Título: Alta de alimentos tira fôlego do varejo em outubro
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2007, Brasil, p. A5

Depois de nove meses de altas consecutivas, as vendas no comércio varejista em outubro caíram 0,2% em relação a setembro, na série livre de influências sazonais. A pequena queda, contudo, não deve significar uma interrupção na trajetória positiva do varejo em 2007. Os analistas viram o resultado como uma acomodação, após o crescimento robusto dos meses anteriores.

Além disso, o resultado foi muito influenciado pelo recuo de 1,6% registrado pelo segmento hipermercados e supermercados, que tem peso de 30% na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta do preço dos alimentos é uma das possíveis causas para a queda no setor. Outros segmentos importantes tiveram altas fortes, como o de móveis e eletrodomésticos, cujas vendas subiram 1,3% em relação a setembro.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, diz que a queda de 0,2% não sinaliza reversão da tendência de expansão do varejo em 2007. "O recuo foi muito pequeno, e é normal que isso ocorra depois de tantos meses de alta", afirma ele, destacando que, na comparação com outubro do ano passado, as vendas do comércio varejista cresceram 9,6% - o mesmo percentual acumulado no ano. O comércio varejista ampliado - que inclui os setores de veículos e motos, partes e peças e material de construção - teve alta de 16,4% sobre outubro de 2006. "O segmento de material de construção, que vinha crescendo a taxas de 9% a 10% nos meses anteriores, registrou aumento de 17,1%", nota Vale.

A economista Giovanna Rocca, do Unibanco, considera o resultado de outubro uma "volatilidade normal" da série mensal. "Não é um indicador de tendência. Há evidências de que o Natal deve ser muito positivo para o comércio", acredita ela, ressaltando que os segmentos de tecidos vestuários e calçados e bens duráveis (como automóveis e eletrodomésticos) seguem em crescimento firme. As vendas do segmento de veículos e motos, partes e peças subiram 2,8% na comparação com setembro, na série livre de influências sazonais, e 29,9% em relação a outubro do ano passado. Com um mercado de trabalho forte, e a ampla oferta de crédito, as perspectivas para o comércio continuam bastante positivas, avalia Giovanna.

Para Vale, é possível que as vendas do varejo fechem o ano com aumento na casa de 10% em relação a 2006, o que será o recorde na série da pesquisa do IBGE, que começou em 2000. O melhor resultado anterior foi em 2004, quando houve crescimento de 9,2%. "O Natal deverá ser bom para a indústria e o comércio. Tudo indica que vão entrar com os estoques bastante apertados no ano que vem."

O Indicador Serasa do Nível de Atividade do Comércio sugere que as vendas no Natal tendem a ser positivas. No período de 10 a 16 de dezembro de 2007, houve uma alta de 6% nas vendas do varejo, quando comparadas ao período equivalente de 2006 em todo o país. Considerando as vendas do comércio apenas na cidade de São Paulo, no mesmo período, houve um crescimento de 5,3%. No fim de semana, o comércio paulistano teve aumento mais expressivo, de 6,9% sobre o mesmo período do ano passado. No país todo, a alta de vendas no fim de semana foi de 5,5%.

Para o coordenador da PMC, Reinaldo da Silva Pereira, a alta dos preços dos alimentos foi fundamental para explicar a queda de 1,6% em outubro do segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. As cotações mais altas teriam inibido compras.

"O resultado negativo verificado nesse setor ocorreu por conta do aumento dos produtos alimentícios. O resultado geral mostra uma acomodação, e não significa que exista uma tendência de queda continuada", diz ele. Vale lembra que, apesar do recuo no indicador em relação setembro deste ano, houve crescimento de 5,6% quando a comparação é feita com outubro de 2006. (Com agências noticiosas)