Título: Brasil Ferrovias já busca investidores para suas concessões
Autor: Vanessa Adachi, Ivo Ribeiro e Franscico Góes
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2005, Empresas &, p. B1

As negociações do pacote de reestruturação da Brasil Ferrovias, holding que controla três concessões ferroviárias, tiveram que ser reabertas para incorporar mudanças significativas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal) vão fazer um aporte extra de recursos da ordem de R$ 300 milhões. Com isso, o plano de capitalização, que havia sido acertado em R$ 954 milhões no fim do ano passado, vai agora a cerca de R$ 1,2 bilhão. Esse novo acerto está previsto para ser concluído até o fim de fevereiro Ao mesmo tempo, os controladores do grupo resolveram abrir negociações com potenciais interessados em adquirir os dois blocos de concessões: de um lado a Novoeste, com a chamada bitola estreita, e de outro a Ferronorte e Ferroban, que formam um corredor de bitola larga. Funcef e Previ, que detêm a maior parte do capital, deram mandato à consultoria Angra Partners para conversar com esses interessados. A Angra já conduz a reestruturação do grupo. Algumas conversas já aconteceram nas últimas semanas e os principais interlocutores têm sido MRS Logística e América Latina Logística (ALL). Fontes do setor apontam ainda Vale do Rio Doce como potencial interessada e grupos estrangeiros. A idéia é sanear a empresa primeiro, concluindo sua reestruturação, e, num segundo momento, admitir os novos controladores ou sócios. Guilherme Lacerda, presidente da Funcef e do conselho de administração da Brasil Ferrovias, confirmou ao Valor as negociações com o BNDES para o aporte complementar e a contratação da Angra para "ouvir propostas de potenciais sócios estratégicos" para cada um dos corredores. Ele reforçou que a entrada de investidores só ocorrerá numa segunda etapa. "Ao fazer essas injeções de recursos, queremos recuperar os pesados investimentos feitos nas ferrovias até agora", disse Lacerda. "A empresa tem problemas de regulamentação, acesso ao porto de Santos, de gestão e financeiros, mas dispõe de potencial para ser um importante negócio." O filé da Brasil Ferrovias é seu corredor de bitola larga, responsável pelo escoamento da safra de grãos do Centro-Oeste. A Ferronorte corta os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso Sul e atinge o porto de Santos pelos trilhos da Ferroban pelo Estado de São Paulo. Lacerda enfatiza que a Novoeste, com investimento, ganha atrativo. Tudo indica que os investidores brigarão pelo corredor da Ferronorte, que deverá ficar dentro de uma nova holding com a Ferroban, separada de Novoeste. É o que atrai a MRS e até mesmo a ALL, que na sua concessão opera em bitola estreita, mas também prefere a Ferronorte. A avaliação de investidores é que a Novoeste, sozinha, não é atrativa por causa do mau estado de conservação de suas vias - necessitaria muito dinheiro para recuperá-la e só se viabilizaria se o mesmo comprador adquirisse o corredor de bitola larga para extrair daí os recursos necessários. No fim de outubro, BNDES e Brasil Ferrovias assinaram o protocolo de intenções da reestruturação financeira. O documento tinha validade até 31 de dezembro. Nesse prazo não foi possível fechar o acordo. A engenharia financeira esbarrou em uma negativa do Tesouro Nacional ao pedido de repactuação dos débitos da Ferroban e da Novoeste, por conta de obrigações da concessão em atraso. O não-pagamento de arrendamento pelas duas ferrovias montam R$ 150 milhões da Novoeste e R$ 160 milhões da Ferroban. Pelo acordo em elaboração com o BNDES, Funcef, Previ e o banco vão aportar cada um entre R$ 90 milhões e R$ 100 milhões. No caso do BNDES, serão na forma de debêntures das duas empresas. No acordo anterior, o banco e a holding acertaram aporte de R$ 540 milhões em capital novo na Ferronorte e na Novoeste; capitalização de créditos antigos em ações das duas empresas, no total de R$ 414 milhões. Desse total, o BNDES iria aportar R$ 654 milhões (R$ 405 milhões em capital novo e R$ 249 milhões de conversão de parte da dívida da Ferronorte, que somava R$ 1,6 bilhão). Previ e Funcef acordaram em pôr R$ 135 milhões na Novoeste e, com os demais acionistas, converter mútuos e debêntures em capital. Com o novo acerto, a participação do BNDES no capital da a Ferronorte passará de 31% previsto antes para cerca de 40%. Outra parte importante da reestruturação passa pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que deverá aprovar uma alteração no traçado da Novoeste.