Título: Com melhor desempenho em 15 anos, ouro atrai investidor
Autor: Filgueiras,Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/02/2009, Finanças, p. B3

São Paulo, 3 de Fevereiro de 2009 - Na última sexta-feira, a cotação do ouro na BM&F Bovespa atingiu R$ 67,50 por grama, pico histórico do preço do metal no mercado brasileiro desde a instituição do real, em 1994. Acumulando três meses consecutivos como o melhor rendimento entre aplicações financeiras como ações e dólar, o ativo foi recolocado na lista de "considerações" de aplicações tanto para investidores institucionais como pessoas físicas.

A explicação para a retomada deste negócio está justamente no início da crise financeira global. "O ouro é entendido como uma reserva de valor, uma proteção tal como um imóvel", explica Marianna Costa, economista-chefe da Link Investimentos. Entretanto, com os resultados do mercado imobiliário apontando retração no compasso da redução de crédito, as perspectivas para venda e locação foram revistas para baixo, colocando o ouro em posição favorável.

"É avaliado como um ativo real, que pode levar para casa se quiser, e nestes momentos de crise e expectativas ainda não palpáveis em termos de recuperação ou não, o investidor mais experiente vai para o ouro", diz Ricardo Tadeu Martins, gerente de pesquisa da Planner. Ele destaca que o desempenho do metal caminha com a moeda norte-americana. Em 2008, o dólar acumulava perda de 11,5% até agosto, mas virou no terceiro trimestre, acumulando valorização de 20,25% e de 22% no quarto trimestre. "Nesses momentos de forte tensão, o ouro é a saída para quem está propenso a ficar em renda variável", diz Martins.

Esse movimento inclui gestoras e investidores institucionais que precisam manter posição em renda variável. A consequência foi a elevação no volume de contratos justamente em setembro, com o acirramento da crise global e seus primeiros efeitos no Brasil. Naquele mês, foram 1.122 contratos, número que subiu para 1.197 em outubro. Em janeiro, ajustou-se em 7 15 contratos, e acumulou no mês valorização nominal de 5,5%.

O momento mais favorável para o metal, até então, havia sido durante a primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 - na virada do ano, o ouro registrou escalada semelhante à do dólar e do risco-país.Entretanto, boa parte dos analistas de investimento acreditam que o metal não é a melhor opção para o pequeno investidor pessoa física. "Para começar, só há um tipo de contrato, de 250 gramas", diz Clodoir Vieira, economista-chefe da Souza Barros. Ou seja, a cotação por grama tem que ser multiplicada para o investimento mínimo - como ontem fechou a R$ 67,30, o desembolso seria de R$ 16.825.

Além disso, apesar da disponibilidade para contrato de opções, a negociação na bolsa brasileira se restringe basicamente ao mercado à vista, pela falta de liquidez. "É o único contrato que já negocia o ativo físico, diferente de outras commodities. Quando compra o ouro, o investidor pode retirar na hora", diz Vieira. O investidor pode fazer a retirada da barra - mas se quiser revendê-lo na bolsa terá que ser reavaliado conforme critérios da BM&F - ou deixá-lo em custódia na própria bolsa ou em bancos, pagando também um seguro.

"Até o início da década de 90, o ouro era usado como referência em aplicações financeiras e muitos investidores usavam o metal para fazer arbitragem de dólar paralelo. Mas com o crescimento de outros ativos na BM&F, como dólar e índices, o ouro perdeu charme e atratividade", avalia Marcos Amaral, diretor da Spinelli.

Mas Lance Reinhardt, representante no Brasil da gestora Superfund, que tem fundos específicos para aplicação em ouro no mercado internacional, acredita no oposto. "O ouro é o melhor investimento no longo prazo, em momentos de inflação ou deflação e oscilação de moedas, para qualquer investidor", diz Reinhardt.

A projeção do gestor para a onça troy (modelo de negociação internacional, correspondente a 31,03 gramas), hoje cotada na casa de US$ 900, é atingir US$ 1.300 em um prazo de dois anos. Entre os fundos geridos, o Superfund Gold A acumula valorização de 1 15, 9% em dólar em três anos.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Maria Luíza Filgueiras)