Título: Bovespa tem a maior queda desde 11/09
Autor: Filgueiras, Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2008, Finanças, p. B4

São Paulo, 16 de Setembro de 2008 - O final de semana nebuloso nos Estados Unidos, com o colapso do banco Lehman Brothers e o pedido de socorro da seguradora AIG, resultou numa segunda-feira nervosa no mercado brasileiro. A Bovespa registrou giro financeiro de R$ 6,57 bilhões e fechou com queda de 7,59%, a maior retração desde o 11 de setembro de 2001, data do ataque ao World Trade Center, quando o Ibovespa caiu 9,17% e o pregão foi encerrado no meio da manhã. A queda foi tão acelerada e contínua que nas mesas de operação chegou-se a cogitar que a Bovespa poderia acionar o circuit breaker, mecanismo que permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o rebalanceamento das ordens de compra e de venda através da suspensão dos negócios por 30 minutos. Entretanto, o escudo é utilizado quando o índice tem queda de 10% ou mais, o que não chegou a acontecer - por falta de tempo, disseram alguns, já que o Ibovespa fechou na mínima do dia. A última vez em que foi acionado foi em 14 de janeiro de 1999, na véspera da adoção do câmbio livre no País. Já foram 10 ocorrências desde a criação, em 31 de outubro de 1997 - durante a crise vinda do mercado asiático, chegou a ser acionado duas vezes num mesmo pregão. "O circuit breaker não é acionado há sete anos e seria bastante traumático para o mercado se isso acontecesse. Nesta terça-feira, o mercado deve continuar muito nervoso e a recomendação é de muita cautela nas decisões", diz Nicholas Barbarisi, analista da Hera Investments. "Mesmo com a economia brasileira num momento diferente da média internacional, o mercado financeiro é muito sensível. O dólar abriu o dia com alta expressiva, trouxe medo aos investidores e o mercado futuro amanheceu caindo mais de 5%." Ainda assim, havia uma certa dose de crença no descolamento parcial do mercado brasileiro. "No meio da manhã, parecia que o Brasil até conseguiria se manter mais forte porque os estrangeiros já vinham em uma onda vendedora há mais tempo, e papéis como da Vale caíam em nível razoável, de 3%", diz Saulo Sabbá, analista da Maxima Asset. Mas o almoço pesou no estômago dos investidores, a queda foi acentuada no início da segunda etapa da sessão, acompanhando o comportamento das bolsas globais, com Nova York abaixo de 4%. "Há vários dias se fala na situação do Lehman Brothers e aconteceu a morte anunciada, mas o pedido de empréstimo de urgência de US$ 40 bilhões da AIG, maior seguradora norte-americana, foi a pior notícia do dia", considera Rossano Oltramari, sócio-diretor da XP Investimentos. A ação da AIG, que compõe o índice Dow Jones, caiu 60,79%. Players como a Rio Bravo Investimentos soltaram comunicado esclarecendo que não têm negócios com a AIG e entidades de mercado também se posicionaram, ressaltando sobre a baixa exposição de bancos brasileiros à AIG e Lehman. Mesmo com a compra da Merrill Lynch, o Bank of America viu seus papéis despencarem 21,31% em Nova York, e os papéis do Wachovia, na mira analítica dos investidores, caíram 24,95%. Em relatório, a Merrill Lynch ponderou que, apesar da expectativa geral do mercado de que o Federal Reserve corte em 0,25 ponto a taxa de juros americana hoje, a instituição pode sentir a necessidade de um corte mais agressivo, de 0,50 p.p. "A repercussão imediata deve ser positiva, mas pode sinalizar que o FED está vendo mais problemas na economia", pondera Jayme Alves, analista da Spinelli. Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora, o comportamento dos mercados ficou dentro das expectativas, resta saber quais serão os desdobramentos. "É uma nova onda forte da crise, que vinha mostrando a cara desde a semana passada, mas foi suavizada por expectativas positivas no final semana, que não se confirmaram devido à concordata do Lehman", avalia Bandeira. "Temos a volta da aversão ao risco, a saída de renda variável e a prudência imperando." Aqui, o desempenho foi agravado com o vencimento de contratos de opções sobre ações, que movimentou R$ 1,16 bilhão ontem, sendo R$ 837,33 milhões em opções de venda, concentradas em Petrobras e Vale. No mercado a vista, as duas blue chips caíram 9,94% (ON) e 9,86% (PNA), respectivamente. "O dia foi maluco, vimos estrangeiros até comprando e pessoa física saindo de fundo de ações para comprar direto na bolsa", diz Celso Boin Jr., chefe da área de análise da Link Investimentos. Liderou em perdas a própria bolsa, com queda de 13,93%, devido a saída de estrangeiros e medo de perda de volume com a crise. O risco-país subiu 16,54% para 310 pontos-base (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Maria Luíza Filgueiras)