Título: Brasil deve condenar o trabalho infantil
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/06/2008, Nacional, p. A4

Brasília, 12 de Junho de 2008 - O Brasil já foi líder mundial na luta contra a exploração de crianças e adolescentes, mas desde 2005 o ritmo de combate perdeu intensidade, afirma o coordenador da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Renato Mendes. Hoje é o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil e, para Mendes, "é um bom momento para reacender a luta e a indignação social. É necessário que a sociedade tenha indignação contra o trabalho infantil, assim como tem contra o trabalho escravo", afirmou Mendes. Segundo ele, é muito comum que as pessoas, ao verem uma situação de trabalho escravo, fiquem moralmente arrasadas. "Mas, quando vêem trabalho infantil, abrem um sorriso, dizendo: `Que responsável essa criança¿!" Mendes ressaltou, no entanto, que "uma criança trabalhando é sinal de desproteção". Ao participar do Seminário de Educação e Trabalho Infantil ¿ promovido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em parceria com a Comissão Nacional de Enfrentamento do Trabalho Infantil (Conaeti) e com organismos internacionais ¿ Mendes disse acreditar que o tema "Educação: resposta certa contra o trabalho infantil" abra caminho para que o MEC possa se unir às políticas públicas já desenvolvidas por pastas como a Saúde, o Trabalho e o Desenvolvimento Social. "Não adianta uma boa oferta de educação, ou uma educação de qualidade, se ela não é atrativa. As crianças continuarão saindo das escolas para ir trabalhar", disse Mendes. Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Lázaro, apenas o discurso de combate ao trabalho infantil não é suficiente, se não oferecem possibilidades à criança: "Acho que a educação é esse horizonte. Nossa responsabilidade é fazer com que haja uma educação de qualidade em todo o território nacional, interessada na vida das crianças, de tal maneira que retirar do trabalho infantil signifique ganhar um espaço para a criança poder sonhar e ter um futuro melhor." Segundo ele, com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o MEC tem um conjunto de políticas que, articuladas, "deveriam" colaborar para a redução do trabalho infantil. "Digo `deveriam¿, porque, sozinhas, são insuficientes. É preciso uma mobilização local. O trabalho infantil é muito enraizado na vida familiar. Não estamos falando apenas de um empregador que contrata crianças e do fiscal do trabalho que pode ir lá e localizar isso. É mais complexo, porque as famílias mobilizam as próprias crianças para o trabalho. É um trabalho de políticas públicas, mas também de controle social e educação dos pais." André Lázaro defendeu estratégias com foco na forte adesão dos gestores de estados e municípios ao direito à educação. E lembrou que o compromisso com o PDE foi assinado por 27 governadores, além de 5 mil prefeitos e secretários municipais de Educação, com o objetivo de acompanhar as crianças, buscar as razões que levam à ausência da escola e fazer com que os alunos tenham acompanhamento pedagógico individualizado. "Não adianta assumir esse conjunto de compromissos e colocar nos professores, individualmente, a responsabilidade. A rede escolar, o sistema de acompanhamento pedagógico, a direção da escola é que têm que assumir a forma de executar esse compromisso. A educação tem um conjunto de responsabilidades, mas, sozinha, não vai sustentar a mudança de cultura do País." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Agência Brasil)