Título: Após crise, Rural aposta no Nordeste
Autor: Salgado , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2008, Finanças, p. C5

Ricardo Benichio / Valor Kátia Rabello, presidente do Banco Rural: "no Sul e no Sudeste as pessoas confiam muito em números" Após amargar prejuízos, fechar agências e demitir funcionários devido ao impacto do escândalo do mensalão em seus negócios, o Banco Rural agora aposta no Nordeste para se reestruturar e voltar a crescer. Ontem a presidente da instituição, Kátia Rabello, esteve na Bahia para reabrir a agência de Salvador, que havia sido fechada em novembro de 2005. Em dezembro do ano passado, Kátia também visitou a região para marcar presença na reabertura da agência de João Pessoa (PA).

A expansão do crédito consignado em folha de pagamento, negócio gerido pela Simples Serviços Financeiros, empresa do banco, e a demanda de pequenas e médios empresários por financiamentos estimularam, segundo Kátia, a volta do Rural a essas capitais. "Grandes indústrias estão se instalando na região. Eles não são nossos clientes, mas seus fornecedores podem ser", explica a presidente. Hoje, o Nordeste responde por 40% da carteira total do banco.

Por enquanto, apenas essa área está nos planos de crescimento do banco. Kátia diz que Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia e que também já teve uma agência do Rural, pode ser uma opção interessante para a instituição. Ela descarta, contudo, novos investimentos no Sul do país. "As agências dessa região foram fechadas e não está em nossos planos voltar para lá. Pelo menos não agora."

A instalação da agência de Salvador vai melhorar as atividades da Simples, que promove e viabiliza empréstimos consignado com o dinheiro do Rural. Hoje, como não há uma agência na cidade, os clientes precisam ir a outro banco sacar o dinheiro emprestado. Ao mesmo tempo, o Rural carrega o ônus de pagar uma taxa ao banco que realiza esse serviço.

Não foi apenas o aquecimento da economia nordestina que fez com que a instituição escolhesse a região como ponto de partida de sua retomada. Kátia acredita que, como no Nordeste as relações pessoais são muito valiosas, e o Rural, por ser um banco pequeno, sempre permitiu a aproximação entre gerentes e clientes, sua imagem foi menos arranhada. Segundo ela, "no Sul e no Sudeste as pessoas confiam muito em números".

Com a abertura das duas novas agências, em João Pessoa e em Salvador, o Rural passa a contar com 24 agências e 610 funcionários. Ainda é um número muito menor do que antes do que o banco considera o início de sua crise, junho de 2004, quando ocorreu a quebra do Banco Santos. Naquela época, o Rural contava com 76 agências e um quadro de 1.960 funcionários.

Em 2007, o banco voltou ao azul e encerrou o ano com lucro de R$ 26,9 milhões, patrimônio líquido de R$ 340 milhões e operações de crédito nono valor de R$ 1,34 bilhão, acima do R$ 1,16 bilhão de 2006.

"As pessoas esquecem, mas a crise do Banco Santos gerou grandes transtornos para os bancos médios", diz Kátia. Ao falar que as pessoas "esquecem", a presidente refere-se ao fato de a crise pela qual o Rural passou ser sempre atrelada a acusações no escândalo do mensalão. O banco, que teria feito empréstimos ao PT por intermédio do publicitário Marcos Valério, é acusado de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.