Título: Países buscam melhorar pauta de exportações
Autor: Gombata,Marsílea ; Americano,Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/12/2008, Brasil, p. A5

26 de Dezembro de 2008 - O segundo dia do encontro dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o da França, Nicolas Sarkozy, realizado no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, foi pautado pelo anúncio do retorno de Sarkozy ao Brasil em setembro, a criação de um grupo de trabalho formado por ambos os governos para discussões sobre comércio e investimento, voltado à diversificação da pauta de exportações brasileiras em favor de produtos de maior valor agregado, e a constituição da Câmara de Comércio Franco-Brasileira. Também a enfática defesa do Mercosul pelo presidente Lula deu a tônica da entrevista coletiva concedida à imprensa pelos dois mandatários, na última terça-feira.

De acordo com Lula, o aumento do investimento francês no País é revelador do potencial da parceria entre a França e o Brasil. "Em 2007 os capitais franceses no Brasil cresceram 62% alcançando US$ 1,2 bilhão e fazendo da França o nosso quarto principal investidor", afirmou o presidente brasileiro.

Segundo o presidente Lula, no ano passado, o comércio bilateral aumentou exponencialmente, aproximando-se dos US$ 7 bilhões, o que transformou a França em um mercado prioritário para as exportações brasileiras.

Boa parte das declarações do dia centrou-se na visão comum que os dois líderes têm sobre as origens da crise financeira global e a importância da participação mais efetiva de novos atores no encaminhamento de soluções multipolares. "Queremos e devemos trabalhar pela refundação da ordem financeira internacional", afirmou Sarkozy. "Já no próximo encontro do G- 20 em Londres vamos nos unir para defender mecanismos de regulação transparentes e eficazes para sistema financeiro internacional", acrescentou presidente brasileiro.

Para seu colega francês, é fundamental forçar a situação para que o grupo das oito economias mais fortes do mundo, o G-8, transforme-se em um G-14, abrangendo países como Brasil, China, Índia, um membro representante da África e o Egito, representando o mundo árabe. Reprisando declarações feitas por ambos na véspera, os dois presidentes voltaram a afirmar que a conclusão da rodada de Doha é fundamental para evitar a volta do protecionismo.

Durante a entrevista concedida à imprensa, o presidente brasileiro foi questionado sobre as declarações dadas na segunda-feira por empresários ¿ entre os quais constava o seu ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e hoje presidente do conselho de administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan ¿ sobre a relação Brasil e Mercosul em contraposição às relações bilaterais do Brasil com a União Européia. De acordo com o empresário e ex-dirigente, o bloco latino-americano seria uma "bola de ferro no pé" do Brasil, que teria melhor proveito se atuasse à margem do bloco, beneficiando-se diretamente de relações bilaterais.

A resposta presidencial foi enfática. "Alguém que possa ter feito essa afirmação denota uma boa carga de preconceito sobre a relação Brasil e América Latina", disse. Para Lula, o Mercosul é importante não apenas do ponto de vista comercial, mas político. "Temos a obrigação política, econômica, moral e ética de ajudar esses países (da América Latina) a se desenvolverem", afirmou.

Para Lula, a omissão nesses casos é terreno fértil para o aumento da imigração, guerrilhas, convulsões sociais e outras mazelas. De acordo com o presidente brasileiro, a diversificação das relações comerciais do Brasil ¿ que reduziu a as transações com os Estados Unidos de 30% para 14% da balança comercial ¿ é positiva. Para Lula, se o intuito é um mundo de paz, "temos de olhar primeiro para dentro da nossa casa, e o Mercosul é a nossa casa".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Marsílea Gombata e Ana Cecília Americano)