Título: CPI é instalada em clima de embate eleitoral
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2008, Política, p. A6

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional dos cartões corporativos na administração pública federal foi finalmente instalada ontem, sinalizando que pode se transformar em palanque eleitoral para governo e oposição. Entre os requerimentos apresentados, estão vários do DEM e do PSDB convocando para depor a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e um - do deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL) - convocando o governador de São Paulo, José Serra.

A oposição também pede acesso a informações sigilosas de gastos da Presidência da República e propõe que a comissão chame para depor o segurança de Lurian Cordeiro, filha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também é proposta a convocação de servidores próximos ao presidente, como o ecônomo Clever Pereira Fialho, que mais gastou no gabinete da Presidência em 2005, e do assessor do gabinete pessoal da Presidência José Henrique Oliveira, que fez compras em estabelecimentos de luxo de Brasília.

Criada para investigar denúncias de irregularidades na utilização dos cartões corporativos por ministros e servidores do governo, que levaram ao afastamento da ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), a CPI é presidida pela senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que marcou reunião para esta manhã destinada à votação dos requerimentos. Foram apresentados ontem 149 requerimentos, cem deles da oposição.

Quintella sugere que Serra seja convidado a prestar depoimento à CPI para dar explicações sobre o uso do cartões de crédito corporativo em São Paulo. "No Estado de São Paulo, tanto o volume dos gastos quanto o número de cartões corporativos em poder dos funcionários estaduais ultrapassam o do governo federal. Dessa forma, é importante a presença do governador de São Paulo para prestar informações sobre a utilização dos cartões em seu Estado, para que se possa comparar os gastos em São Paulo e no governo federal", disse.

Da parte da oposição, além do requerimento de convocação de Dilma Rousseff, há pedidos de convocação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "A primeira convocação que querem fazer é da ministra Dilma, que não tem qualquer relação com as denúncias. Isso é um absurdo. É obsessão da oposição. Ela quer palanque para a luta política pura", disse o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS).

Os governistas sugerem convidar ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso, como Pedro Parente (Casa Civil) e Martus Tavares e Paulo Paiva (Orçamento e Gestão), responsáveis por decretos regulamentando os cartões.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) pedem que a CPI tenha acesso a informações sobre gastos da Presidência da República e dos ministérios com cartões, protegidos ou não pelo sigilo. Já o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) também apresenta vários requerimentos pedindo informações sobre os gastos com cartões, exceto os considerados sigilosos.

O relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), quer começar os trabalhos ouvindo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o ex-ministro do Planejamento Paulo Paiva (período de 30 de março de 1998 a 30 de março de 99, no governo Fernando Henrique), e o ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage. A CPI tem 90 dias de prazo para funcionar, que termina em 8 de junho.