Um dia após assinar um manifesto criticando o convite da presidente Dilma Rousseff para Joaquim Levy e Kátia Abreu ocuparem os ministérios da Fazenda e da Agricultura, respectivamente, o teólogo Leonardo Boff foi recebido ontem por Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, juntamente com o escritor Frei Betto. A conversa durou uma hora e meia. Na saída, Boff afirmou que não foram discutidas as indicações para os ministérios, mas a relação da presidente com movimentos sociais. Segundo Boff, Dilma reconheceu não ter estabelecido contato com os movimentos e teria dito que este agora será o "ponto alto" do seu segundo mandato.

A presidente, segundo Boff, teria ainda afirmado aos religiosos que manterá um diálogo permanente, contínuo e orgânico com esses setores e com a sociedade em geral. O teólogo afirmou que os elementos negativos que destacou na conversa com Dilma foram a ausência de um projeto para a juventude e a falta de politização das bases, porque o PT teria descuidado disso:

- E ela mesma (Dilma) não promoveu muito contato com as bases, porque se ocupava muito com a administração dos grandes projetos. Ela disse que, a partir de agora, será um ponto alto do seu governo um diálogo permanente, contínuo, orgânico com os movimentos sociais e com a sociedade - disse Boff. - Isso é importante, porque ela abriu o diálogo. Aquilo que ela prometeu, dialogar de forma aberta, ela vai começar a dialogar com os distintos grupos da sociedade, para escutar o que o povo brasileiro quer e para ver como encaminha políticas que possam atender de forma mais justa e mais adequada o povo brasileiro.

Boff disse que a presidente e o grupo não falaram sobre a reforma ministerial:

- Ela não deu nenhuma explicação sobre as indicações. Nós também não perguntamos sobre isso. Fizemos uma conversa geral sobre como a sociedade brasileira deve ser muito mais politizada, e que não adianta mostrar obras, tem que mostrar que essas obras, Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida, são consequências de uma política - disse Boff.

Ao sair do encontro, o teólogo afirmou que não está preocupado com as indicações para o novo Ministério porque Dilma teria uma "mão firme" para conduzir seu governo.

- A gente tem liberdade de dizer que há reticências a certos nomes, que nos preocupam, mas por outro lado sabemos que ela tem uma mão firme, não se deixa conduzir, ela conduz. Isso nos dá certa tranquilidade. Acho que a presidente deve tomar as decisões que ela acha mais adequadas, considerando certas conjunturas, e também a pressão violenta que os mercados sofrem, prejudicando a política e o curso das coisas - pontuou Boff.

Durante a reunião, Boff e Frei Betto, que estavam acompanhados por outros integrantes do Grupo Emaús, entregaram uma carta à presidente com 16 pontos, batizados de "grandes opções que devem estar presentes na construção do Brasil que queremos". No documento, assinado por 34 intelectuais, a maioria teólogos, eles reivindicam a realização das reformas política e tributária, reforma agrária e democratização dos meios de comunicação. Eles pedem também a restrição a transgênicos e aos agrotóxicos, o controle social da gestão pública e a ética na política.

Entre os pleitos apresentados, está "uma reforma que acabe com o financiamento de campanhas eleitorais e partidos políticos por empresas privadas. Na reforma tributária, a carta sugere que "pague mais quem ganha mais, e pague menos (ou nada) quem ganha menos, o que implica que o imposto sobre a renda tenha mais peso que o imposto sobre o consumo".

Na carta, o grupo argumenta que os pedidos são uma forma de garantir que o projeto do PT seja cumprido. "Discutimos e polemizamos, pois percebíamos o risco de que o projeto popular do PT, representado pela senhora, não pudesse se reafirmar e consolidar. Para nós cristãos, especialmente nas milhares de comunidades de base, tínhamos e temos a convicção de que a participação política, de cunho democrático, popular e libertador, apresenta-se como um instrumento para realizar os bens do Reino de Deus", diz um dos trechos..

 

 

Gilberto Kassab elogia escolha de Levy e Kátia Abreu

 

Presidente do PSD diz que legenda terá lugar na Esplanada, mas que não fará reivindicações

Simone Iglesias

 

Na contramão da maioria dos partidos aliados e do PT, que criticam as escolhas da presidente Dilma Rousseff para reforma ministerial, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse ontem que gostou das indicações da nova equipe econômica. Ao ser questionado sobre a ida de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e de Kátia Abreu para a Agricultura, ele respondeu:

- Eu gostei.

Sobre a participação do PSD no próximo governo, Kassab confirmou que o partido estará na Esplanada, mas disse que a legenda não tem reivindicações. Ele disse não ter conversado com a presidente nos últimos dias, mas destacou que Dilma saberá escolher as missões que dará a cada um que apoiou na reeleição.

- Iremos participar do seu governo, mas cabe à presidente definir a participação dos partidos, formas, nomes, lugares. Não existe de parte do PSD nenhuma reivindicação - disse o dirigente, que esteve em Brasília para receber a Medalha Ordem do Mérito Legislativo, oferecida pela Câmara dos Deputados.

Além de Kassab, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa foi indicado para receber a medalha, por iniciativa do deputado Fernando Francischini (SDD-PR). No entanto, não compareceu à cerimônia. A medalha foi entregue ao seu irmão. Entre outros agraciados estavam os governadores eleitos do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e a viúva de Eduardo Campos, Renata Campos.