Título: Brasil deve liderar exportações à China
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Empresas, p. B8

Sergio Zacchi / Valor Ming Chung Liu: "Expansões de capacidades em curso no Brasil e Uruguai vão ser facilmente absorvidas pela China" O Brasil deve se tornar, em três anos, o maior exportador de celulose à China, desbancando a Indonésia. A previsão foi feita por Ming Chung Liu, principal executivo da Nine Dragons Paper, a maior fabricante de papéis da China.

"A China usa cada vez mais a celulose de eucalipto que até pouco tempo ninguém usava. As expansões de capacidades em curso no Brasil e Uruguai vão ser facilmente absorvidas pela China", afirmou Liu, nascido em Taiwan e que declara ter coração brasileiro por ter vivido 15 anos no país, onde se formou como dentista.

A Nine Dragons, criada no início dos anos 90 por Liu e a mulher, Yan Cheung, não é uma grande compradora de celulose de eucalipto do Brasil. Na verdade, sua principal matéria-prima é o papel reciclado. Ela é uma grande fornecedora de caixas de papel às grandes empresas, como Nike e Sony, fabricantes de bens de consumo na China. No entanto, Liu deixou uma mensagem positiva aos produtores brasileiros: "A Nine Dragons comprará mais celulose do Brasil."

Em março de 2006, uma bem-sucedida abertura de capital tornou Liu e sua mulher em novos bilionários da China. Hoje, a Nine Dragons vale mais de US$ 14 bilhões. A empresa aproveitou-se do grande boom do mercado chinês dos últimos anos. Capitalizada, a Nine Dragons acelera sua expansão, aumentando sua capacidade de 5,3 milhões de toneladas para mais de 10 milhões de toneladas até 2009 - um número superior a toda a capacidade de produção da indústria de papel do Brasil.

"A China sempre foi culpada por ter comprado muito, elevando os preços de tudo", disse Liu, que participou ontem, em São Paulo, do 40º Congresso da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP). "Não sou culpado se a celulose chegar a US$ 1 mil por tonelada. Vejo que o senhor Aguiar está sorrindo", afirmou, indicando o presidente da Aracruz, maior fabricante de celulose do país, Carlos Aguiar, sentado na platéia. "Não gosto de ver a celulose a US$ 1 mil por tonelada, mas a US$ 950 podemos aceitar", disse. Hoje, os preços da celulose oscilam entre US$ 690 e US$ 750 por tonelada.

Liu disse que a demanda na China continua vigorosa, ressaltando a necessidade do país consumir, por ano, 2,5 milhões de toneladas adicionais. Em 2006, o consumo de celulose cresceu 17%. "Este ano, o número deve ser o mesmo". Ele não crê na tendência de que a produção de celulose da própria China - que indicou alta de 41% no em 2006, para 5,2 milhões de toneladas - irá afetar o desempenho das exportações brasileiras da matéria-prima. As importações de celulose cresceram apenas 4,87%.

Liu afirmou que a China projeta mais 8 milhões de toneladas de capacidade em celulose. "Se tudo der certo, não vou ver o senhor Aguiar sorrindo", disse. Ele aposta, contudo, que a maioria dos projetos não deve sair do papel por causa de limitações como terra, falta de mão-de-obra especializada e questão ambiental. A seu ver, 60% a 80% das capacidades - fábricas sem escala competitiva ou clandestinas - serão fechadas. "Elas gastam muita energia e vendem sem notas."