Título: Nova agenda aproxima EUA e Brasil
Autor: Andrade, Robson Braga de
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Opiniaõ, p. 25

Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Ao desembarcar em Brasília, neste sábado, o presidente Barack Obama encontrará um país com grandes oportunidades no mundo dos negócios e pronto para estabelecer parcerias com os Estados Unidos e a sua indústria. Isso é o que vamos mostrar aos empresários que o acompanham, durante o Fórum Empresarial Brasil-EUA, que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realiza, também no sábado, com o apoio da Câmara de Comércio dos Estados Unidos e do Conselho de Empresários Brasil-Estados Unidos.

Por muitas razões, a visita do presidente Obama ocorre em um momento especialmente favorável ao Brasil. As profundas mudanças políticas e econômicas que ocorrem no mundo alteram o cenário no qual se desenvolvem parcerias estratégicas para os Estados Unidos, potencializando incertezas para a economia norte-americana, que ainda se ressente dos efeitos da crise de 2008.

Os dois acontecimentos mais recentes ¿ a saudável onda democrática que varre governos autoritários no mundo árabe e a tragédia japonesa ¿ são preocupantes pontos de interrogação, por exemplo, na questão energética: de um lado a instabilidade na oferta de petróleo; de outro a insegurança no uso da energia nuclear.

Com o pré-sal e o etanol, o Brasil é um porto seguro que certamente interessa, e muito, aos Estados Unidos e às suas empresas. A recíproca é verdadeira: para desenvolver o pré-sal, que exige investimentos vultosos, e a indústria do etanol, o Brasil precisa da parceria da indústria norte-americana e do mercado consumidor dos Estados Unidos.

Na verdade, a visita do presidente Barack Obama é uma extraordinária oportunidade para o Brasil mostrar o processo de transformação pelo qual passou nas duas últimas décadas. Na mesa de discussão estão, portanto, todos os ingredientes necessários à construção de uma agenda capaz de ampliar a relação econômica entre os dois países.

Há, naturalmente, contenciosos a equacionar, mas o Brasil e os EUA compartilham valores semelhantes, como a democracia, a economia de mercado, o empreendedorismo, a mobilidade social e a capacidade de mudar. Isso, efetivamente, favorece o debate maduro e respeitoso que nos conduzirá a boas soluções dentro de uma agenda bilateral renovada. Acordos de bitributação e regras mais claras para preços de transferência são prioridades para as empresas brasileiras que buscam se internacionalizar.

Com igual interesse, o setor produtivo brasileiro acompanha as ações dos dois governos para criar novos mecanismos institucionais para o diálogo bilateral. O Tratado de Cooperação Econômica e Comercial (Teca) pode ser um instrumento importante para uma gestão mais adequada da crescente e diversificada agenda entre Brasil e Estados Unidos.

Como o mundo, os EUA e o Brasil mudaram, e é evidente o impacto dessa mudança no conteúdo da agenda entre os dois países, envolvendo temas bilaterais e multilaterais. Além dos mais usuais, como a facilitação de comércio e de acordos de bitributação, está em pauta extensa e importante lista de oportunidades mútuas.

No campo da energia renovável, Brasil e EUA são responsáveis por cerca de 70% da produção mundial de etanol. A liderança no setor depende do diálogo e de ações entre os dois países em normas técnicas e na eliminação de barreiras ao comércio. Na área do óleo, gás e segurança energética, a descoberta do pré-sal abre oportunidades de investimentos e suprimento seguro. O Brasil caminha para se tornar um dos maiores produtores em regiões de baixo conflito ¿ no caso brasileiro, de conflito nenhum.

Na agricultura e na mineração, o Brasil cumpre o papel de supridor da oferta mundial. O país dispõe de reservas de importantes minérios, dos quais os EUA são absolutamente carentes. Há, portanto, oportunidades nessas áreas que, hoje, estão ofuscadas pelos conflitos presentes no debate sobre subsídios agrícolas.

No campo da inovação e da integração de cadeias produtivas, o potencial de integração das economias brasileira e norte-americana ainda não foi plenamente desenvolvido. A experiência da Embraer é emblemática sobre o que ainda pode ser feito. A defesa igualmente oferece oportunidades ainda não plenamente exploradas.

Na agenda multilateral, temas como a mudança climática e as tratativas que se desenvolvem no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do G-20 demandam diálogo entre os dois países. Ações articuladas, entre Brasil e Estados Unidos, terão, com certeza, impacto positivo nas negociações, que são de interesse global.

Enfim, a maturidade desse diálogo organizado pode levar os dois países a ações mais ambiciosas na agenda de comércio e de investimentos. A indústria brasileira trabalha com a crença de que a visita de Barack Obama se transformará em símbolo de um novo momento da parceria estratégica entre o Brasil e os EUA.