Título: Agenda mostra que Dirceu insiste em atuar na coordenação política
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2005, Política, p. A6

A diminuição, mas não a extinção, da influência política do ministro da Casa Civil, José Dirceu, depois da reforma ministerial de janeiro de 2004 e do escândalo envolvendo o ex-assessor Waldomiro Diniz pode ser medida pela sua agenda oficial, divulgada na página do governo na Internet. A relação de encontros nos últimos doze meses mostra que Dirceu insiste em disputar a condução da coordenação política do governo, mas de maneira mais tópica, concentrado em determinados assuntos. O principal deles é a manutenção do PMDB na base do governo. Somente este ano, Dirceu já esteve com o senador Hélio Costa (MG), o deputado Jader Barbalho, o ex-presidente e embaixador do Brasil na Itália, Itamar Franco e o ex-deputado da ala quercista Marcelo Barbieri. O ministro da Previdência Social, Amir Lando, pemedebista ameaçado, esteve com Dirceu duas vezes este ano e outras sete vezes no ano passado, o recorde da Esplanada. Nesta contagem, estão excluídos os despachos de Dirceu com grupos de ministros ou com o presidente. Apenas são consideradas as reuniões individuais que tenham caráter oficial. Também pemedebista, o presidente da Braspetro, Sérgio Machado esteve em ocasiões oficiais reservadas com Dirceu cinco vezes ao longo do ano, o mesmo número de sua chefe, a ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff. No cenário pemedebista, Dirceu trabalhou antes da posse de Lula para que fosse entregue ao partido um grande espaço no ministério, mas terminou desautorizado pelo presidente. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e o presidente da Casa, senador José Sarney (AP), foram fundamentais para impedir a instalação da CPI do caso Waldomiro. Mas Dirceu atuou de maneira decidida para beneficiar Sarney em detrimento de Renan, com o patrocínio da emenda da reeleição das Mesas Diretoras. Outros temas fora do âmbito puramente administrativo também transparecem na agenda. O ministro esteve no mês passado com um grupo de prefeitos do PDT, partido que poderá abandonar a frente oposicionista. Investe também no relacionamento com o empresariado. Esteve no mês passado com a direção da Fiesp e da Abdib e no final de 2004 com as diretorias da Fiemg e da Firjan. Seus interlocutores mais freqüentes são os presidentes da Suzano Holding, Davi Feffer, e da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli. Encontros oficiais apenas com o coordenador político oficial do governo, o ministro Aldo Rebelo ou com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, são raros. Dirceu encontra-se com ambos de maneira quase semanal, mas invariavelmente em reuniões amplas. Com Aldo, foram cinco encontros exclusivos, de fevereiro a setembro do ano passado. Com Palocci, apenas dois. Não constam encontros reservados de Dirceu com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar.