Título: Companhias transformam folia em negócios
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2005, Empresas &, p. B4

A soja ultrapassou as fronteiras do cerrado e virou destaque na Marquês de Sapucaí no desfile de domingo. Com o enredo "De sol a sol, de sol a soja - Um negócio da China!", a Tradição levou para a avenida um pouco da história do grão que transformou o Brasil num dos maiores produtores agrícolas mundiais. O enredo cativou gigantes do setor como a Case New Holland (CNH), do grupo Fiat, e a Dow Química, subsidiária do grupo americano Dow Chemical, que investiram juntas quase R$ 1 milhão no carnaval da escola. A idéia de converter a história da soja em enredo surgiu há dois anos durante a feira Agrishow Cerrado, em Rondonópolis, conhecida como a capital da soja. Numa conversa com os diretores da Dow Química, da CNH e de outras empresas do setor, o governador do Estado do Mato Grosso, Blairo Maggi, levantou a possibilidade de patrocinar uma escola de samba que explorasse o tema, o que veio a acontecer este ano, quando a Tradição procurou os empresários em busca de recursos. Maggi teria intermediado as negociações mas, segundo fontes do setor, preferiu não associar seu nome ao carnaval e desistiu do patrocínio. Foto: Leo Pinheiro/Valor

Waldomiro Arantes Filho, da Aker Promar, um dos patrocinadores da Vila Isabel Na tentativa de realinhar a sua estratégia de marketing e reforçar a marca perante o público, a CNH, fabricante de máquinas agrícolas, investiu R$ 600 mil no carnaval da escola carioca. "Nosso objetivo é tornar a marca, já consolidada entre os brasileiros do campo, mais conhecida do público urbano", disse o diretor comercial da CNH para a América Latina, Francesco Pallaro. Como a Liga das Escolas de Samba (Liesa) proíbe propaganda na avenida, a Tradição lançou mão de referências indiretas à CNH. Trouxe para a Marquês de Sapucaí uma réplica da CS660, a maior colheitadeira da New Holland, lançada no ano passado, e uma ala formada por 120 funcionários da fábrica de Curitiba. "Não interferimos no enredo. O carro é uma réplica de nossa colheitadeira, mas não faz nenhuma alusão à empresa", disse o diretor de comunicações da CNH, Milton Rego. Nos camarotes e frisas, onde a propaganda dos patrocinadores é permitida, prevaleceu o marketing de relacionamento. Nas duas noites de desfiles, clientes e fornecedores foram o centro das atenções e receberam camisetas, bonés e até sessões de massagem. Foto: Leo Pinheiro/Valor

Landim, presidente da BR Distribuidora, que desfilou pela Mangueira A Petrobras, além de patrocinar o desfile da Mangueira, em parceria com a Eletrobrás, também comprou um camarote para funcionários e clientes. Pelo espaço exclusivo, passaram além de diretores da estatal e do presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim, o secretário de Comunicação e Governo, Luiz Gushiken, o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, e uma caravana de funcionários da Petrobras Argentina. Anfitrião da festa, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, desfilou na escola patrocinada. "Valeu a pena cada centavo dos R$ 3,5 milhões que a Petrobras investiu na Mangueira. Só quem está aqui sabe a sensação que é desfilar", disse. O empresário Maurício Mattos, dono do camarote Rio, Samba & Carnaval descobriu há 33 anos o filão de intermediar a venda de camarotes para grandes empresas. A estratégia é convidar executivos que nunca foram ao sambódromo para o camarote. Maravilhados com o espetáculo, muitos deles acabam comprando um espaço próprio para fazer o marketing de relacionamento das suas companhias no ano seguinte. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES), Guido Mantega, compareceu ao camarote da Rio, Samba & Carnaval, no domingo. Em conversa com o Valor, ele afirmou que o resultado oficial do banco sai nesta semana e brincou ao dizer que não estava ali financiando ninguém. "Hoje não é dia de trabalho. Não há financiamento do banco aqui." Atraídos pela expectativa de encomendas de 42 navios para a Petrobras, executivos da indústria naval marcaram presença no carnaval carioca. Patrocinaram a Vila Isabel, os estaleiros Mac Laren, Fels Setal, Mauá-Jurong e Aker, controlado pelo grupo norueguês Aker Yards. O vice-presidente do estaleiro Aker Promar, Waldomiro Arantes Filho, foi um dos mais animados no desfile.