Título: África, cenário de vastas oportunidades de negócios
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/01/2009, Internacional, p. A12

The New York Times/Nova York, 2 de Janeiro de 2009 - Ibukun Awosika, magnata nigeriana do setor de mobiliário , tem alguns conselhos para os investidores cépticos quanto a aplicar recursos na África: "Não dêem ouvidos à CNN". A mídia noticiosa, ela afirma, é muito discriminatória ao dar destaque para lugares em conflito, como a violência na República Democrática do Congo ou o tumultuado governo do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe. Raramente, ela diz, os ocidentais ouvem falar dos triunfos da África, como o galopante crescimento econômico.

"A África ... é bastante diversa. Não é um país. São 52 países diferentes". Ela critica severamente qualquer pessoa que ainda se deixe levar pelos estereótipos de negócios ocidentais que atormentam o continente. Essas pessoas perdem dinheiro quando não verificam oportunidades de negócios num mercado tão vasto e pouco desenvolvido, ela argumenta.

"Aqueles mercados sobre os quais a CNN passa informações não são os bons mercados, são na verdade o segredo oculto", diz Awosika, gerente-geral e presidente da The Sokoa Chair Centre, uma fabricante de móveis de controle acionário restrito que gera receita anual de diversos milhões de dólares. O que irrita a ex-química: Sua empresa serve como exemplo do negócios lucrativos nos países africanos que os investidores sábios de fora podem encontrar, se souberem onde olhar.

Depois de séculos de colonialismo, e apesar das sangrentas guerras civis e da turbulência em alguns desses países, a África tem potencial para estar entre os mercados emergentes em posição de oferecer retornos para o investimento estrangeiro. Mesmo assim, as estruturas regulatórias indefinidas ou transitórias representam desvantagens significativas de se fazer negócios lá.

Segundo Judith McHale, sócia-gerente da Global Environment Fund / Africa Growth Fund e ex-diretora-executiva da Discovery Communications, a realidade do risco diminui com a aplicação de due diligence e da pesquisa de mercado. "Todas as dinâmicas para nós mostraram uma incrível oportunidade", diz McHale. Os programas de microempréstimos já atendem, se não satisfazem completamente, a base do mercado de empréstimos. Os fundos de riqueza soberana e outros grandes investimentos estão ativos no outro lado do espectro. Mas, acrescenta McHale, há uma escassez crítica de participantes de investimentos no "decisivo setor intermediário" - as pequenas e médias empresas que formam a fundação sólida das economias nacionais.

Os empresários africanos são rápidos em ressaltar que os empresários inexperientes podem se encontrar logo sem recursos porque não têm a habilidade de responder rápidamente às mudanças. A incerteza é quase uma condição, embora a infra-estrutura e as instituições estejam se tornando mais confiáveis por meio do desenvolvimento e das reformas constantes.

No mundo desenvolvido, observa Awosika, "Ninguém tem de se preocupar com a eletricidade". Mas as quedas de energia podem paralisar suas instalações de produção e ameaçar os negócios, então ela mantém geradores elétricos na fábrica da Nigéria. "Tenho de me preocupar com o fornecimento de eletricidade todos os dias". Os problemas de infra-estrutura não são o único obstáculo. As mudanças na política governamental, que podem ocorrer rapidamente e sem muito aviso prévio, podem invalidar imediatamente um plano de negócios, ela diz.

Como ocorreu em 2004, quando o governo nigeriano vetou a importação de mobílias, de uma hora para outra. Awosika temeu que o veto destruiría seu negócio, que na época dependia de fabricantes estrangeiras. Sua empresa entrou em contato com uma importante fornecedora, a fabricante de móveis para escritórios Sokoa S.A. da França, com a proposta de produzirem juntas cadeiras na Nigéria. Com um investimento perto de US$ 200 milhões, o empreendimento se pagou em cerca de um ano. "Temos de ser criativos. Um empresário na África tem de acordar todos os dias preparado para mudanças".

A Shoreline Energ International, uma empresa holding de energia, criou o bem-sucedido modelo de negócios de comprar as operações atribuladas de empresas estrangeiras na África subsaariana e "reiniciar essas atividades", diz Toks Abimbola, sócio da empresa. Ele indica que as diferenças culturais tornam os africanos mais aptos do que os europeus, os asiáticos, ou os americanos a navegar as complexidades de se fazer negócios com empresários locais.

Abimbola aceita a percepção de que há muita corrupção nos países africanos, que por sua vez adiciona ineficiências significativas para o comércio. "Os empresários nigerianos têm a má fama de serem desonestos", mas essas afirmações "não são verdadeiras". Mesmo assim, ele recomenda aos possíveis investidores verificarem os históricos dos prováveis sócios antes de assinarem um grande compromisso. A Shoreline Energy, ele afirma, é prova de que sócios prudentes de investimento podem ser encontrados na África: "Uma que não gera confiança não consegue fazer negócios com o Goldman Sachs", ele diz, sugerindo que um relacionamento com uma grande empresa financeira ocidental representa um selo de aprovação.

De mãos dadas com a corrupção estão os atrasos burocráticos que tolhem o comércio. Uma revista de negócios, The Africa Report, observou na edição de Agosto-Setembro que "a burocracia de dar entrada em numerosos documentos baseados em papel detém os exportadores e os deixa abertos a pedidos por dinheiro por parte de autoridades alfandegárias corruptas ou excessivamente zelosas". Citando a International Finance Corp., a revista informa que é necessário apresentar uma média de 8.1 documentos baseados em papel para exportar carregamentos de um típico país da África subsaariana, comparado com uma média de 4.5 documentos exigida para países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde).

McHale diz que a empresa dela encontrou o sucesso ao dar um basta na corrupção. "É preciso enviar uma mensagem clara para o mercado de que 'Não vamos participar disso'. Em vez de provocar uma reação tipo 'vocês nunca vão trabalhar nessa cidade', ela diz que essas mensagens comunicam que o GEF / Africa Growth Fund só faz negócios quando o carregamento estiver à bordo do navio.

Do mesmo modo que o continente africano desfrutou proporcionalmente pouco do desenvolvimento global que inflamou as economias de outras regiões em desenvolvimento nas últimas décadas, também tem sofrido menos os efeitos debilitantes da crise financeira mundial - até agora. O salto nos preços das commodities neste ano ajudou as economias do continente rico em recursos. Mas os preços têm acompanhado recentemente a queda da demanda mundial para tudo, do petróleo à platina sul-africana. Da África, McHale e seus sócios da GEF / Africa Growth Fund vêem o restante da crise econômica mundial como "uma nuvem sobre o horizonte que ainda estamos avaliando", como ela coloca. "Pessoalmente, permaneço muito otimista", disse McHale.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(Global Business Perspectives)