Título: Competitividade na América Latina
Autor: Roberto Teixeira da Costa
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Opinião, p. A3

Na área da educação básica fazemos as coisas muito devagar. Na cidade de Mérida, na província de Yucatán no México, realizou-se a 15reunião plenária do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal).

Assistido por cerca de 100 empresários da região, o mais importante evento anual do Ceal teve como tema central "A Competitividade Sistêmica da América Latina diante da Globalização". Para tanto, o assunto foi coberto em diferentes painéis, mostrando não só situações individualizadas de cada país como também colocando-as num painel mais amplo comparando-nos principalmente com outras economias emergentes.

Entre outros aspectos, vale lembrar que as taxas de poupança na nossa região são muito baixas (à exceção do Chile), o que explica investimentos insatisfatórios; dependemos de fluxos de capital estrangeiro e ainda de economias fortemente dependentes de produtos de baixo valor agregado.

Malgrado possam ser contabilizados progressos em diferentes áreas, estamos longe de um desenvolvimento sustentável. A questão da educação básica e da saúde continuam ocupando uma posição de destaque na preocupação dos empresários para que venhamos a resgatar o incrível déficit social, que em maior ou menor escala nossos países enfrentam. A constatação de Jeffrey Puryear, do Preal (ligado ao Interamerican Dialogue), é que estamos na área da educação básica fazendo as coisas muito devagar e mirando alvos errados. O que deve interessar é o produto do processo educacional, ou seja, o conteúdo aprendido pelo aluno. Quem sabe a visão mais encorajadora (longe de ser uma projeção otimista desvinculada da realidade) foi a do presidente da Corporácion Andina de Fomentos (CAF), mostrando a disposição de sua instituição em continuar aprovando projetos de investimentos na questão que é crucial para nossa região: a da infra-estrutura.

Destaco também a lúcida apresentação de Jaime Serra Puche, que foi ministro da Indústria e Comércio do México e um dos negociadores do Nafta. Deu-nos uma visão realista do que o Nafta representou para o México, contestando críticas àquele acordo.

Muito sóbria e equilibrada foi a palestra do embaixador Botafogo Gonçalves, ex-embaixador em Buenos Aires e hoje presidente do Cebri.

Ao falar sobre Mercosul e os desafios que enfrenta, recordou-nos das diferenças históricas, culturais e sociais entre nossos países. Para aprofundar a integração é fundamental identificar quais os aspectos que devemos atacar para que nossa integração se produza de forma mais harmoniosa.

No campo político, percebemos claramente que a preocupação com o populismo e o indigenismo se espalha por toda a região. Foi um tema constante nas discussões. O caso da Venezuela, com suas ramificações e a dúbia posição de Kirchner, a ascendente projeção do prefeito da Cidade do México, Lopes Obrador, sem falar no que irá acontecer no Uruguai, acendem a luz amarela. No capítulo indigenista temos na Bolívia e no Equador uma associação perigosa com o populismo, que evidentemente não traz bons resultados.

A reunião foi encerrada com um discurso superotimista do presidente Fox.

A despeito de os empresários mexicanos com quem habitualmente conversamos serem críticos sobre a atuação do seu presidente, particularmente devido à não-materialização de prometidas reformas (ninguém questiona sua integridade), ao ouvirmos o presidente ficamos com a sensação de que o México vive período de incrível bem-estar e prosperidade. Sobre nosso país muita pouca discussão, e a imagem do nosso presidente, como pude constatar em outras viagens ao exterior, continua positiva. Nem a simpatia a Chavez e a paciência enorme com Kirchner colocam-nos em posição de risco de eclosão de populismo na região.

Assim seja!

kicker: Apesar dos progressos em diferentes áreas, ficamos longe do desenvolvimento sustentável