Título: Blairo Maggi também quer ajuda para não desmatar
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Brasil, p. A4

O governador Blairo Maggi (PR) deu um passo adiante na partilha de futuros créditos para Estados amazônicos. É um movimento curioso para um Estado que disputa com o Pará o topo do ranking do desmatamento no País. Mas se o Amazonas poderá ter, um dia, recursos da comunidade internacional por não ter desmatado (e, desta forma, ter deixado de emitir gases do efeito estufa), o Mato Grosso quer uma parte do bolo para reflorestar, aumentar a eficiência agrícola e da pecuária e não desmatar mais. "Acho que tem que ser feito algo, em termos de pagamento por serviços ambientais, para quem está na fralda da floresta amazônica", disse. "Se você não quer que alguém entre na sua casa, você coloca a cerca antes. Depois que já entraram, fica um pouco complicado."

O Estado do Amazonas tem 97% de suas florestas em pé e base econômica na Zona Franca de Manaus, lembrou Maggi. Comparou, em seguida, com o Mato Grosso, com vocação agropecuária e forte pressão sobre a floresta. "Falam que somos a última fronteira agrícola e para não deixar que as coisas avancem mais para o Norte...", começou, "se as pessoas não tiverem créditos para tornar aquilo mais produtivo, vai ficar difícil." Maggi falou ontem, em Cuiabá, durante o seminário "As mudanças no clima e a agricultura de Mato Grosso: impacto e oportunidades" promovido pelo Instituto Socioambiental (ISA), pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e pelo próprio governo estadual. Em seguida, emendou: "Cada um briga pelos seus direitos."

Maggi deveria vir ao seminário hoje para discutir o plano de mudanças climáticas que o Mato Grosso está preparando. Mas estará em Brasília. Foi, disse, chamado para uma reunião com o presidente Lula e com o ministro Mangabeira Unger. É a continuidade dos encontros entre os nove governadores da Amazônia e o governo federal iniciados há alguns meses, em Belém. "Criamos esta agenda", lembrou, antes de distribuir farpas: "Senão fica como o Fundo Amazônia, que criaram no Rio de Janeiro, em Copacabana, sem nenhum governador da Amazônia. Quando é assim, algo está errado", prosseguiu. O Fundo Amazônia deve ter US$ 100 milhões da Noruega.

No seminário que reúne 170 pessoas entre representantes de povos indígenas, pesquisadores, ambientalistas e pequenos e grandes agricultores, a discussão gira em torno aos espaços que serão criados por um novo mecanismo de crédito, o chamado Redd, sigla que identifica Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação. É um sistema que permitirá que os países industrializados (os maiores emissores de gases estufa) contribuam com recursos para os países tropicais não desmatarem suas florestas. Trata-se de um debate internacional, previsto nas reuniões que buscam alinhavar acordos para o pós-2012, quando termina o primeiro período de compromissos do Protocolo de Kyoto.

Para o ambientalista Stephan Schwartzman, da ONG americana EDF, os créditos Redd podem ser bem interessantes para o Brasil. Nas suas contas, isso pode significar algo próximo a US$ 1 bilhão ao ano. O cálculo é assim: considera-se 20 mil km2 como a média anual do desmatamento dos últimos dez anos e imagina-se que o Brasil consiga desmatar 10% a menos no futuro. O país poderia receber créditos correspondentes ao que deixou de jogar de CO2 na atmosfera pelo o que não desmatou. Ele considerou US$ 11 o preço da tonelada de CO2 equivalente e cruzou com quanto de carbono, em média, existe em um hectare de floresta. "É preciso criar benefícios para quem sempre protegeu as florestas, como os povos indígenas."

Há quem entenda que existe uma discussão anterior aos créditos de Redd para florestas. O pesquisador Marcelo Rocha, da Esalq/USP, lembra que no mercado atual de créditos de carbono, os projetos relacionados a florestas respondem por menos de 1% do total. Isto porque são créditos temporários, que duram de 5 a 60 anos. Eles se relacionam ao carbono que árvores podem reter - e ninguém garante que elas não serão cortadas amanhã. Se este sistema temporário não parece muito sedutor ao mercado de carbono atual, quem garante que seria diferente com os créditos de Redd, questiona Rocha?

A jornalista viajou a convite do ISA e do governo do Estado do Mato Grosso