Título: Ex-embaixador adverte para os muitos pontos a atacar
Autor: Otto Filgueiras
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/11/2004, Relatório - Exportações Brasileiras, p. 4

"Ineficiências de país em desenvolvimento" devem ser removidas. O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil na Inglaterra e nos Estados Unidos, conhece como ninguém os problemas que atra-palham o comércio exterior brasileiro. Com essa bagagem, assumiu a presidência Conselho Superior de Comércio Exterior do Instituto Roberto Simonsen (Coscex), vinculado a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disposto a encontrar soluções para as dificuldades e impulsionar as vendas de produtos brasileiros no mercado internacional.

A primeira reunião do órgão foi produtiva, pois resultou em um documento que expressa as preocupações da indústria paulista quanto aos problemas mais imediatos dos exportadores. Essas queixas estão sendo levadas ao 24º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex) e traduzem-se em um pedido ao governo para que consolide toda a legislação e normas de comércio exterior. Ou seja, que elimine a burocracia, uma floresta de 3.579 procedimentos legais que cercam as operações.

Outro pleito do empresariado é a imunidade tributária para desonerar as empresas da carga fiscal sobre as exportações, que segundo os empresários, põe em perigo a competitividade, à medida em que onera os preços da industria nacional e faz subir o Custo Brasil.

Além de atender medidas mais urgentes, Rubens Barbosa chama a atenção para os demais obstáculos que o exportador encontra da fábrica ao comprador final: os engasgos na logística, principalmente a falta de vias de acesso aos portos, tarifas portuárias elevadas e "uma série de ineficiências típicas de um país em desenvolvimento". Se os gargalos de infra-estrutura não forem resolvidas a curto prazo, adverte, haverá um estrangulamento no sistema de transporte brasileiro.

Barbosa entende que a aprovação das Parcerias Público-Privadas (PPP) pelo Congresso Nacional é fundamental para incrementar as exportações do Brasil. "Na parte da logística, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que há um acréscimo nos custos de 20% a 30% por conta dos problemas de infra-estrutura e isso é um peso muito grande para os exportadores".

O industrial brasileiro é muito competitivo dentro das fábricas, onde há uma produção organizada e um padrão razoável de eficiência, prossegue o ex-embaixador. "Mas da porta da fábrica para frente, até chegar nos portos, temos muitos custos que diminuem a competitividade de nossos produtos no exterior". Ele diz que a taxa de juros elevada encarece o custo do dinheiro no Brasil e dificulta o crédito para o industrial exportador, para os que atuam no mercado interno e isso penaliza a indústria como um todo.

Barreiras internacionais

De acordo com Rubens Barbosa, as barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos e pelos países da Europa contra os produtores brasileiros também são um empecilho importante para a expansão das vendas brasileiras no mercado internacional não só de produtos agropecuários, mas também do aço, calçados, têxteis e outros manufaturados.

A disponibilidade de produtos nacionais para exportar também poderá dificultar o incremento do comércio exterior brasileiro. Barbosa diz que ainda há capacidade ociosa na indústria, mas lembra que se houver aquecimento do mercando interno, o parque produtivo brasileiro chegará no seu limite, e como não há investimentos, no futuro poderão faltar produtos para exportar.

"Para não deixar que eventuais problemas do mercado interno afetem as vendas externas é preciso ter uma cultura exportadora e fazer investimentos na expansão da capacidade instalada da indústria e assim atender aos dois mercados", diz o diplomata. "Exportação implica em regularidade na oferta de produtos. Quando se começa exportar, e depois não há continuidade, não se consegue segurar o mercado".

O desconhecimento das diversas condições de exportação e de como se faz negócio no exterior também atrapalha o desempenho do Brasil no mercado internacional. Ou seja, faltam informações confiáveis para muitos empresários sobre o que os mercados externos querem efetivamente. "As médias empresas brasileiras que exportam não têm uma informação precisa do mercado internacional e por isso precisam fazer estudos, descobrir os nichos de mercados e ter uma estratégia empresarial", recomenda.

"A falta de conhecimento é uma das dificuldades para ampliar as exportações", resume e destaca que apenas "as grandes empresas que têm mais experiência internacional, a exemplo da Companhia Vale do Rio Doce, Grupo Gerdau e Banco Itaú, conhecem esses mercados e desenvolveram uma estratégia empresarial para fazer negócios no exterior".

Falta aos brasileiros, segundo o diplomata, conhecimento mais profundo dos mercados mais novos do Oriente Médio, da China, da Índia e de diversos outros países asiáticos, onde está ocorrendo um grande crescimento de compras dos produtos brasileiros. Ele enfatiza que defende o Mercosul, mas que tem uma visão crítica para melhorá-lo. "Temos de investir em todos os grandes mercados externos, a exemplo dos países do grupo Andino para ampliar o Mercosul, fazer mais negócios com a Índia, com a China e com a África do Sul. O que não tem sentido é investir em países onde a atividade comercial é fraca".

Para Rubens Barbosa, o governo brasileiro precisa deixar claro qual a sua estratégia no comércio exterior e situar a iniciativa privada com informações sobre o que pretende em relação à Organização Mundial do Comércio (OMC), em relação a Alca, a União Européia, aos países andinos e ao Mercosul.

"As informações precisam ser repassadas para a iniciativa privada atuar em parceria com o governo. As negociações comerciais com todos esses blocos vão ajudar o Brasil, dependendo de como serão feitas e das concessões que vamos fazer". Barbosa, destaca, finalmente, que o Brasil preside o Mercosul neste semestre e por isso tem grande responsabilidade na reunião dos países membros que vai ocorrer em dezembro, em Ouro Preto, Minas Gerais, quando terá de demonstrar a sua liderança.

kicker: "Temos de investir em todos os grandes mercados (...) e não onde o comércio é fraco"