Título: Brasil socorre Portugal
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Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2011, Economia, p. 22

Dilma Rousseff afirma que uma das hipóteses é a compra de títulos da dívida portuguesa

Lisboa ¿ A presidente Dilma Rousseff prometeu ajudar o governo de Portugal a superar a grave crise fiscal que enfrenta. ¿Estamos estudando a melhor maneira de participar na recuperação da economia portuguesa. Nossas equipes têm um diálogo permanente e fluente sobre esta questão¿, afirmou em entrevista ao jornal Diário Econômico. ¿Uma das possibilidades é a compra de uma parte da dívida soberana portuguesa¿, destacou Dilma, que também mencionou a análise de outras alternativas, como o resgate antecipado de papéis brasileiros na carteira do Tesouro do parceiro comercial.

Na terça-feira, Dilma já havia assegurado que o Brasil faria todo o possível para ajudar, ressalvando que o país tem ¿regras muito rígidas sobre a utilização das reservas¿. Até agora, o primeiro-ministro José Sócrates, que renunciou mas permanece no cargo até as novas eleições, não apresentou nenhum pedido formal de auxílio, segundo a presidente. Ela visitou Portugal para participar de uma homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e voltou mais cedo por causa da morte do ex-vice-presidente José Alencar.

Portugal é considerado o próximo candidato a receber um pacote de socorro financeiro similar ao já montado pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar da bancarrota a Grécia e a Irlanda, outros dois membros da Zona do Euro. Os prazos de vencimento da dívida do país estão apertando. O governo deve pagar 4,2 bilhões de euros em 15 de abril e mais 4,9 bilhões de euros em 15 de junho. Com medo de um eventual calote, os investidores já aumentaram os juros nos títulos com resgate em 10 anos para mais de 8%, a maior taxa desde que o país aderiu ao grupo.

Para alguns analistas, Portugal pode recorrer a empréstimos de outros países sob a forma de compras diretas de parte da dívida ¿ Sócrates já está negociando com alguns governos. O Tesouro chinês, que, segundo informações extraoficiais, comprou mais de 1 bilhão de euros em janeiro, afirmou, na semana passada, estar disposto a ¿reforçar os laços¿ com os portugueses. A iniciativa brasileira reforçaria a estratégia.

Na quarta-feira da semana passada, o primeiro-ministro renunciou depois de o parlamento rejeitar um novo plano de austeridade, que pretendia garantir a redução do deficit público a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2013 e evitar o recurso a um pacote financeiro internacional. A dívida pública do país é de 87% do PIB. A agência de classificação de risco Standard&Poor¿s rebaixou a nota de crédito de Portugal para apenas um grau acima do nível especulativo.

Na entrevista ao Diário Econômico, Dilma Rousseff afirmou ainda que muitas empresas brasileiras estão ¿interessadas no mercado português¿. Para ela, uma cooperação maior entre os dois países é desejável, especialmente nos setores de energia, turismo, aeronáutica, telecomunicações e meios de comunicação. ¿Portugal é um país muito importante para o Brasil. É nossa porta de entrada para a Europa¿, disse.

Irritação A tensão por causa dos problemas fiscais do governo e da sua própria renúncia levou José Sócrates a perder a calma ontem. Ao sair da Universidade de Coimbra, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado, Sócrates ouviu perguntas de repórteres brasileiros sobre um eventual auxílio financeiro brasileiro. ¿Isso não é questão de ajudar ou não. Temos que manter uma boa relação. Não bastassem os jornalistas portugueses, agora os brasileiros também?¿, perguntou, irritado. Ele foi vaiado na solenidade.