Título: Bookbuilding é o novo alvo das críticas de transparência
Autor: Filgueiras, Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/08/2008, Finanças, p. B1

Rio de Janeiro, 25 de Agosto de 2008 - A definição de preço de oferta de uma ação na oferta pública inicial por meio do chamado bookbuilding é o novo alvo do ativismo pela maior transparência no mercado de capitais do Brasil. Adotado com base no modelo dos Estados Unidos desde 1994, trata-se de uma consulta prévia da demanda para posterior estabelecimento de preço, conforme o volume de interessados. Se muitos quiserem, vão ter que pagar mais caro para levar o papel. Se poucos desejarem a ação, podem conseguir preços mais baixos ou a empresa pode cancelar a oferta, caso não seja possível obter o mínimo necessário de recursos para viabilizar o plano de operação. O modelo substituiu os leilões para compra em oferta pública, mas é considerado por alguns gestores restritivo e pouco democrático - enquanto os bancos de investimento defendem justamente o oposto. "O bookbuilding é uma caixa-preta. O analista recebe um livrinho e tem que assinar um documento se comprometendo a não divulgar nenhum das informações, mas o investidor tem que definir quantas ações quer comprar e até fazer depósito sem saber a que preço vai sair", argumenta Heitor Lyra, gestor de carteira da Lyra Investimentos. "São forças diferentes no mercado, que resultam num processo que não é tão transparente e público, é apenas para os amigos do rei, já que o banco acaba escolhendo quem entra e quem sai." Lyra cita a tentativa que fez para comprar ações da Gerdau em oferta pública - como se dispôs a um determinado preço, mas o valor de saída foi mais alto, ficou sem nenhum papel. "Não pude optar por ter um lote menor pelo preço mais alto. Simplesmente fiquei sem nada." Mas para o diretor do banco de investimentos Credit Suisse, José Olympio Pereira, o modelo é o mais adequado para equilibrar demanda e oferta, e a restrição ou seleção de investidores é fundamental para garantir o sucesso da operação. "A companhia que faz oferta pública inicial tem que privilegiar investidores de longo prazo e buscar uma base ampla de acionistas. O processo de alocação leva em conta o julgamento de quem olhou, quanto quer, a que preço, que chance tem de vender no dia seguinte", diz. Pereira avalia que a opção de leilão simples com fixação de preço é adequado ao mercado de renda fixa, para negociação de debêntures, porque não pressupõe um mercado secundário tão importante como nas ações. "Vivi o sistema de leilão nos anos 80, da Edisa e da Modato, mas não foram experiências bem-sucedidas no formato da oferta e na performance depois. Mesmo nos Estados Unidos, há pouquíssimas ofertas via leilão, sendo que o caso mais notório e de sucesso foi o leilão do Google", ressalta. O executivo estima que de cerca de 200 ofertas anuais no mercado norte-americano, no montante de US$ 40 bilhões em média, menos de 1% ocorra por leilão. "Para garantir entrada em companhias já abertas e cotadas, como fizemos no ano passado com Perdigão e este ano com Vale, damos direito de preferência ao acionista atual, uma prerrogativa para não ser diluído no bookbuilding", completa Pereira. O advogado Marcelo Trindade, sócio do escritório que leva seu sobrenome e ex-presidente da CVM, diz que o bookbuilding não é regra do mercado brasileiro - as empresas continuam tendo a opção de leilão, mas não o fazem por escolha própria. Ele considera que a companhia pode sim escolher quem entra ou não no capital social na oferta pública. "Se a empresa é minha, posso escolher quem vem para a festa." Uma das principais ponderações dos defensores do bookbuilding é a definição de um preço mais justo para o ofertante - em alguns leilões do passado, o valor era dado dois meses antes mas, se houvesse uma virada do mercado, não podia ajustar. "A empresa via o valor da ação multiplicado por dez no primeiro dia de operação. Era muito bom para quem comprou, mas não para quem ofertou", diz Pereira, no 20 Congresso da Apimec.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Maria Luíza Filgueiras)