Título: Com Yahoo, Microsoft pode ser líder no Brasil
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2008, Empresas, p. B3

Se concluída, a bilionária aquisição do Yahoo pela Microsoft - um negócio de US$ 44,6 bilhões que pode ficar ainda maior caso a oferta aumente, como tem sido comentado nos últimos dias - dará à companhia de Bill Gates a liderança da internet no Brasil, empurrando para o segundo lugar o arqui-rival Google.

É o que mostram dados do instituto de pesquisa Ibope/NetRatings. Considerando todos os sites, páginas e serviços das companhias de internet que atuam no país, o Google e a Microsoft apareciam praticamente empatados, em dezembro de 2007, na preferência do público brasileiro. Cada companhia registrava cerca de 18,8 milhões de usuários únicos. Quando combinados, porém, os sites da Microsoft e do Yahoo somam 19,1 milhões de visitantes - já deduzidos os usuários que navegam nos sites das duas empresas. Ou seja, com o acordo, a Microsoft ficaria isolada na liderança.

Isso não quer dizer que as coisas serão fáceis para a Microsoft. A diferença em relação à audiência não é assim tão grande e há muitos pontos que podem interferir na preferência do público. "Por enquanto, é difícil prever o que ocorrerá na prática", diz Alexandre Magalhães, gerente de análise de mercado. "As pessoas tem suas próprias preferências em relação às marcas e podem deixar de usar uma ou outra, dependendo do que acontecer."

Não é só isso. No cenário geral da audiência, a Microsoft leva a melhor. Mas dependendo do segmento, a fusão pode ser mais ou menos relevante, avalia Magalhães. O saldo é positivo, por exemplo, no serviço de e-mail gratuito. "O Hotmail (da Microsoft) e o Yahoo Mail são fortes no Brasil, assim como o Gmail (do Google)", afirma o analista. "Com a fusão, a Microsoft teria um ganho interessante, por volta de uns 30% (da audiência)."

No segmento dos serviços de busca, porém, onde está a fortaleza do Google, a Microsoft ainda terá um longo caminho pela frente. O Google tem 16 milhões de usuários de seu buscador no Brasil, contra 3 milhões do Yahoo e cerca de 200 mil da Microsoft. Resultado: mesmo que o negócio se concretize, a diferença continuará enorme.

O segmento de busca está no centro da disputa on-line por causa dos links patrocinados. Esses pequenos anúncios, que aparecem ao lado das respostas às consultas dos usuários, são a base da fortuna do Google, que encerrou seu ano fiscal mais recente, em 31 de dezembro, com uma receita de US$ 16,5 bilhões.

Na avaliação de profissionais do mercado de mídia on-line, a fusão pode ter reflexos positivos ao criar um concorrente com maior potencial para desafiar o domínio do Google. "Gostaria de ver um mercado mais competitivo", diz Marcelo Sant'Iago, da agência de marketing MídiaClick. "Para o anunciante é complicado depositar todos os ovos em uma mesma cesta."

No Brasil, a possível união entre a Microsoft e o Yahoo pode ter um impacto menor do que em outros países no flanco da publicidade on-line, afirma Sant'Iago. Embora já tenha lançado seu próprio software de distribuição de links patrocinados em alguns países, por aqui a Microsoft continua usando a tecnologia do Yahoo, o que facilitaria a integração dos negócios.

A publicidade na internet vem crescendo, no país, a taxas mais rápidas que o bolo publicitário em geral. Em média, enquanto o mercado avança 7%, os anúncios on-line crescem 20%. Em outubro do ano passado, o volume de investimentos na publicidade on-line já havia superado os gastos feitos em todo o ano de 2006, compara Sant'Iago. E isso considerando que os números do Projeto InterMeios, o principal termômetro do mercado, ainda não incluem os dados do Google.

O que pouca gente sabe ou se recorda, diz o publicitário, é que até 2002 o mecanismo de busca usado pelo Yahoo era o do Google. "O Yahoo teve a oportunidade de comprar o Google, mas não o fez."

Apesar de sua larga vantagem na publicidade, porém, o Google tem vários desafios, além da Microsoft. Novas tecnologias estão surgindo em outras companhias, como um software que ajuda a encontrar sons, como palavras ditas em músicas e filmes. "A internet é um meio muito rápido. A empresa que é líder hoje pode não sê-lo em cinco anos", diz Magalhães, do Ibope/NetRatings.