Título: Acusações marcam o fim da campanha
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2011, Mundo, p. 23

Keiko Fujimori e Ollanta Humala lutaram pelos votos dos peruanos até os últimos instantes da campanha. Em uma eleição presidencial marcada pela troca de acusações, as críticas tomaram o lugar das propostas de governo. A capital, Lima, foi o palco da batalha pela preferência dos eleitores indecisos. As pesquisas apontam empate técnico, com apenas dois pontos de vantagem para a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, preso desde 2009 por violação de direitos humanos e corrupção. O Peru prepara-se para ir às urnas amanhã e decidir quem comandará um país cheio de contrastes, com a economia em ascensão e uma desigualdade social profunda e persistente.

A campanha eleitoral expôs principalmente desavenças. O militar reformado, candidato da esquerda nacionalista, concorre à presidência pela segunda vez. Defende uma nova Constituição e a expansão do mercado interno, mas suas relações com Hugo Chávez, de quem recebeu apoio declarado em 2006, assustam os eleitores. A senadora carrega o sobrenome Fujimori, ainda muito influente no cenário político peruano. Comprometeu-se a erradicar a pobreza e reforçar a segurança pública, mas traz de volta a sombra de uma ditadura que muitos não conseguem esquecer.

¿Os peruanos estão divididos. A maioria não queria esse resultado para o segundo turno, e agora tem de escolher o menor entre dois males¿, analisou, em entrevista ao Correio, Cynthia Sanborn, diretora do Centro de Investigação da Universidade do Pacífico. ¿No caso de Humala, há uma boa parte de eleitores indecisos que vota nele para barrarr o retorno de um governo fujimorista.¿

No último dia de campanha, os dois candidatos aproveitaram cada chance de conquistar os votos dos 16% de indecisos. Keiko Fujimori pediu aos eleitores que votem de forma ¿responsável¿. ¿Somos uma proposta de mudança segura e confiável. Um futuro seguro, e não um salto no vazio, como o que oferece o comandante Humala¿, disse à imprensa. A candidata direitista também atacou o adversário em seu ponto mais fraco, a conexão com o presidente da Venezuela. ¿Não teremos intromissões de presidentes estrangeiros. Somos um projeto peruano, governaremos para os peruanos, não para um presidente venezuelano. Não somos parte do projeto bolivariano controlado pelo senhor Hugo Chávez, que só leva à pobreza, à inflação e ao autoritarismo¿, completou.

Humala viu-se forçado a rebater críticas depois que a imprensa peruana divulgou uma acusação feita pelo ex-subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, Roger Noriega. Segundo ele, Chávez teria enviado US$ 12 milhões para financiar a campanha do candidato esquerdista. ¿Rejeitamos totalmente essa calúnia e a atitude irresponsável de um ex-embaixador que, a título pessoal, diz mentiras sem apresentar provas, a três dias das eleições. Isso mostra o claramente desespero dos fujimoristas¿, disparou o militar.

Em entrevista a um popular programa de rádio, ontem, Humala apostou mais uma vez na proposta de mudança, para que o país cresça com inclusão social. A economia peruana avançou 9% em 2010, mas um terço dos cidadãos vive na pobreza. ¿Poucos têm muito e muitos têm pouco. Quebremos a brecha da desigualdade¿, disse o candidato. Falando para os indecisos, lembrou o passado político da família da adversária. ¿Não podemos esquecer o trabalho que custou lutar contra a ditadura (¿) Do meu lado pode haver dúvidas, mas do outro existem provas: as pessoas que acompanharam Fujimori e (Vladimiro) Montesinos são as mesmas que acompanham a congressista (Keiko) Fujimori.¿

Receios Em uma eleição sem existem favorito, a campanha se encerrou com sondagens de voto inconclusivas e a preocupação com fraudes. ¿As pesquisas não contam adequadamente o setor rural e de selva, onde, sem dúvida, a vantagem é de Humala. Muito menos os votos peruanos no exterior, que são poucos, mas podem fazer a diferença a favor de Keiko. Além disso, dois entre cinco peruanos se negam a responder aos pesquisadores, porque entendem que o votos é realmente secreto. No domingo, estará tudo nas mãos dos fiscais. É difícil que ocorra uma fraude muito grande, mas em mesas `descuidadas¿ pode haver pequenas tentativas que podem trazer um grande mal-estar¿, afirmou Sanborn.