para continuidade de alta do Ibovespa e novas rodadas de queda do dólar e dos juros futuros. "Uma boa parte dos prêmios de risco hoje não são justificados pelos fundamentos e refletem especulações de curto prazo geradas pelo clima de incerteza", afirma o economista, ressaltando que, passado a euforia inicial da formação da equipe econômica, o foco vai se voltar novamente para as medidas fiscais.

Para o economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, que substituiu Levy no Tesouro Nacional em 2006, o antecessor fez um bom trabalho ao promover um ajuste fiscal duro em 2003, justamente em um momento em que a confiança do mercado estava em xeque. "Ele ajudou a promover uma importante melhora no perfil da dívida pública, alongando o vencimento dos títulos do Tesouro. Os papéis passaram também a contar com maior participação de investidores estrangeiros", afirma.

Em 2006, o governo reduziu a zero a alíquota de imposto de renda para os estrangeiros que aplicam em títulos públicos, aumentando a participação desses investidores na dívida pública brasileira. "Ele fez a primeira emissão em reais no exterior", lembra Kawall.

Daniel Cunha, estrategista da XP Investimentos, diz que o anúncio da equipe econômica é um começo, mas o governo precisa sinalizar logo qual será a intensidade das medidas que irá tomar, principalmente na área fiscal. "O nome de Levy já inspira confiança, mas é um primeiro passo. O segundo é ver se ele terá liberdade para formar a equipe econômica e implementar as medidas de ajuste necessárias. Já o terceiro é o governo de fato vai entregar o que for combinado e a intensidade das medidas que serão propostas", diz. Ele considera que há espaço para apreciação do real, desde que novos sinais positivos do governo sejam dados ao mercado.

Para Cunha, no entanto, o novo ministro terá um cenário difícil pela frente, com a economia estagnada, inflação alta e um ambiente externo menos favorável. Ele lembra que os preços de commodities estão em queda e que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) está em processo de normalização da taxa básica de juros. "Em 2002, o cenário externo era mais favorável, e os ajustes promovidos foram menos custosos para a economia. Os ajustes necessários hoje implicariam em medidas mais árduas e a sua implementação será mais difícil", diz o estrategista da XP.

Ainda no pregão de sexta-feira, repercutiu sobre os ativos locais a decisão inesperada do banco central da China de reduzir as taxas de juros. Declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, também animaram os investidores. As principais bolsas da Europa fecharam com fortes ganhos e Wall Street seguiu pelo mesmo caminho.