Título: Bolsa exclui Petrobras e Aracruz do ISE
Autor: Filgueiras,Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2008, Capital Aberto, p. B5

São Paulo, 26 de Novembro de 2008 - A nova carteira teórica de ações do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), divulgado ontem pela BM&F Bovespa, surpreendeu o mercado com a saída da Petrobras do portfólio de companhias com práticas sócio-ambientais responsáveis. Procurada, a companhia não comentou a decisão da Bovespa, mas a saída do índice é atribuída à não adesão a práticas de responsabilidade ambiental, especialmente no que se refere à redução do teor de enxofre no combustível.

A notícia atendeu ao pleito de organizações não governamentais e secretarias estaduais do Meio Ambiente junto à bolsa paulista. As entidades encaminharam uma carta ao presidente do Conselho Deliberativo do ISE pedindo que a Petrobras fosse excluída da carteira por descumprir a resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que em 2002 determinou que, a partir de janeiro de 2009, a quantidade de enxofre no diesel vendido em áreas urbanas fosse reduzida em 97,5%. Entretanto, a petrolífera firmou acordo com o Ministério Público Federal.

"O resultado foi ruim para a saúde da população e para o meio-ambiente, mostrando que a empresa não mantém uma atitude socialmente responsável, usando pressão política para operar", acredita Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace. "Se a empresa continuasse no ISE, afetaria a credibilidade do índice e estaria punindo as empresas que realmente cumprem os requisitos."

Sem efeito nas ações

Ao contrário da Aracruz, questionada pelo mercado especialmente no quesito governança corporativa, a exclusão da petrolífera estatal não era prevista mas tampouco deve ter efeito sobre a demanda pelo papel.

Para analistas de investimento, o peso da sustentabilidade recai especialmente sobre empresas menores porque devem apresentar um diferencial para atrair o investidor. "Para uma companhia do porte da Petrobras, não faz tanta diferença. O impacto é mínimo numa ação tão líquida e de interesse do mercado", diz Luciana Pazos, analista da Gradual Corretora. Opinião semelhante tem Kelly Trentin, analista da SLW Corretora, que ressalta que a saída da empresa do índice pode ter algum efeito em carteiras de fundos compostos exclusivamente por ações sustentáveis - caso tenham uma participação significativa do papel no patrimônio.

"Os investidores já conhecem a empresa, por isso o efeito é reduzido. Mas a idéia de sustentabilidade faz parte, cada vez mais, da decisão do investidor, preocupado com a geração de resultados no longo prazo", avalia Antônio Castro, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto (Abrasca).

Mas o diretor do Greenpeace ressalta que os efeitos podem ser gerados por uma eventual exclusão do índice Dow Jones Sustentability, como reflexo do índice brasileiro e da ação das ONGs em âmbito internacional. "A exclusão do ISE vai levantar questionamento, já que a empresa não está qualificada para o índice nacional", diz Furtado.

Estréia de telefônicas

A nova carteira, que incluiu Celesc, Duratex, Odontoprev, Tim, Telemar e Unibanco, é válida a partir do dia 1 de dezembro, vigora até 30 de novembro de 2009 e reúne 38 ativos de 30 companhias que totalizam R$ 372 bilhões em valor de mercado. Esse montante corresponde a 30,7% da capitalização total das 394 empresas com ações negociadas na bolsa, conforme cotação de 21 de novembro. A carteira anterior contava com 40 ações emitidas por 32 empresas de 13 setores totalizando, naquela época, R$ 927 bilhões em valor de mercado.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Maria Luíza Filgueiras)